Por conta das novidades, o prazo inicialmente estimado para conclusão da reestruturação – fim de outubro – não é mais factível. A expectativa é que tudo fique pronto até o fim do ano. Não falta complexidade à execução de tudo. A Sete Brasil foi criada com objetivo de construir e administrar os contratos de operação de 29 navios-sondas destinados à exploração do pré-sal. Um empreendimento de pouco menos de US$ 26 bilhões.
O projeto entrou em crise após a decisão do BNDES, no fim do ano passado, de suspender o crédito previsto para a companhia – após ela já ter contratado US$ 3,6 bilhões em empréstimos-ponte. Além disso, ficou decidido que das 29 sondas planejadas – e que seriam construídas num total de cinco estaleiros – serão efetivamente terminadas apenas 19 – e em quatro estaleiros. Desse novo total, apenas 15 serão de propriedade da Sete Brasil, ao fim de todas as redefinições. No estaleiro Enseada, dividido entre Odebrecht, Kawasaki, UTC e OAS, a sócia japonesa deve assumir as quatro unidades que serão concluídas (as negociações ainda estão em andamento).
O BTG Pactual estava trabalhando ainda na obtenção de uma capitalização para a Sete Brasil e havia encontrado um interessado comprometido tanto em trazer os recursos como em operar os navios. Diversos outros grupos também estavam avaliando a possibilidade. Mas a Petrobras recusou a concentração da operação das sondas.
O desafio da Sete Brasil aumentou, por conta de exigências feitas pela diretoria da Petrobras na semana passada. No lugar de um novo sócio estratégico para capitalizar o negócio em cerca de US$ 700 milhões, a empresa terá agora de dividir esse tíquete entre possíveis três novos acionistas que atuem neste segmento.
Essa é a consequência prática à recusa da diretoria da estatal de que os 15 navios-sondas que serão de propriedade da Sete Brasil, após a reorganização das finanças do negócio, sejam operados por uma única companhia especializada. A Petrobras quer dividir os contratos entre três operadores. Desde então, a Sete Brasil e, em especial, o BTG Pactual, maior dos acionistas, trabalham numa solução para a empreitada. A questão da dívida já foi encaminhada, com a obtenção de um volume equivalente a US$ 4 bilhões em novos financiamentos.
Para terminar todas as 15 unidades, a Sete Brasil precisa levantar US$ 1,2 bilhão em capital, em quatro anos. Neste momento, dada a situação delicada que diminui seu valor, pretende fazer um aumento de capital da ordem de US$ 700 milhões – para minimizar a diluição dos atuais acionistas. Os demais US$ 500 milhões serão deixados para o futuro, na expectativa de que até lá a Sete esteja melhor avaliada.
Quando começou a estudar uma saída, a Sete propôs à Petrobras que se tornasse operadora das sondas. Mas a estatal vetou.
A alternativa, para tornar a capitalização mais interessante aos olhos de um investidor estratégico, foi adicionar a operação das sondas ao pacote, além da participação no capital da Sete. Na semana passada, porém, a Petrobras comunicou que a operação não pode ficar nas mãos de um único prestador de serviço. É possível que para tornar viável a atração de três sócios operadores, a Sete tenha que criar três grupos de sondas. Os modelos possíveis ainda estão em estudo. Mas os trabalhos de prospecção continuam.
O Valor apurou que um grupo de executivos do BTG Pactual deve partir nos próximos dias para uma segunda rodada de negociações na Ásia, com parada antes em Houston, nos Estados Unidos – sede da Atwood Oceanics. Todas os navios-sonda que estavam em construção pela Sete Brasil já tinham operador previamente definido. O rompimento desse contrato não os agrada – e ainda não estão claras as consequências dessa medida. Entretanto, para eles, que também são sócios minoritários e investidores nas unidades – cada navio-sonda é uma sociedade de propósitos específicos (SPE) em que detêm entre 15% e 30% de participação – a alternativa é melhor do que perder tudo, incluindo o valor já aplicado na construção.
É com essa equação que a Sete conta para manter as relações.
A decisão da diretoria da Petrobras – que não permitiu a finalização de todas as definições técnicas da reestruturação da Sete – terminou também por impossibilitar que a reorganização fosse levada ao conselho de administração da estatal, na reunião da sexta-feira passada (dia 24). A expectativa é que o tema só seja reenviado ao colegiado no fim do próximo mês.
A Petrobras, segundo o Valor apurou, optou por aprovar no conselho de administração todos os temas pertinentes à Sete num único pacote. A reestruturação está sendo definida como um todo. Não há, no momento, nenhuma intenção de se reduzir o novo número de sondas definido (19 concluídas, 15 próprias) e nem de alteração na taxa diária paga à empresa para gestão – taxa base de US$ 530 mil ao dia, por unidade, conforme licitação realizada em 2012.
Fonte: Valor Econômico – Graziella Valenti