Depois de seis meses de negociações, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) e a Transpetro, a subsidiária de logística da Petrobras, chegaram a um acordo, assinado na segunda-feira, sobre a conclusão de oito navios petroleiros cujo futuro era incerto. Os contratos das oito embarcações, com projeto da coreana Samsung, somam cerca de R$ 2,8 bilhões. As discussões começaram logo depois de a Transpetro ter apresentado ao EAS, em dezembro do ano passado, proposta de cancelamento de 12 navios.
Nesta semana as duas empresas assinaram um instrumento particular de transação extrajudicial (TEJ) incluindo o término da construção de oito navios e o cancelamento de sete unidades que têm possibilidade de serem transferidas para outros clientes no futuro. Dessa forma, o EAS poderia manter a carteira originalmente acertada com a Transpetro, acrescentando ao seu portfólio outros armadores e novas encomendas.
“Estamos negociando com outros clientes para fazer os sete navios [cancelados]”, disse ao Valor Harro Burmann, presidente do EAS. Com carreira na indústria automotiva, Burmann é o quinto presidente do EAS. Assumiu em 2014 e vem conduzindo um processo de melhoria nas operações internas com base no conceito de linha de produção.
Em nota, a Transpetro confirmou que celebrou o TEJ com o Estaleiro Atlântico Sul para manter vigentes os contratos de três navios Suezmax e cinco Aframax. Nada muda no financiamento desses oito navios cujos contratos contam com recursos do Fundo da Marinha Mercante (FMM), linha de longo prazo para o setor, tendo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como agente financeiro. Para construir os cinco Aframax, o EAS garantiu a assistência técnica e fornecimento de projeto da Samsung, que já foi sócia do estaleiro. Os coreanos terminam saindo da sociedade – formada por Camargo Corrêa e Queiroz Galvão -, mas continuaram a responder pelos projetos dos Suezmax do estaleiro.
No total, o EAS havia ganho o direito de construir 22 navios para a Transpetro dentro do Programa de Renovação da Frota (Promef), um pacote orçado à época em R$ 7 bilhões. A primeira série do EAS previa a construção de dez Suezmax, dos quais sete já foram entregues. Os outros três, em fase de construção, serão entregues em 2016 (duas unidades) e 2017 (uma).
O que estava em jogo nas discussões EAS-Transpetro era uma segunda série de navios. Essa segunda série incluía os cinco Aframax, que agora foram confirmados e serão entregues até o fim de 2019. E mais sete embarcações: quatro Suezmax e três Aframax equipados com “posicionamento dinâmico” (DP), tecnologia que permite a correção de ventos e marés nas operações em alto-mar. A Transpetro afirmou que o início da construção dos Aframax está previsto para as próximas semanas. E confirmou o cancelamento dos sete navios com tecnologia DP. Houve ainda, segundo a estatal, o encerramento das pendências contratuais existentes com o EAS.
Segundo o Valor apurou, o cancelamento dos contratos dos sete navios inclui um mecanismo, válido até dezembro de 2018, para facilitar a transferência dessa carteira para outros clientes. A migração dessa carteira poderia garantir ao estaleiro contratos de US$ 900 milhões. O EAS vê demanda ainda para oito navios menores (48 mil toneladas de porte bruto), que podem render contratos por mais US$ 640 milhões.
Desde que iniciou operação em 2008, o EAS enfrentou dificuldades operacionais e prejuízos nos resultados contábeis, o que têm obrigado os sócios a fazer aportes de capital no estaleiro. Em 2015, teve prejuízo de R$ 379 milhões, acima dos R$ 329 milhões de 2014. Em 2016, os acionistas puseram R$ 340 milhões e um novo aporte é previsto para 2017, mas o estaleiro avança para se tornar independente dos acionistas.
Este ano o consórcio japonês liderado pela IHI, que era sócia do EAS, deixou a sociedade. A saída dos japoneses do EAS foi motivada por várias razões, entre as quais o cancelamento do contrato que o estaleiro tinha para a construção de sete sondas com a Sete Brasil. “Queremos ser o melhor estaleiro fazendo navios”, disse Burmann.