Os impactos da Operação Lava Jato e a crise política que o governo está enfrentando têm refletido negativamente no segmento da construção naval brasileira. Os estaleiros que mais estão sofrendo são aqueles que acreditaram no então novo programa da Petrobras, que eram os chamados estaleiros virtuais, ou seja, os estaleiros maiores como o Estaleiro Atlântico Sul, Ecovix, Engevix, e o Jurong Aracruz. São esses que estão sentindo um grande impacto negativo, conforme disse nesta quinta-feira ao MONITOR MERCANTIL o vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Marcelo Carvalho.
Segundo ele, atualmente, com base na estatística fechada para o mês de agosto, o setor emprega 64.092 trabalhadores com carteira assinada. A Região Sudeste fica com 32.567; já a Nordeste, 6.712. Este número, diz, já mostra um grande impacto negativo uma vez que, só o Atlântico Sul empregava cerca de 10 mil profissionais e toda a região tem hoje um número bem inferior.
Quanto à Região Norte, o número de vagas geradas pelo setor chegam a 8.900; e no Sul, 15.866, também mostrando queda na geração. Só o Ecovix, de acordo com Marcelo, chegou a empregar mais de 9 mil pessoas.
– O impacto negativo fica bem demonstrado nas regiões Norte, Nordeste e Sul.
No que diz respeito ao Sudeste, especificamente ao Estado do Rio, ele afirmou que ainda continua sendo o berço da indústria naval, empregando cerca de 30 mil trabalhadores e que também vem passando por grandes dificuldades.
– Hoje, publicamente, o estado já tem três estaleiros fechados: Rionave, Sermetal e a base de operações da OSX. O Consórcio Eisa/Petro1 – que engloba o Mauá, em Niterói; e o Eisa, na Ilha do Governador – também está passando por grandes dificuldades: o Mauá fechou as portas e só está operando com reparo navais e está em discussão com a Petrobras e Transpetro sobre a finalização de três embarcações que vinham sendo construídas. Mas, o Eisa vem operando bem, mesmo com dificuldades. Hoje abriga 4 mil trabalhadores.
Quanto ao futuro do setor, Marcelo Carvalho não está muito otimista, a não ser que haja um grande interesse tanto na parte política como, principalmente na financeira, para resolver o assunto Sete Brasil, que, segundo ele, é muito complicado.
– Se pegar a dívida que a Sete Brasil tem com os estaleiros, podemos citar como exemplo o do Brasfells, chega a mais de R$ 600 milhões. Isso dificulta a operação do estaleiro que corre o risco muito grande, até o final deste ano, de demitir mais de 3 mil em função desse valor – disse, acrescentando que o setor tem a necessidade de acreditar que o problema da Sete Brasil vai se “desenrolar.”
Negociações difíceis – O vice-presidente Institucional do Sinaval, Marcelo Carvalho, afirmou que a entidade está tendo grandes dificuldades em negociar o reajuste dos trabalhadores do setor. Frisou que só o Estado do Rio tem quatro bases sindicais: a primeira em São Gonçalo, liderada pela Força Sindical; a outra em Niterói, pela CUT; em Angra dos Reis, pela UGT; e na Cidade do Rio, pela CTB. Em função disso, as negociações hoje estão sendo feitas, basicamente, para os estaleiros Eisa, Enseada e ICM Itaguaí Construções Navais.
– Veja, dois estaleiros são praticamente do mesmo grupo: a Odebrecht; e o Eisa, que está passando por dificuldades enormes. As negociações não avançaram. O Sindicato laboral não aceita que os estaleiros estejam numa situação difícil. E nós não conseguimos ultrapassar o índice declarado da Petrobras que é de 5,72% para poder se chegar a algum tipo de acordo – disse, enfatizando que os sindicatos bateram o pé e dizem que eles precisam de, no mínimo, o INPC, 9,3%: “realmente está complicado. O Dia D será no próximo dia 13, quando a categoria poderá entrar em greve. As negociações estão bem difíceis.”
Fonte: Monitor Mercantil – Marcelo Bernardes – Portos e Navios