Sete Brasil deve receber aporte de US$ 1,2 bilhão de novos investidores

  • 12/06/2015

Com o aumento de capital, a Sete consegue com novos investidores um total de US$ 5,2 bilhões, já que também levantou US$ 4 bilhões em novos financiamentos. O plano já foi aprovado pelos credores e pelos acionistas da empresa, embora a redação final ainda não tenha sido assinada. Também a Petrobras já deu o sinal verde, há cerca de duas semanas.

Ficou acertado que a Sete Brasil vai seguir com 19 das 29 sondas planejadas lá atrás, na criação da companhia. Esse era o topo das expectativas do intervalo aprovado pelos acionistas e pelos credores, em maio – de 12 a 19 sondas.

O novo tamanho da Sete Brasil foi pensado para preservar o capital investido pelos sócios da empresa. “Pode haver alguma perda se os financiamentos das sondas saírem mais caros do que se imagina? Pode. Mas a tendência é que o capital seja preservado”, disse a fonte ao Valor.

O retorno do capital investido, entretanto, certamente será muito menor do que o inicialmente previsto. Entre os principais acionistas estão os bancos BTG Pactual, com a maior exposição de todos, e o Santander, os fundos de pensão Funcef (Caixa) e Petros (Petrobras) e a própria Petrobras. Se tudo sair como se desenha, os bancos também devem ser preservados de calotes.

Um dos principais acionistas da Sete Brasil, criada para intermediar a construção de 29 navios-sonda para a Petrobras, está na Ásia negociando aporte de capital de US$ 1,2 bilhão na companhia. Este é o valor que um grupo de novos investidores está disposto a aportar na companhia.

A parte delicada em negociação neste momento é quanto do capital da Sete esse valor vai representar, uma vez que significa a diluição dos atuais sócios da empresa. Depende desse acordo se os atuais acionistas colocam ou não recursos adicionais no negócio. Idealmente, eles não precisariam acompanhar e seriam diluídos.

Pelo que se costurou até agora, das 19 sondas que restam, quatro (a cargo do estaleiro Enseada) poderiam ser transferidas para uma nova empresa que terá Odebrecht e o estaleiro japonês Kawasaki como sócios. Dessa forma, essa nova empresa é que buscaria o financiamento para as sondas, provavelmente com o JBIC, banco de desenvolvimento japonês.

Caso a negociação para a transferência das quatro sondas do Enseada chegue a bom termo, a Sete consegue retirar cerca de US$ 400 milhões em dívidas de seu balanço.

As sondas a serem construídas pelo estaleiro ERG, situado em Rio Grande (RS) terão a resolução do financiamento postergada – embora três das 19 serão feitas lá. “Antes, o ERG terá de resolver sua questão societária, com provável saída da Engevix “, disse outra fonte.

Com essa reorganização, do novo número de navios-sonda, ficaria pendente o financiamento de nove delas, num total de US$ 7 bilhões. A empresa já conta com um empréstimo-ponte de US$ 3,6 bilhões que os bancos credores concordaram em transformar em créditos de longo prazo. A cifra atrelada às nove sondas é um pouco inferior a esse valor.

Segundo fonte próxima às negociações, as conversas avançaram nas últimas semanas especialmente porque a Petrobras participou de reuniões importantes, mostrando o interesse nos projetos – ponto de grande insegurança inicialmente entre credores antigos e potenciais novos investidores.

Um executivo próximo das discussões disse que esse arranjo ainda é “incipiente” e que tudo depende das negociações com os bancos credores no Brasil. “Os japoneses não vão entrar se os bancos [no Brasil] não assumirem o risco de crédito”, afirmou.

Nas próximas semanas, as instituições financeiras e de fomento que estão prontas a fornecer os US$ 4 bilhões devem submeter o negócio aos respectivos comitês de crédito. Na prática, significa que a questão está avançada, mas não finalizada. A expectativa, conforme apurou o Valor, é que os contratos sejam assinados apenas em outubro.

Além disso, das 19 sondas que serão levadas adiante, quatro serão financiadas pelos estaleiros BrasFels e Jurong, de Cingapura, que custearão duas cada um. Ao término, a Sete levantará recursos de longo prazo para pagar os estaleiros e assumir as embarcações.

Ao assumir, de imediato, apenas 15 sondas, o investimento total previsto pela Sete Brasil cairá para cerca US$ 12 bilhões. Inicialmente, quando o projeto consistia de 29 sondas, o investimento previsto era de US$ 25 bilhões.

Na conta final, faltaria, portanto, o financiamento adicional de até US$ 4 bilhões. Do total das 19 sondas que devem ser finalizadas, apenas 13 não sofrerão paralisação – as que estão com Brasfels e Jurong.

O acordo entre a Sete e a Petrobras, para reduzir o número de sondas, precisa ser oficialmente aprovado pela diretoria da estatal. Só então irá aos bancos credores.

Há grande probabilidades de que o acordo definitivo sobre o financiamento das sondas não seja fechado até 30 de junho, quando vence o período acordado com seis bancos credores que aceitaram prorrogar por 90 dias as dívidas de curto prazo da companhia, no valor de US$ 3,6 bilhões. “Uma solução intermediária deve ser alcançada nesse prazo e um acordo final deve sair no segundo semestre”, informou uma fonte. A expectativa é que seja analisado pelos diretores da estatal no dia 22 de junho.

A Caixa e o Banco do Brasil sinalizaram que também podem fazer novos empréstimos, junto com instituições chinesas e de outros bancos privados estrangeiros que devem compor os US$ 4 bilhões novos.

A negociação com os bancos credores passa por transformar parte da dívida de curto em longo prazo. Mas os bancos terão que receber parte do pagamento.

Cabe também à diretoria da Petrobras aprovar um novo cronograma de construção das sondas, uma vez que os prazos originais de entrega das unidades ficaram comprometidos a partir da paralisação nas obras de várias unidades. A parada na construção foi provocada por atrasos nos pagamentos aos estaleiros pela Sete, a partir de novembro.

Em maio, a Sete Brasil negociou pontos do plano de reestruturação da empresa com as áreas técnicas da Petrobras. As discussões abrangeram a redução no número de sondas a ser encomendadas, as tarifas e os prazos de afretamento das sondas e a possibilidade de a empresa ser a operadora das sondas. Na questão das tarifas de afretamento, a Petrobras sinalizou que não pretende mexer nos valores estabelecidos.

A Sete Brasil queria estender os prazos dos afretamentos de 15 para 25 anos, o que não foi aceito pela Petrobras. A estatal não se posicionou sobre o pedido da Sete Brasil para a empresa ser a operadora das sondas. O tema depende de negociações com os atuais operadores. Cada sonda é constituída na forma de uma sociedade de propósito específico (SPE), com participação de várias empresas. É possível que uma solução seja uma parceria entre os atuais operadores e a Sete.

Fonte que acompanha as discussões frisou que todos terão que abrir mão de alguma coisa para que o plano de reestruturação fique de pé. “A premissa é preservar o capital colocado pelos acionistas, tentando criar condições de retorno [para esse capital] e também viabilizar aportes novos”, disse a fonte. Os atuais acionistas aportaram R$ 8,3 bilhões na empresa até o momento.

Fonte: Valor Econômico – Graziella Valenti, Vanessa Adachi e Francisco Góes
12/06/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: , |