Com um endividamento da ordem de R$ 4 bilhões e os principais sócios presos na Operação Lava-Jato, a Engevix Construções Oceânicas (Ecovix) negocia a conversão de 80% do passivo da companhia em uma dívida perpétua (sem prazo de vencimento).
O valor seria conversível em ações e sem pagamento de juros. O saldo restante seria pago em condições de mercado, mas com uma carência de dois anos. As tratativas ainda estão em fase inicial, segundo uma fonte com conhecimento do assunto.
Dona do estaleiro na cidade gaúcha de Rio Grande e com 7 mil funcionários, a Ecovix tem contrato com a Petrobras para a construção de oito cascos de plataformas para o pré-sal, com capacidade para produzir até 1 milhão de barris por dia. A empresa também tinha a previsão de construir sondas para a Sete Brasil, mas as encomendas devem ser canceladas diante da frágil situação financeira da fornecedora da Petrobras.
Pela proposta da Ecovix, a maior parte do passivo se transformaria em uma dívida conversível em ações e com características semelhantes a capital. Ou seja, só daria direito a alguma remuneração aos credores no caso de pagamento de dividendos ou em uma eventual venda da empresa. O instrumento híbrido é considerado mais adequado para os bancos carregarem no balanço do que a simples conversão da dívida em ações.
Em contrapartida pela reestruturação, a proposta prevê que os atuais donos deixarão a Ecovix sem receber nada, conforme apurou o Valor. Ao lado da renegociação do passivo bilionário, a desvinculação da companhia com a Lava-Jato é apontada como condição fundamental para a salvação do estaleiro.
Após a saída de um consórcio de estaleiros japoneses liderados pela Mitsubishi, em janeiro deste ano, a Engevix se tornou a única acionista da companhia. Os japoneses reconheceram perda total no negócio, no qual investiram US$ 300 milhões em 2013 por uma participação de 30%.
Os estaleiros chineses são apontados como potenciais candidatos a ficar com a Ecovix, cuja gestão está a cargo do banco Brasil Plural desde o fim do ano passado. Procurados, o banco e a Ecovix não comentaram o assunto. A grande dúvida que paira hoje é sobre o valor da empresa. As estimativas variam entre R$ 1 bilhão – considerada a mais realista para o momento – e R$ 3 bilhões. Como o valor é inferior à dívida da companhia mesmo no melhor cenário, os credores terão de reconhecer perdas no crédito. Entre os principais credores da companhia estão Banco do Brasil, Bradesco e HSBC, além da Petrobras e de fornecedores estrangeiros, segundo fontes.