Odebrecht assina financiamento de US$ 804 milhões por dez anos

  • 04/08/2015

Foi assinado o primeiro grande financiamento de longo prazo dentro do Grupo Odebrecht desde que o presidente da corporação, Marcelo Odebrecht, e mais quatro executivos do alto escalão, tornaram-se réus em ação penal aberta por conta das investigações da Operação Lava-Jato, do Ministério Público Federal (MPF). Na sexta-feira, a Odebrecht Óleo e Gás fechou o contrato definitivo com um ‘clube’ de sete bancos privados internacionais e obteve um total de US$ 804 milhões.

Desde então, como é praxe, explicou o executivo, foi feito o “escrutínio” do contrato com a Petrobras pelas sete instituições. O contrato final, segundo ele, foi assinado conforme as condições previstas inicialmente. Mas Ibrahim preferiu não conceder os detalhes – custo e o nome dos bancos. O financiamento tem prazo de dez anos e a amortização começa após o início da operação comercial da unidade, previsto para o primeiro trimestre de 2017. Trata-se de uma FPSO para testes de produção de longa duração.

A construção da FPSO teve início no começo deste ano, por meio de um empréstimo-ponte fornecido pelas mesmas instituições. Conforme explicou Ibrahim, havia US$ 200 milhões disponíveis, mas os recursos não foram sacados integralmente. Os recursos são destinados à construção de uma FPSO para o Campo de Libra, explorado pela Petrobras (40%), junto com a francesa Total (20%), a americana Shell (20%) e as chinesas CNPC (10%) e CNOOC (10%).

O pré-acordo com as instituições financeiras, segundo Rogério Ibrahim, diretor financeiro da Odebrecht Óleo e Gás, foi feito em outubro passado, logo após a assinatura do contrato com a Petrobras – referente a licitação do começo de 2014.

O contrato com a Petrobras tem vigência de 12 anos, tanto afretamento como operação. A unidade está em construção em Cingapura, pelo estaleiro Jurong – que também fez a FPSO Cidade Itajaí, a primeira detida pela Odebrecht Óleo e Gás. A atual será a segunda do grupo, que também possui sete sondas de perfuração e mais duas embarcações de modelo de linha (PLSV) – todas essas afretadas para a Petrobras e operadas pela Odebrecht Óleo e Gás.

O custo total desta FPSO é de US$ 1 bilhão. Trata-se de uma indústria – a de embarcações para exploração e produção de petróleo – de alta alavancagem. É comum o uso de uma proporção de 20% de capital próprio investido para 80% de dívida. É exatamente o caso desta unidade para Libra.

A Odebrecht Óleo e Gás tem como sócios a gestora de fundos de participações Gávea (5%) e o fundo soberano de Cingapura, Temasek (13,5%). Em dezembro, a companhia tinha, no consolidado, R$ 88 bilhões em dívida bruta, para R$ 24 bilhões em caixa. Embora não exista, até agora, sinal de aguda preocupação entre os bancos a respeito de empréstimos e financiamentos já concedidos ao conglomerado, tampouco há disposição para aumento de exposição ao risco.

O interesse dos bancos para novos financiamentos combina com a posição oficial do grupo: de que é tempo de amadurecer os investimentos já realizados e não há intenção de se envolver em nenhum novo e grande projeto.

A companhia é, entre as empresas do grupo, uma das mais expostas ao mercado. Já realizou quatro emissões internacionais de dívida, desde 2010, movimentando mais de US$ 4 bilhões. As mais recentes ocorreram em junho e julho do ano passado, para títulos perpétuos (sem vencimento), num total de US$ 550 milhões. Os papéis saíram a um preço de US$ 100 com cupom de 7%. Ontem eram negociados a valor próximo de US$ 50.

As instituições financeiras monitoram a Operação Lava-Jato e as empresas envolvidas de perto. Embora admitam que a situação da Odebrecht é saudável, até o momento, sabem que as incertezas sobre os impactos totais das investigações não são mensuráveis neste momento – nem financeiros, com multas e penalidades potenciais, e nem de credibilidade.

A Odebrecht holding teve receita bruta de R$ 108 bilhões em 2014, para um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), de R$ 15 bilhões. Em entrevista recente ao Valor, Marcela Drehmer, vice-presidente financeira, disse que os projetos que estão amadurecendo permitem um crescimento superior a 20% ao ano no Ebitda até 2017.

Fonte: Valor Econômico – Graziella Valenti

 

04/08/2015|Seção: Notícias da Semana|Tags: |