Depois de um jejum de mais de um ano, a Petrobras voltou ao mercado para afretar dois novos FPSOs de grande porte para a Bacia de Santos. A petroleira lançou concorrência para o afretamento de uma unidade para Sépia e outra para Libra, cada uma com capacidade para produzir 180 mil barris/dia de óleo e programadas para entrar em operação em 2019 e 2020, respectivamente.
As licitações são o primeiro teste da Petrobras após os escândalos envolvendo fornecedores, ex-diretores e ex-gerentes da empresa, muitos deles hoje na cadeia. Contratar via afretamento facilita o andamento das concorrências. O fato de a Petrobras não ter de colocar dinheiro nos projetos agora ajuda tanto o financeiro quanto o compliance. Aliás, estas serão as duas primeiras grandes concorrências com uma estrutura de governança já montada dentro da empresa, a partir da diretoria comandada por João Adalberto Elek Junior.
Entre as empresas convidadas para a licitação estão Bluewater, Bumi Armada, BW Offshore, Modec, Saipem, Teekay e Yinson (ex-Fred Olsen). A Petrobras tenta trazer também a CNOCC, grupo chinês que é sócio em Libra. Por conta da operação Lava Jato, Odebrecht, Queiroz Galvão e SBM não serão convidadas. A Petrobras mantém sigilo sobre a lista oficial das empresas convidadas. Parte das empresas foi convidada para participar das duas concorrências, mas algumas ficaram de fora de Libra.
A Petrobras já prevê que não será fácil contratar os dois FPSOs. Um sinal claro disso é que começou a busca por novas unidades de produção do seu Plano de Negócios justamente pelas plataformas que entram em produção no final do plano. A empresa deixa claro que entente que as concorrências devem durar mais de um ano.
As obras de conversão deverão ter prazo de 30 meses e o prazo de afretamento será de 20 anos.
O FPSO piloto de Libra terá capacidade para produzir 180 mil b/d de óleo e processar 12 milhões de m3/d de gás. O prazo contratual de afretamento será de 22 anos, e a unidade terá de ser entregue à Petrobras em 38 meses. Com prazo de conversão de 33 meses, a unidade de Sépia terá de produzir 180 mil b/d de óleo e processar 5 milhões de m3/d de gás. O contrato de afretamento é de 13 anos, com possibilidade de prorrogação por mais oito anos.
Especialistas do setor estimam que a conversão de cada FPSO exija investimentos da ordem de US$ 2 bilhões a US$ 2,5 bilhões e que as taxas diárias ofertadas fiquem na faixa de US$ 900 mil a US$ 1 milhão. A obra de Libra é vista como mais complexa, em função do porte da planta de gás. As licitações de Libra e Sépia devem enfrentar a concorrência do recém-aprovado projeto de gás Leviathan, localizado no offshore de Israel. As duas conversões serão feita a partir dos cascos de VLCCs.
Com os problemas enfrentados pelos estaleiros nacionais, a aposta é que a etapa de construção dos módulos e integração acabe limitada às instalações do Brasa, Brasfels e Ferrostal. Dependendo do andamento de suas obras, o Estaleiro Jurong Aracruz poderá vir a ser utilizado como opção na etapa de integração. Na prática, apenas Brasa e Brasfels hoje têm capacidade para cumprir o prazo exigido pela Petrobras. Nenhum outro estaleiro no país tem performance para atingir a exigência de 30 meses.
Apesar dos problemas enfrentados pela indústria de bens e serviços no Brasil, a Petrobras manteve a exigência de conteúdo alto. De acordo com os editais, a empresa que arrematar o FPSO Libra terá de cumprir 80% de conteúdo nacional, enquanto o vencedor de Sépia precisará atingir o patamar de 70%.
Se a Petrobras conseguir cumprir as metas de conteúdo local programadas para as concorrências, os FPSOs de Libra e Sépia serão as unidades com os maiores índices de conteúdo local do país. Os três últimos FPSOs afretados pela empresa no mesmo modelo que está sendo utilizado tiveram conteúdo local médio de 55%. O melhor índice ficou por conta do FPSO Cidade de Itaguaí, afretado ao consórcio Schahin/Modec, que circulou na casa de 65%, de acordo com dados da Petrobras.
No mercado, a percepção é de que as empresas participantes não conseguirão cumprir percentuais desse patamar e que isso deva gerar pedidos de prorrogação do prazo de entrega das propostas. Com alguns dos estaleiros e canteiros nacionais tendo sido citados na operação Lava Jato e/ou passando por dificuldades financeiras, não se sabe se o board das empresas operadoras de FPSOs concordará em contratar esses grupos.