Estaleiro prevê litígio com Sete Brasil

  • 17/03/2016

Os estaleiros contratados pela Sete Brasil para construir sondas de perfuração de poços de petróleo esperam que a nova tentativa de reestruturar a empresa ocorra fora da esfera judicial. Para os estaleiros, a retomada da construção das sondas, mesmo que em número menor do que o previsto inicialmente, é o melhor caminho para manter vivo o projeto da Sete. Até agora não há acordo entre os acionistas da companhia, incluindo bancos e fundos de pensão, sobre um eventual pedido de recuperação judicial, decisão que poderá ser tomada dia 28 deste mês.

Na construção naval, há receio de que uma eventual recuperação judicial da Sete Brasil provoque uma “batalha” entre todos os envolvidos (Petrobras, bancos credores, acionistas e estaleiros). Esse cenário poderia levar ao “arresto” de unidades que estão quase prontas para entrar em operação, disse uma fonte. Até o dia 28 os novos assessores financeiros que entraram nas discussões – a Alvarez & Marsal, pelo lado da Sete Brasil; e o Banco do Brasil Investimentos (BBI), pela Petrobras – devem tentar aproximar os interesses.

Há hoje 17 sondas que estão em diferentes estágios de construção em estaleiros no Brasil e na Ásia (Cingapura, Japão, Indonésia e China). As duas unidades mais avançadas encontram-se no Brasil: a sonda Urca, no estaleiro Brasfels, de Angra dos Reis (RJ), tem 89,96% de avanço físico, enquanto a Arpoador, do Jurong, em Aracruz (ES), está com 84,76% das obras concluídas, segundo a Sete Brasil.

Estaleiro prevê litígio com Sete Brasil

A entrada em operação dessas duas unidades poderá gerar caixa para a Sete Brasil e daria sustentação a um eventual plano de recuperação judicial. Desde o fim de 2015, todas as obras de sondas da Sete Brasil estão paralisadas. O Brasfels, da Keppel Fels, e o Jurong pertencem a grupos de Cingapura e vinham fazendo as obras com recursos próprios. Mas esgotaram sua capacidade de prosseguir.

A Sete interrompeu os pagamentos aos estaleiros em novembro de 2014. Para Sergio Bacci, da Abenav (entidade dos estaleiros), se o projeto da Sete for abandonado poderá haver perda de 20 mil empregos no setor este ano, considerando os efeitos ao longo da cadeia produtiva, como barcos de apoio offshore que também vão deixar de ser construídos. Em dezembro de 2014, os estaleiros no Brasil empregavam 82 mil pessoas – hoje são 58 mil -, disse Bacci.

Há estimativas de que para concluir as sondas Urca e Arpoador será preciso investir US$ 150 milhões. O problema é que os acionistas da Sete manifestaram que não farão novos aportes de recursos na empresa. Eles colocaram R$ 8,3 bilhões em capital desde que a Sete foi constituída. E há US$ 4,5 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões) em dívidas para serem renegociadas. Há ainda avaliações de que se o projeto da Sete não ficar de pé, Keppel Fels e Jurong poderiam tentar vender as duas sondas no mercado. Um operador de petróleo teria visitado as unidades. “A recuperação judicial [da Sete] significa enterrar de vez o projeto, que hoje já está em uma cova rasa”, disse uma fonte. Afirmou que se a recuperação for aprovada os estaleiros, como credores quirografários (sem garantias) terão que entrar na fila para receber.

Os acionistas da Sete estão divididos sobre o tema. “Há acionistas que preferem um acordo [com Petrobras], mesmo que seja ruim, a um litígio que pode se arrastar por muitos anos”, disse uma fonte. E acrescentou: “Mas outros [sócios da empresa] preferem levar a discussão para a Justiça porque gravaram no seus balanços toda a perda do investimento feito na Sete ou porque estão sendo pressionados pelos seus próprios acionistas.”

A última proposta feita pela Petrobras previu a construção de dez unidades, com contratos de afretamento de cinco anos e taxas diárias de aluguel a valores de mercado, algo como US$ 250 mil por dia. “Nessas condições não tem chance de [o projeto da Sete] ficar de pé, não paga novos investimentos e ninguém recupera nem parte do dinheiro aportado”, disse a fonte. O plano original previa a construção de 28 unidades, com contratos de 15 anos e taxas de afretamento de cerca de US$ 400 mil por dia.

Fonte: Valor Econômico – Francisco Góes
17/03/2016|Seção: Notícias da Semana|Tags: , |