O corte de investimentos da Petrobras não surpreendeu os representantes de entidades ligadas à indústria naval do Rio Grande do Sul. Isso porque a redução dos aportes deve comprometer as novas encomendas, mas em pouco mudará o atual cenários dos estaleiros da QGI e Ecovix, em Rio Grande, e do Grupo EBR, em São José do Norte. Hoje em dia, o setor, que já empregou mais de 23 mil pessoas no Estado, na produção de seis plataformas, em 7 anos, conta apenas com 8 mil trabalhadores. No entanto, outras nove encomendas (duas delas com contratos ainda em discussão) somam investimentos iniciais já contratados no valor de US$ 7,55 bilhões.
Os projetos atuais serão responsáveis, na avaliação de dirigentes do setor, pela manutenção das atividades em Rio Grande e São José do Norte por pelo menos mais três anos – período que pode coincidir com a retomada do fôlego da Petrobras. Essa é a opinião do vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Naval (Sinaval), Eduardo Krause. “Ninguém pode dizer que essa situação não era esperada. Por outro lado, quem se preparou vai enfrentar melhor a crise, que não será tão longa. No caso específico de Rio Grande e São José do Norte, é claro que será sentido, principalmente no que tange à mão de obra. Mas o importante é que temos contratos em execução, diferentemente do que ocorreu em outras duas crises”, defende.
A visão é compartilhada pelo coordenador do Comitê de Competitividade em Petróleo e Gás da Fiergs, Marcus Coester. “O anúncio fica bastante dentro do que se esperava. A novidade é, justamente, a reestruturação da Petrobras. Que haveria cortes de investimentos e vendas de ativos, isso já era esperado. No que se refere ao Rio Grande do Sul, o foco central da empresa na exploração e produção, mesmo que com cortes, manterá ativa toda a lógica do processo e de uma rica cadeia produtiva já instalada no Estado”, afirma.
Neste contexto, no município de São José do Norte, a EBR já teve, pelo menos, oito descargas de barcaças para iniciar a construção dos módulos da P-74, orçada, inicialmente, em US$ 750 milhões. Aproximadamente 1,5 mil trabalhadores estão em atividade enquanto aguardam a chegada do navio casco da P-74, prevista para a segunda metade do próximo ano.