RIO – Na tentativa de barrar a indicação de dois nomes para a diretoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a diretora-geral Magda Chambriard recorreu à Casa Civil. A estratégia, porém, fez azedar a relação dela com o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga.
O Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, apurou que o desentendimento é tamanho que Braga estaria dificultando a liberação de recursos para a autarquia, o que restringiu a autonomia de Magda no comando da ANP. Até mesmo contratos inferiores a R$ 10 milhões, que antes eram apenas da alçada da diretora-geral, agora têm de passar pelo crivo do ministro.
As indicações para a diretoria da ANP costumam ser negociadas com políticos da base aliada da presidente Dilma Rousseff. Desta vez, estavam sendo conduzidas por Braga (PMDB-AM), ao lado do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) e do ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS). Segundo fontes, os três defendem a recondução ao cargo do ex-diretor Florival Carvalho e a contratação da atual diretora de Gás Natural do Ministério de Minas e Energia (MME), Simony Christine Araújo, para o lugar de Helder Queiroz, que deixou a agência no início de julho, ao fim do mandato, para retornar à UFRJ.
Apesar de ter trabalhado com Carvalho por quatro anos e ter boa relação pessoal com ele (neste ano, os dois comemoraram aniversário juntos, na casa do ex-diretor), Magda chegou a ameaçar renunciar ao cargo caso ele fosse reconduzido. Ela também discorda da indicação de Simony. Diante da iminência de aprovação de ambos pela presidente Dilma, a quem cabe a nomeação, Magda recorreu ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, com o argumento de que Carvalho e Simony prestariam um “desserviço” à agência.
Desentendimentos entre Magda e Carvalho sobre a condução da ANP e, principalmente, sobre a relação com petroleiras são de conhecimento público e, segundo fontes, ficavam mais evidentes nas reuniões semanais de diretoria, de onde saem as decisões da autarquia.
Magda tem fama de “durona” entre as petroleiras. Já Carvalho defende uma regulamentação mais flexível para a indústria. No episódio em que chegou a ser debatida uma possível mudança de regras para conteúdo local, ele sugeriu mudanças que deveriam valer já na 13.ª Rodada de Licitações de áreas para exploração e produção de petróleo, marcada para outubro.
Mas a diretora-geral não abriu espaço para discussão, sobretudo depois que Dilma, em evento em Pernambuco, deixou claro que a regra de conteúdo local não muda.
A resistência à recondução de Carvalho em si não chegou a irritar o ministro Braga, mas sim o fato de Magda ter recorrido a Mercadante, o que foi considerado uma quebra de hierarquia, na visão do ministro. No lugar do ex-diretor, Magda propôs o atual superintendente de Abastecimento da agência, Aurélio Nogueira Amaral.
Em resposta ao Broadcast, a ANP afirmou “que não houve desentendimento” entre a diretora-geral e o ministro. O Ministério das Minas e Energia informou que as “conversas entre o ministério e a ANP estão em harmonia”. Em nota, a Casa Civil negou ter sido procurada por Magda ou pelo ministro Braga.