Empresas de apoio brigam por projeto de reparo do FSO Cidade de Macaé
Uma disputa comercial está impedindo que a Modec dê início a uma operação de reparo do FSO Cidade de Macaé, afretado pela Petrobras e que está instalado na Bacia de Campos. Um AHTS da DOF está bloqueando a contratação de rebocadores da Smit Boskalis do Brasil, que seriam, em tese, os únicos aptos a apoiar os trabalhos.
Com capacidade para armazenar 2,15 milhões de barris e receber e descarregar 818 mil b/d e 944 mil b/d, respectivamente, o FSO Cidade de Macaé (MV15) está ligado às plataformas P-52, no campo de Roncador, P-53 (Marlim Leste), P-51 (Marlim Sul), P-55 (Roncador) e P-62 (Roncador).
A unidade está ancorada por 12 correntes por meio de um turret – sistema de ancoragem que permite um giro de 360° da embarcação –, ao qual estão conectados dez risers de produção e de escoamento, respondendo por uma produção da ordem de 300 mil b/d para a Petrobras.
Em uma inspeção de rotina, técnicos da Modec, que é responsável pela operação do Cidade de Macaé, identificaram avarias aos rolamentos do turret do FSO. A empresa decidiu então reparar as estruturas com a unidade ancorada na locação, sem interromper sua operação.
Os trabalhos serão executados em habitats de soldagem confinados e pressurizados no interior do turret para minimizar os riscos de explosão/incêndio. Durante as atividades, o FSO ficará mantido por um sistema de fundeio temporário na popa (Temporary Stern Mooring System – TSMS).
A previsão é que o serviço leve dois meses para ser concluído. Como a ANP deu prazo até o dia 18 de abril deste ano para a Petrobras dar uma solução definitiva para o problema, esse limite provavelmente será insuficiente. Procurada, a agência explicou que a data estabelecida foi baseada em cronograma encaminhado pela Petrobras e que, após a notificação, realizada em janeiro deste ano, a companhia não solicitou prazo adicional.
A Modec precisa do apoio dos rebocadores para manter, com precisão, o controle direcional do FSO em caso de falha do TSMS: caso a tensão nos cabos de fundeio exceda determinado limite, o sistema é projetado de forma a transferir a carga total para as embarcações.
Para contratar os barcos, a Modec entrou em contato com a Smit Boskalis, que abriu, em seguida, processo de circularização para fretar os AHTSs Union Princess e Union Sovereign, de bandeira estrangeira, à empresa.
Os barcos, que têm cerca de 180 BHP, menos de 15 anos de idade e seu ponto de tensão do guincho atrás de seu ponto central – conforme as especificações técnicas exigidas pela Modec – foram, contudo, bloqueados pelo Skandi Admiral, da Norskan (DOF).
Diante disso e do fato de que o prazo de mobilização das embarcações definido pela operadora do FSO havia expirado em 24 de fevereiro deste ano, a Antaq determinou que deveria ser aberto um novo processo de circularização.
No início deste mês, o diretor geral da Boskalis no Brasil, Sebastiaan van Loenen, solicitou à Antaq que reconsidere sua decisão e suspenda (ou “levante”, na expressão do mercado) o bloqueio, uma vez que o Skandi Admiral “não atende aos requisitos necessários para a realização da operação em segurança”.
A empresa de navegação submeteu ainda à agência uma análise da Loyd’s Register que conclui que os barcos da Boskalis são os únicos capazes de atender aos critérios para a operação, já que as alternativas apresentadas pelas empresas brasileiras têm seu ponto de tensão localizado à frente do centro de rotação.
“O não atendimento às exigências da Modec pode levar a consequências catastróficas”, alerta o Capitão Nick Haslam, que assina o estudo. “É importante considerar que haverá mais de 20 trabalhadores no local, os quais poderão ser expostos a sérios riscos no caso de falha do sistema alternativo”.
Procurada, a DOF informou que entende que o Skandi Admiral atende aos requisitos técnicos da Modec e que pode executar o serviço de forma eficiente e segura. “Por essa razão, firmamos o bloqueio”, declarou a companhia.
A Antaq informou que a área técnica da agência está analisando o pedido da Boskalis e que não tem comentários a fazer sobre o assunto no momento.
A Modec afirmou que respeita os procedimentos da ANTAQ e faz o que está ao seu alcance para evitar atrasos, adotando todas as medidas necessárias sob seu controle.
“A empresa vem discutindo com empresas brasileiras de navegação, a fim de identificar o melhor fornecedor para execução do trabalho de reparo, de modo seguro e em conformidade com todos os requisitos técnicos”, declarou a empresa.
A Petrobras não quis se manifestar sobre o assunto.