Sete Brasil faz provisão de R$ 33,9 bilhões em 2015

  • 04/08/2016

As dificuldades enfrentadas pela Sete Brasil para seguir adiante com a construção das sondas de perfuração para a Petrobras levaram a empresa a registrar provisão para perda no seu balanço de 2015 no total de R$ 33,9 bilhões. A Sete, que está em processo de recuperação judicial, listou as 29 sondas do seu portfólio e fez uma análise sobre o custo de cada unidade, a redução do valor recuperável e o saldo líquido que estima ser possível receber em cada sonda. A empresa chegou a um saldo líquido de R$ 484,19 milhões, equivalente a 1,4% do custo total das 29 sondas, calculado em R$ 34,44 bilhões

Esse seria o valor que a empresa poderia recuperar, tendo como premissa a venda de sondas mais avançadas, a alienação de equipamentos e também de sucata. Se fosse possível, a Sete teria feito um “impairment” (redução no valor recuperável dos ativos) de 100% do custo das sondas. Mas contabilmente foi preciso fazer dessa forma, disse uma fonte. Uma empresa de engenharia foi contratada pela Sete Brasil e fez a avaliação técnica sobre quanto a empresa poderia arrecadar se vendesse as sondas como sucata. Chegou-se a esse número de R$ 484,19 milhões.

(em R$ mil)

SeteBrasil-EncomendaBilionaria

No relatório da administração, o presidente da Sete Brasil, Luiz Eduardo Carneiro, afirmou que a empresa entende que provisões poderão ser revertidas tão logo se encontre uma alternativa para todas as partes envolvidas (credores, acionistas, estaleiros e fornecedores). Qualquer possibilidade de reversão da provisão passa por conseguir aprovar um plano de recuperação judicial consistente para a Sete Brasil, que assegure três pilares. O primeiro deles é a obtenção de recursos financeiros para terminar as sondas. Hoje a Sete não tem qualquer financiador para seu projeto. Outro ponto é a definição de como vai pagar as dívidas com os credores. No balanço de 2015, a companhia declarou uma dívida líquida R$ 17,2 bilhões.

Outro item importante é qual vai ser a receita da companhia. Garantir alguma receita é fundamental para terminar as primeiras sondas e assim ter capacidade de pagamento das dívidas. A Sete indicou que as unidades com perspectiva de garantir maior retorno são a Arpoador Drilling, cujo saldo líquido é de R$ 85,9 milhões, e a Urca Drilling, com saldo de R$ 89,81 milhões. Ambas estão com estágio de construção acima de 80%. A sonda Arpoador é do Estaleiro Jurong Aracruz (EJA), no Espírito Santo, e a sonda Urca está em construção no Estaleiro Brasfels, no Rio.

A tentativa derradeira de salvar a Sete terá capítulos decisivos até o fim do ano. Agora, no dia 12 de agosto, a empresa vai protocolar o plano de recuperação perante à Justiça do Rio, onde tramita o processo. Esse plano deverá conter um esboço de propostas. Será uma espécie de “receita de bolo” cujos ingredientes ainda estarão faltando. Esses ingredientes vão depender do resultado de uma mediação que a Sete Brasil fará com a Petrobras, sócia e cliente única da companhia. A mediação, ainda em fase inicial, será conduzida pelo advogado Luiz Leonardo Cantidiano. O resultado da mediação servirá como insumo para o plano de recuperação judicial da Sete Brasil, que foi deferido em junho. A estimativa é que o plano seja votado em assembleia geral de credores da Sete Brasil em 10 de novembro, mas há flexibilidade para que o prazo seja estendido se for necessário.

Diante das incertezas sobre o processo de recuperação judicial da Sete Brasil, a PwC emitiu parecer com “abstenção de opinião” sobre as demonstrações financeiras da companhia, publicadas na sexta-feira no “Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro”. Quando emite esse tipo de relatório, o auditor diz que as dúvidas são tão relevantes que ele não é capaz de opinar se concorda que os números apresentados representam a situação patrimonial e financeira da entidade. Apesar de ter apresentado o pedido de recuperação judicial, a falta de caixa para pagar seus compromissos, combinada com a ausência de um plano de recuperação aprovado por acionistas e credores, levou a Sete a preparar seu balanço “em base contábil de liquidação”. Ou seja, sem o pressuposto de continuidade.

No balanço, a Sete Brasil afirmou: “[…] A administração entende que atualmente não é possível assegurar a continuidade destas unidades [das 29 sondas], uma vez que dificilmente serão concluídas dentro do custo e prazo originalmente planejado, conforme sinalização dos principais fornecedores e o curso da negociação com seu principal cliente [Petrobras], além das dificuldades de financiabilidade do projeto, principal motivador para reestruturar o plano de investimentos.”

Fonte: Valor Econômico – Francisco Góes e Fernando Torres
04/08/2016|Seção: Notícias da Semana|Tags: |