RIO – Em reestruturação, a Sete Brasil — empresa criada para viabilizar a construção de sondas para explorar o pré-sal — está em vias de fechar um empréstimo de US$ 4 bilhões com um pool de bancos nacionais e estrangeiros. Esse grupo se juntará aos outros cinco bancos que já são credores da companhia (Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Itaú e Santander) para financiar a construção de 19 sondas. O total do projeto está orçado em cerca de US$ 13 bilhões, de acordo com uma fonte a par das negociações.
Esses são os principais pontos da reestruturação da Sete Brasil, que foi iniciada há alguns meses, após a recusa do BNDES em liberar os financiamentos que haviam sido aprovados. Pelo projeto original, a Sete Brasil teria 28 sondas que seriam afretadas (alugadas) para a Petrobras. O valor inicial do projeto foi orçado em cerca de US$ 25 bilhões.
A Petrobras — que também é acionista da Sete Brasil — teve de cortar investimentos por causa das dificuldades financeiras enfrentadas após a Operação Lava-Jato. A estatal também precisou reduzir para 19 o número de sondas que vai afretar.
A Sete Brasil, diz a fonte, ficará com 15 das 19 sondas planejadas. As outras quatro sondas devem ser vendidas pela Sete Brasil para um grupo de investidores japoneses. Essas quatro sondas serão construídas no estaleiro Paraguaçu, em Maragogipe, na Bahia, que está com suas obras paralisadas desde fevereiro por falta de recursos financeiros.
Segundo a fonte, o Paraguaçu passou a ser controlado pela Odebrecht e a japonesa Kawasaki, já que OAS e UTC saíram do negócio por conta da Lava-Jato. Com a mudança societária, o estaleiro negocia ainda um financiamento com o banco de fomento japonês JBIC para construir as unidades de exploração. São essas quatro sondas que a Sete Brasil está negociando vender para um grupo de investidores do Japão. Mas a Sete só tem 85% de participação nessas quatro sondas. São essas fatias que serão vendidas. Os 15% restantes dessas sondas continuarão com a Odebrecht, a outra sócia — explicou essa fonte.
Das 15 sondas que serão da Sete Brasil, sete unidades serão construídas pelo estaleiro Jurong, no Espírito Santo; seis pelo estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis; e dois no Estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Do cronograma original, o Estaleiro Atlântico Sul, de Pernambuco, que construiria seis sondas, cancelou o contrato. Segundo essa fonte, todas as sondas atrasarão, em relação ao cronograma original.
A primeira sonda, em construção no Jurong, chamada de Arpoador, que deveria ser entregue em junho, teve a data adiada para novembro e, agora, postergada para março ou abril de 2016. Houve nova discussão com os estaleiros, o ritmo de obras foi reduzido, criando um novo calendário, disse a fonte. Segundo outra fonte, agora, há um calendário de entrega escalonado ao longo dos próximos 20 anos. Antes, a última das 28 unidades seria entregue em 2020.
Modelo usado no exterior
Para fechar a conta, está em negociação que os estaleiros Jurong e Brasfels — ambos com sede em Cingapura — financiem a construção de duas sondas cada um durante as obras. Segundo essa fonte, a Sete Brasil iria pagar o custo às empresas somente na entrega das unidades. Esse é o modelo mais utilizado no exterior. Ao fim da obra, a Sete pode pagar com caixa próprio ou com a emissão de mais dívida — explicou essa fonte.
O acordo da Sete Brasil com os credores deveria ser apresentado hoje à Petrobras, conforme antecipou o GLOBO em 3 de outubro. Mas, como há muitas negociações em andamento, o prazo foi mudado para fim de outubro.
A Petrobras não quis comentar. A Sete Brasil disse que “segue atuando em busca da viabilização de seu plano de reestruturação”. Segundo o estaleiro Paraguaçu, “todas as alternativas que vinham sendo negociadas para retomada do processo normal de produção das sondas continuam em andamento”. Os problemas na Sete Brasil ganharam força após Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras e ex-diretor da Sete Brasil, confessar que recebeu propina dos estaleiros.