O Estaleiro Rio Grande (ERG – RS) busca alternativas para continuar a produzir e evitar eventual risco de falência. Negocia adiantamento, na forma de empréstimo, de R$ 600 milhões com a Petrobras para concluir obras de casco de plataformas.
Discute a reestruturação de dívida de R$ 4,5 bilhões com credores, incluindo bancos, fornecedores e a própria estatal. Embora os contratos estejam em vigor, a perspectiva de redução dos investimentos da estatal para o período 2016-2020 leva o mercado a considerar a possibilidade de que as duas últimas unidades, previstas para 2018, não sejam mais construídas. “São dois cascos que, apesar dos contratos, podem ficar no limbo”, disse uma fonte.
A Petrobras está disposta a fazer o adiantamento ao ERG em valor aproximado de R$ 600 milhões em uma conta vinculada ao estaleiro para garantir que receberá os cascos das plataformas, apurou o Valor. Os problemas no ERG se aprofundaram desde que acionistas da holding Jackson Empreendimentos, controladora do estaleiro, foram envolvidos e presos na Operação Lava-Jato, que apura desvios na Petrobras. A Jackson detém 100% da Engevix Construções Oceânicas (Ecovix), que é dona do ERG.
A conta vinculada garante liquidez ao ERG para fazer as obras, mas o dinheiro não passa pelo estaleiro. Fica depositado em conta administrada por um banco e os desembolsos são feitos, com autorização da Petrobras, para pagar serviços e equipamentos de fornecedores das plataformas. As discussões estão em andamento e pode haver um desfecho sobre o tema nas próximas semanas. A discussão repete operação semelhante feita em 2015, quando a Petrobras adiantou R$ 650 milhões ao ERG também para pagar fornecedores.
O dinheiro injetado pela estatal no estaleiro no ano passado permitiu avançar nas obras de dois cascos. A operação mostrou resultados e agora negocia-se uma segunda fase nesse sistema de conta vinculada com valores próximos aos da primeira tranche.
No total, o ERG tem contratos com a Petrobras para a construção de oito cascos de plataformas para o pré-sal. Quatro unidades devem ser entregues este ano, das quais duas estão em fase de acabamento. Outras duas plataformas estão previstas para 2017 e duas para 2018.
No processo de reestruturação da dívida, a negociação é ainda mais complexa pois os credores resistem a perder dinheiro. O processo vem sendo conduzido pelo banco Brasil Plural, contratado como assessor financeiro, e tem um caráter de recuperação extrajudicial. A ideia é que os credores aceitem um acordo para converter parte importante da dívida em capital do estaleiro, com os atuais acionistas saindo do ERG sem receber nada. Há resistências a transformar o passivo em dívida perpétua (vencimento de 20 anos), conversível em ações. Haveria ainda um saldo a ser pago em condições de mercado, incluindo período de carência.
A repactuação da dívida do ERG abriria nova perspectiva para o estaleiro, que tenta encontrar um investidor para o negócio. Os chineses da China Offshore Oil Engineering Corporation (COOEC) já foram apontados como potenciais compradores, mas primeiro é preciso resolver a dívida. As negociações se concentram com seis grandes credores, incluindo três estratégicos (Petrobras e dois fornecedores: Cosco Shipping e NOV) e três bancos (Bradesco, Banco do Brasil e HSBC). Juntos, esses credores representam mais de 60% da dívida do ERG, de R$ 4,5 bilhões. O valor da dívida inclui, além de bancos, fornecedores e Petrobras, reservas para contingências.
As conversas têm sido difíceis pois a proposta sobre a mesa impõe pesadas perdas aos credores, mas é alternativa que pode tornar viável o estaleiro face a um possível risco de falência. Com todos esses problemas, o ERG perdeu este ano os sócios japoneses liderados pela Mitsubishi Heavy Industries (MHI). Os japoneses deixaram o capital da Ecovix, da qual tinham 30%, baixando US$ 300 milhões como perda. O ERG também tem contratos de construção de três sondas para a Sete Brasil, mas dificilmente esses contratos serão retomados. Petrobras, ERG e Brasil Pl