O Plano de Recuperação Judicial que a Ecovix apresentará à Justiça de Rio Grande no próximo mês trará como premissas a busca de um novo sócio para o estaleiro e a retomada das obras do casco dos FPSOs P-71, P-72 e P-73, unidades replicantes que estão com suas obras paralisadas. A empresa tem hoje R$ 8 bilhões em dívidas e mantém cerca de 100 funcionários, após demitir mais de 3.000 pessoas em dezembro.
A estratégia da Ecovix, contudo, vai depender de a Petrobras decidir retomar os projetos, mesmo que seja para usar o casco nas obras de um dos próximos FPSOs que serão afretados pela empresa. A estatal tem cinco unidades de produção para afretar no seu atual Plano de Negócios, sendo que duas unidades – Libra e Sépia – estão atualmente sendo licitadas.
A Petrobras postergou para este ano a decisão sobre o rumo a ser dado ao projeto de construção e integração dos módulos dos FPSOs P-72 e P-73. Sem a certeza de que o grupo Ecovix conseguirá cumprir o contrato de construção dos cascos, as áreas de Engenharia e de E&P da petroleira optaram por esperar pelo desenrolar das obras do estaleiro.
Outra estratégia que estará contemplada no Plano de Recuperação Judicial é a segregação dos ativos em uma outra empresa, medida muito comum em recuperações judiciais. A nova empresa deve ficar com os contratos com a Petrobras, caso a estatal decida retomar os projetos por lá paralisados.
O prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer, após uma reunião com o presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou que, para a estatal, “a possibilidade mais forte para recuperar o Estaleiro Rio Grande passa por uma nova companhia assumir a estrutura”, disse ao repórter Jefferson Klein, do Jornal do Comércio do Rio Grande do Sul.
Em dezembro do ano passado, o Banco Brasil Plural assumiu a gestão da Ecovix. O banco chegou a realizar, no Rio de Janeiro, uma assembleia com credores onde pretendia iniciar a equalização das dívidas da empresa. O Brasil Plural é hoje um dos principais credores do estaleiro.
Dívidas
Dos R$ 8 bilhões que possui de dívidas, mais da metade está a mãos de bancos. Somete com o Brasil Plural são duas cessões de créditos, uma de R$ 612 milhões e outra de US$ 1,12 bilhão. Na lista de credores quirografários do grupo estão Bradesco, Banco Commercial Investment Trust, Banco da China Brasil, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Estado do Rio Grande do Sul, Banco Industrial e Comercial, Pine e HSBC, sendo que este último é o único classificado como credor com garantias reais.
Entre os fatores citados pelo grupo para a entrada em recuperação judicial estão o corte de incentivos à indústria naval e os ajustes fiscais aplicados em 2015, além da crise da Petrobras e a insolvência da Sete Brasil, principais contratantes do setor. A lista tem um total de 389 credores quirografários. Outro valor que chama atenção é a dívida com o estaleiro Cosco, subcontratado para obras de FPSOs, que chega a US$ 255 milhões.
Os crimes descobertos pela Operação Lava Jato também estao entre os fatores que contribuíram para a crise financeira enfrentada pela companhia — a Engevix chegou a ter um dos sócios, Gerson Almada, preso preventivamente. Almada foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 19 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Com a Petrobras, a empresa tem uma dívida de R$ 48,4 milhões pela compra de energia elétrica e materiais. Além disso, o pedido afeta 176 empresas de pequeno porte e microempresas, que têm R$ 11,9 milhões a receber do grupo. Outros R$ 26,1 milhões estão atrelados a obrigações trabalhistas.
A Ecovix foi criada para atender ao contrato de construção dos oito cascos dos FPSOs replicantes da Petrobras. Até o momento, estão prontos P-66; P-67 (em complementação mecânica na China); P-68 (no estaleiro Jurong); P-69 (em complementação mecânica no Cosco). Além disso, a P-70 está na fase de edificação dos blocos.