Construção Naval sofre com a conjuntura atual do país

  • 14/12/2016

Os estaleiros do país reduziram, ao menos, a metade sua capacidade de gerar empregos. No início de dezembro, foi noticiado amplamente pela imprensa a dificuldade financeira do setor. O exemplo citado foi a situação financeira da Ecovix-Engevix Construções Oceânicas S.A., indicando pedido de proteção judicial iminente, fato que certamente está provocando perda de empregos no Rio Grande do Sul. As informações foram divulgadas hoje (13) pelo SINAVAL.

De acordo com os dados da entidade patronal, o fim das obras de conversão de cascos de navios-plataformas e o encerramento de operações do Estaleiro Inhaúma (RJ) devem reduzir a mão de obra da Região Sudeste. Obras em andamento no Estaleiro BrasFELS (RJ) devem manter empregos em Angra dos Reis (RJ) até o final de 2017.

Em Pernambuco, os estaleiros VARD Promar e Atlântico Sul (EAS) mantêm e expandem empregos em relação a dezembro de 2015. A construção de navios gaseiros e de navios petroleiros mantém atividades até 2018. A divulgação, pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM), da prioridade de financiamento para a South American Tankers Company Navegação S.A. (SATCO), deverá expandir empregos em 2018. É uma das poucas notícias boas do setor, caso as encomendas de fato se concretizem.

Na Região Norte, o emprego prossegue com certa estabilidade, com os contratos de construção de barcaças e empurradores para o transporte de grãos através da via fluvial, nos rios Madeira, Tapajós e Amazonas.

Em Niterói (RJ), em Guarujá (SP), em Navegantes e em Itajaí (SC), estaleiros especializados na construção de navios de apoio marítimo a plataformas de petróleo, de rebocadores portuários e de reparos navais prosseguem em atividade regular, que deverá ser mantida até 2018. Esses segmentos da Indústria Naval contam com uma demanda permanente, embora o ritmo de recuperação das encomendas do setor de óleo e gás natural seja essencial para os estaleiros construtores de navios de apoio marítimo.

O pedido da Petrobras de dispensa (waiver) do conteúdo local para as plataformas de produção previstas para os campos de Libra e Sépia provocou a reação dos estaleiros.

O SINAVAL anunciou, no início deste mês, disposição de recorrer à Justiça para que os procedimentos de consulta às empresas locais sejam realizados conforme estabelece a regra em vigor.  As prioridades de financiamento aprovadas pelo Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante, no segundo semestre de 2016, representam a possibilidade de investimentos no valor de cerca de R$ 9 bilhões na construção e reparação de navios.

Os destaques foram as aprovações de prioridades para a Saveiros Camuyrano (Wilson, Sons Rebocadores) e à Camorim, que constroem seus rebocadores em estaleiros próprios em Guarujá (SP) e Niterói (RJ), respectivamente, o que demonstra que esse segmento industrial apresenta expansão.

No segmento de apoio marítimo, as prioridades visam à conversão de uma embarcação, de PSV (Platform Supply Vessel) em RSV (ROV Supply Vessel), e reparos em 10 navios de apoio marítimo, para a CBO; a construção de um OSRV (Oil Spill Response Vessel), para a Asgaard; e a suplementação de recursos para a construção de 6 PSV, para a Brasbunker/Bravante.

No transporte marítimo na costa brasileira (cabotagem), a Agemar recebeu prioridade para construir um navio de transporte de combustíveis para suas operações de suprimento à ilha de Fernando de Noronha, no mar territorial de Pernambuco.

O destaque é a prioridade concedida para a South American Tankers Company Navegação (SATCO) para a construção de oito navios de produtos, de 49.000 TPB, e cinco navios petroleiros do tipo suezmax, de 157.000 TPB. Caso essa contratação se concretize, será ampliado o horizonte da carteira de encomendas do Estaleiro Atlântico Sul (EAS-PE).

Na relação das aprovações, não foram incluídas suplementações financeiras, autorizadas para petroleiros já construídos pelo EISA PetroUm (RJ), em proteção judicial, e para o Estaleiro Atlântico Sul (EAS-PE).

A Sociedade de Propósito Específico EISA PetroUM, do Grupo Sinergy, que arrenda parte do Estaleiro Mauá, está em recuperação judicial. Três navios petroleiros encontram-se em grande parte concluídos, ao longo do cais de acabamento do estaleiro, aguardando qual será seu destino. São navios necessários para modernização da frota de transporte de combustíveis na costa brasileira.

Navios de apoio marítimo

Segundo informações da Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam), a frota é de 405 navios de apoio marítimo, sendo 296 de bandeira brasileira. O aumento reflete a redução da demanda e o bloqueio de barcos estrangeiros por modelos similares nacionais.

As prioridades concedidas pelo FMM no 2º semestre de 2016 informam que as empresas de apoio marítimo estão realizando reparos e conversões em seus navios, muitos deles com idade acima de 10 anos.

Plataformas de produção de petróleo

A informação divulgada pela imprensa sobre pedido de proteção judicial da Ecovix, no início de dezembro de 2016, colocou em dúvida a finalização dos cascos para a P-69 e a P-70.  Os cascos da P-72 e P-73 já eram dúvidas no primeiro semestre de 2016. A carteira de encomendas de plataformas fica sujeita a confirmações da Petrobras.

Em 21 de novembro de 2016, o SINAVAL informou sua disposição de agir por recursos administrativos e recorrer à Justiça para evitar que as petroleiras sejam dispensadas de cumprir as regras do conteúdo local para as plataformas de Libra e Sépia. “Falta uma consulta real aos fornecedores locais. A Petrobras argumenta que as plataformas de produção ficam 40% mais caras com o conteúdo local, mas não apresentam as informações que comprovem esse argumento”, disse Ariovaldo Rocha, Presidente do SINAVAL.

A entidade e outras associações empresariais dos fornecedores consideram falsa a premissa de que a indústria não é capaz de competir com preço e prazo. O preço e o prazo são resultados diretos de planejamento bem executado. Os atrasos não são de responsabilidade exclusiva da indústria e, sim, de editais mal especificados e projetos com escopos mal definidos.

Plataformas de petróleo alugadas pela Petrobras

Desde 2010, nove plataformas de produção de petróleo FPSO entraram em operação com fabricação e integração dos módulos de produção (topsides), realizadas no Brasil, cumprindo prazos e orçamentos.

Estaleiros da Ásia reagem à crise

Em outubro de 2016, a China revisou sua Lista Branca de estaleiros com condições de receber apoio do Governo por apresentarem condições financeiras de continuar operando. A informação foi divulgada pela Clarksons Research.

Dos 71 estaleiros listados, sete podem ser excluídos no caso de suspenderem a produção, declararem falência ou não entregarem navios contratados e não conquistarem novas encomendas num período de dois anos.

A possibilidade de fechamento desses estaleiros pode reduzir em cerca de 1,7 milhão de CGT a capacidade de construção naval.

Contexto mundial e participação do Brasil

A frota marítima mundial, estimada em 90 mil navios, transporta por viagem 20 milhões de contêineres, 540 milhões de toneladas de petróleo e seus produtos e 784 milhões de toneladas de grãos, minérios, carvão e outros graneis. Os navios viabilizam trocas, através dos oceanos, no valor anual de US$ 8 trilhões em mercadorias, gerando US$ 400 bilhões em receitas de fretes, correspondentes a 5% do valor total transportado.

O Lloyds Register estima que o crescimento do transporte marítimo mundial passará de 9,8 bilhões de toneladas, em 2015, para 20 bilhões de toneladas, em 2035. A previsão indica demanda favorável à frente. A perspectiva é positiva, mas o momento não é bom para os estaleiros. Entre 2010 e 2011 ocorreu o pico da construção naval mundial. O setor vive agora com menor volume de encomendas. A taxa de ocupação dos estaleiros caiu de 83%, em 2010, para 56%, em 2014. Foram construídos 4.800 navios em 2013 e 3.365 navios em 2016. A redução dos negócios provocou demissões e negociações com bancos. A queda do preço do barril do petróleo reduziu as encomendas de plataformas de produção de petróleo, fixas e semissubmersíveis, que chegaram a representar receitas maiores que a construção de navios (uma plataforma pode custar até 15 vezes o preço de um petroleiro de grande porte).

Participação do Brasil

A Review of Maritime Transport 2012, publicada pela Unctad, registrou que o Brasil foi o país que realizou o maior volume de construção naval em relação ao tamanho da sua frota, em função da demanda gerada por encomendas do segmento de exploração e produção de petróleo e gás. Nove grandes estaleiros foram implantados ou reativados: ERG-Estaleiros Rio Grande; EAS-Estaleiro Atlântico Sul; VARD Promar; Enseada Indústria Naval; EBR-Estaleiros do Brasil; Jurong Aracruz; BrasFELS; EISA-Estaleiro Ilha S.A.; e EISA PetroUm (Mauá).

As descobertas de grandes reservas de petróleo e o preço do barril acima dos US$ 140, em maio de 2008, explicam a opção de Governo e empresários. O gráfico do preço do petróleo mostra a queda a menos de US$ 50, em 2009. A recuperação foi de 2010 a 2014. Nova queda ocorreu em 2015, até atingir um valor do barril inferior a US$ 40, em 2016.

Em agosto de 2016, a previsão é de que os preços parem de cair e aumentem para a faixa acima dos US$ 60 o barril, em 2017.

O comércio exterior brasileiro apresenta sinais de recuperação, com as importações em moderada melhora e as exportações atingindo os níveis mais altos desde 2012. As informações são do relatório financeiro do segundo trimestre de 2016, da Maersk Line, uma das maiores operadoras de navios do mundo, com relevante participação no mercado local.

O Brasil tem adequada base industrial de construção naval, apesar da crise em alguns estaleiros. Existem contratos em execução bem avaliados e negócios que prosseguem normalmente no atendimento à demanda por integração de módulos, navios petroleiros, navios gaseiros, navios de apoio marítimo, rebocadores portuários, empurradores e barcaças de transporte fluvial.

No segmento de plataformas de produção de petróleo, a construção local de módulos e sua integração a cascos produzidos na Ásia é reconhecidamente bem-sucedida. A previsão é de aumento da demanda das petroleiras e do transporte marítimo na costa brasileira. São oportunidades para a construção naval nacional reagir e voltar a gerar empregos e renda.

Fonte: MRNEWS
14/12/2016|Seção: Notícias da Semana|Tags: |