A indústria brasileira do aço enfrenta sua maior crise desde 2009, quando foi atropelada pela debacle do banco Lehman Brothers, nos EUA, em setembro de 2008, que arrastou toda a economia mundial. Na época, teve de fechar seis altos-fornos, mas praticamente não foi obrigada a demitir. Agora, acaba de registrar recuo nas vendas interna, em maio, acima de 22% sobre o volume de um ano atrás, e o consumo aparente do mercado no país, somando importação com despachos locais, teve retração de quase 23%.
Neste momento, o setor já computa 11,2 mil demissões de funcionários desde junho de 2014. Além disso, 1,4 mil trabalhadores – a maioria da fabricante de tubos Vallourec-Sumitomo, em Minas, entraram em regime de “layoff” (suspensão temporária de contratos de trabalho). A Usiminas desativou dois de seus altos-fornos no início do mês.
Segundo ele, o problema pode se agravar ainda mais se não houver medidas para toda a cadeia produtiva da indústria de transformação do país. “Em 2009, o mundo inteiro, exceção de China e Índia, mergulhou numa crise enorme. Agora, o Brasil vive, devido a seus problemas, uma crise grande, enquanto outras economias, como EUA e União Europeia, vêm apresentando desempenho bem melhor”, avalia Lopes.
Com a crise de consumo nas indústrias automotiva – projeção de 20% neste ano -, de bens eletrodomésticos, na construção civil (forçada a reduzir lançamentos), e de máquinas e equipamentos, a siderurgia opera no acumulado de 12 meses, até o fim de maio, com utilização abaixo de 70% da capacidade instalada de produção. As siderúrgicas estão aptas a fabricar 49 milhões de toneladas de aço bruto por ano. Fizeram 34 milhões.
As principais produtoras são Usiminas, CSN, Gerdau (que paralisou usinas no ano passado), ArcelorMittal, Votorantim, V & M (tubo), Aperam e ThyssenKrupp CSA.
Para Lopes, o setor enfrenta uma grave situação conjuntural, diante da retração da economia do país, com PIB negativo e impacto sobre setores que consomem mais de 80% de aço no país. De outro lado, problemas de ordem estrutural, como câmbio desalinhado em relação aos concorrentes diretos (China, Rússia, Turquia e outros países), energia mais cara do mundo, carga tributária pesada e juros elevados.
“A indústria de transformação no Brasil definha a cada dia, há vários anos, e, nos últimos meses o governo mostra-se mais preocupado com o ajuste fiscal, sem olhar o problema da indústria”, afirma. De 25% de peso no PIB do país, já está na faixa de 9% a 10%.
Segundo afirma, não ha competitividade para exportar e muito menos para barrar importações, que crescem mês a mês, principalmente da China, tanto diretas como indiretamente (bens como autopeças, que levam aço). Resultado disso, aponta, é que o setor adiou investimentos de US$ 2,1 bilhões. Pelos cálculos do Aço Brasil, com isso deixaram de ser criados 7,2 mil empregos diretos. Vários projetos foram congelados, caso da ArcelorMittal, em João Monlevade (MG) – unidade de alto-forno e aciaria – e em São Francisco do Sul (SC), uma nova linha de aço galvanizado para setor automotivo. No total, existem 21 equipamentos encaixotados, entre eles fornos laminadores.
Ontem, o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), dedicado ao mercado de aços planos, decidiu revisar sua projeção de vendas para este ano após análise da crise da siderurgia. Passou de retração de 5% para 12%. Se as projeções para junho se confirmarem, a rede prevê recuo de vendas de 18,7% neste semestre, disse Carlos Loureiro, presidente do Inda.
Lopes informou que e Aço Brasil e quatro outras entidades da cadeia de transformação – Abimaq, Sindipeças, Abitam e Sicetel – pediram uma audiência urgente ao Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para expôr a situação do setor. “É a maior crise da siderurgia brasileira em sua história”, arremata.