Bancos avaliam situação de empresas

  • 18/08/2015

Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa são os três grupos considerados mais bem preparados para enfrentar as turbulências trazidas pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Essa é a avaliação de executivos de bancos ouvidos pelo Valor. As companhias com negócios menos diversificados e mais dependentes de obras públicas terão mais dificuldades para se recuperar, afirmam.

Em geral, as dívidas corporativas, incluindo emissões de bônus, não têm garantias cruzadas nem cláusulas que deflagrem o vencimento antecipado em outras empresas do grupo se uma delas inadimplir. É por isso que, mesmo tendo endividamento bruto de R$ 88,4 bilhões para caixa de R$ 24 bilhões, a Odebrecht vem sendo considerada risco “administrável” pelos bancos. Segundo fontes, a companhia vai precisar encolher para atravessar a crise, mas tem como trunfo a gestão financeira, comandada pela vice-presidente Marcela Drehmer, tida como muito eficiente.

Os pontos fracos, na avaliação de banqueiros, são o fato de que o grupo não tem ativos tão óbvios para vender com rapidez e a Odebrecht Agroindustrial, empresa de açúcar e álcool e cujas dívidas são empréstimos tradicionais e não financiamentos a projetos. Um dos ativos mais valiosos do grupo é a Braskem, mas a petroquímica também entrou nas investigações.

No caso da Odebrecht, conforme já noticiado pelo Valor, cerca de um terço da dívida total do grupo tem um perfil de financiamento de projeto (“project finance”, em inglês), o que limita riscos de calotes, uma vez que o próprio empreendimento é a garantia. Outro fator positivo é que o prazo médio dos compromissos é de 12 anos.

Também é considerada contornável a situação de Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. A primeira tinha R$ 11,3 bilhões em dívidas em 2013 (não há dados mais recentes). As participações em Oi, Cemig e CCR podem ajudar a gerar liquidez.

A Camargo Corrêa não abre dados consolidados. A construtora tinha dívida de R$ 339 milhões, sem considerar suas controladas, e a holding do grupo, de R$ 2,4 bilhões no fim de 2014. As participações na CPFL Energia -j á à venda -, no setor imobiliário e, em menor escala, na Alpargatas são consideradas valiosas para levantar recursos. O grupo também agradou os credores ao mudar a estrutura de comando, após a prisão de Dalton Avancini, até então presidente. Em junho, contratou Artur Coutinho, que fez carreira na Embraer, e criou diretoria de governança corporativa. “A resposta levou a companhia a ser olhada de forma diferenciada”, diz fonte de um banco estrangeiro.

Fonte: Valor Econômico – Talita Moreira, colaborou Fernando Torres
18/08/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: |