A paciência dos bancos credores da Sete Brasil, para esperar um acordo com a Petrobras para aprovação de um novo plano, terminou. As instituições decidiram não renovar a extensão do prazo de vencimento de US$ 3,8 bilhões em dívidas.
Com isso, vão buscar cobertura do Fundo Garantidor da Construção Naval (FGCN), administrado pela Caixa Econômica Federal. No fim de março, os bancos deram até o fim de junho para a Sete. Esse prazo foi ampliado até 14 de agosto. E agora, não mais.
Desde maio, a Petrobras avalia o novo plano para a Sete, que reduz de 28 para 19 a quantidade de sondas a serem construídas para exploração do pré-sal. Todos os sócios – exceto a estatal, que tem 10% da empresa – já aprovaram previamente esse plano.
A Petrobras decidiu rever algumas condições técnicas do contrato e aprovar tudo dentro de um mesmo pacote. A despeito de concordar com as 19 sondas e com a manutenção da taxa diária de afretamento – cerca de US$ 460 mil a preços atuais-, a Petrobras tem dificultado em outras frentes.
Recentemente, o corpo técnico da Petrobras, da área de Exploração e Produção (E&P), surpreendeu ao exigir que as sondas que ficarão com a Sete – 15 das 19 que serão finalizadas, segundo o novo plano – sejam divididas entre três operadores.
Na prática, significa dividir o tíquete do investimento em três e criar uma estrutura sofisticada para permitir que esses novos sócios operem, cada qual, 5 sondas. Tudo isso, sem contar que deveriam se enquadrar numa longa lista de exigências feita pela estatal.
O Valor apurou que a Sete vem tentando flexibilizar esse número para ao menos dois operadores -mas sem sucesso, até o momento. Além disso, a estatal também decidiu colocar em debate a multa para não cumprimento do percentual de conteúdo nacional nas sondas. A quantidade e especificidade dos temas, mais a inflexibilidade da estatal, estão levando à demora no avanço da reestruturação.
A Sete entrou em dificuldade depois que o BNDES voltou atrás na decisão de financiar a construção das sondas e a companhia já havia tomado US$ 3,8 bilhões com seis bancos, como empréstimo.
Foi apenas no início deste mês que a estatal comunicou essa exigência, mesmo ciente de que a Sete buscava um novo sócio, que fosse do ramo, aportasse cerca de US$ 700 milhões no negócio e operasse as suas sondas.
Sem a assinatura da Petrobras do novo plano, não há como concluir a reestruturação financeira e nem buscar um novo sócio. A Sete garantiu, ainda em junho, US$ 4 bilhões em dívidas novas para as sondas. Do total, US$ 2,5 bilhões a serem fornecidos pelos já credores Banco do Brasil e Caixa. Segundo fontes ouvidas pelo Valor, haveria disposição na concessão do crédito caso o projeto fosse adiante na estatal.
O FGCN tem cerca de R$ 5 bilhões para cobrir os bancos credores da Sete, o que equivale a cerca de 40% das pendências. Após essa execução, na prática, as instituições continuarão credoras da Sete, junto com o FGCN.
Com cerca de US$ 100 milhões em caixa, a empresa tem fôlego para seguir em busca de uma solução até o primeiro trimestre de 2016. O modelo estruturado para esse projeto não oferece muitas alternativas de liquidação. Além do FGCN, a Sete não possui ativos em operação para serem liquidados e saldar parte das dívidas. E sem a Petrobras nada sai do papel.
O encerramento da empreitada, segundo o Valor apurou, custaria ao governo cerca de R$ 13 bilhões. Além do FGCN, Banco do Brasil e Caixa são credoras de US$ 1,6 bilhão – mais de R$ 5,5 bilhão ao câmbio atual. Além disso, o efeito cascata em demissões levaria a uma despesa estimada de R$ 2,5 bilhões com FGTS. No total, a estimativa é que 800 mil postos de trabalhos seriam encerrados.
O custo total – a bancos e governos – pode alcançar até R$ 40 bilhões, considerando as dívidas dos estaleiros contratados pela Sete, pois alguns construídos ou ampliados especificamente para esse projeto.