BRASÍLIA – A indústria brasileira terminou o primeiro semestre de 2015 com a produção em queda, menor número de empregados e com maior ociosidade em suas plantas. De acordo com a pesquisa Sondagem Industrial, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o índice de produção em junho ficou em 40,3 pontos, recuo em relação aos 41,7 pontos de maio. Pela metodologia da pesquisa, números abaixo de 50 pontos significam queda e, quanto menor o índice, maior a redução.
A utilização da capacidade instalada caiu para 65% em junho, ante 66% em maio. É o menor patamar da série, que teve início em janeiro de 2011. Em junho, a pesquisa também indicou queda no número de empregados, com o índice em 40,7 pontos, 0,7 ponto porcentual abaixo do registrado em maio. “Em um quadro tão amplamente negativo, torna-se imperativo a tomada de medidas que possibilitem a redução dos custos da indústria e consequente aumento de sua competitividade”, destaca nota da CNI.
Apesar das sucessivas quedas na produção, os estoques continuam subindo. Em junho, a alta foi de 0,9 ponto, para 52,1 ponto. Os estoques estão acima do nível desejado, com o indicador que mede o estoque efetivo planejado em 53,1 pontos. Nesse cenário, a situação financeira das empresas se deteriorou no segundo trimestre, o que a CNI atribui à baixa atividade econômica, aliada às políticas fiscal e monetária contracionistas.
O indicador de situação financeira ficou em 39,3 pontos e o do lucro operacional em 33,4 pontos- números abaixo de 50 refletem insatisfação. O indicador de facilidade de acesso ao crédito também ficou abaixo desse patamar (31,6 pontos). Os preços de matéria-prima continuam em alta no segundo trimestre (64,7 pontos), mas em ritmo menor do que no primeiro trimestre (71 pontos).
Problemas
Para os empresários consultados pela CNI, o maior problema no momento é a elevada carga tributária, reclamação de 44,8% dos entrevistados. “Esse resultado sugere que as recentes medidas do governo federal para o cumprimento do ajuste fiscal e as discussões sobre o tema teriam aumentado ainda mais a preocupação com os efeitos deletérios da tributação sobre as empresas”, afirma a confederação, em nota. Além disso, a demanda interna insuficiente é problema para 44,2% dos entrevistados. Foram destacados ainda os custos com energia (37,5%) e matéria-prima (21,1%) entre as dificuldades enfrentadas pelo setor.
FGV
Em outra pesquisa também divulgada ontem, dessa vez da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a confiança da indústria avançou 0,6% na prévia de julho ante o mês anterior. Mas o resultado está mais para uma “declaração de otimismo” vinda de alguns setores industriais do que um sinal de retomada firme. Há ainda nova piora no ambiente político, e essas incertezas podem afetar o ânimo dos empresários.
“O resultado ainda é muito discreto para ser comemorado. Ainda não houve uma virada na rota negativa da confiança”, afirmou o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo. Em junho, a confiança cedeu 4,9% em relação ao mês anterior, atingindo o menor nível da série histórica, iniciada em abril de 1995.
A avaliação sobre o momento atual continua ruim e caiu 2% em julho ante junho, aponta a prévia. Segundo o superintendente, as empresas ainda avaliam o momento atual como negativo, diante dos estoques elevados e da demanda fraca.