Cláudio Makarovsky, da Abespetro: otimismo com cautela

  • 03/01/2018

Novo presidente da Abespetro fala sobre as perspectivas de negócios neste e nos próximos anos e detalha agenda da entidade

Cláudio Makarovsky – Presidente da Abespetro

Tendo pela frente o desafio de substituir José Firmo, Claudio Makarovsky, novo presidente da Abespetro, assume o cargo apostando na importância de continuar “evangelizando” os principais stakeholders do país sobre o funcionamento do setor petróleo. Em busca de uma nova sede para a entidade, o executivo afirma que pretende manter a parceria de trabalho com o IBP, mas rebate as críticas de que a Abespetro é uma filial da entidade. Em entrevista a Brasil Energia Petróleo, Maka, como é chamado pelos amigos mais íntimos, prevê que as encomendas de bens e serviços irão decolar em 2019 e que 2018 será um ano de “otimismo, com cautela”.

Quais os desafios da Abespetro para 2018?
O primeiro desafio é manter a Abespetro no patamar que o Firmo [José Firmo, ex-presidente da Abespetro] trouxe até agora. A Abespetro demorou, mas hoje é reconhecida como o real interlocutor da área de Petróleo & Gás. O segundo grande desafio é destravar os investimentos. Se não fizermos isso, vamos ficar na retórica e as empresas que sobreviveram até agora não sobreviverão até o fim do ano.

O que é fundamental para destravar os investimentos?
Creio que com o Repetro, o Pedefor e conteúdo local os investimentos serão destravados. Com isso, o pessoal de sísmica começa a ter seus contratos, em seguida a perfuração, depois a construção de unidades de produção, aí vem a geração de emprego e assim por diante.

A Abespetro visualiza risco de judicialização no conteúdo local?
Uma hora esses impasses vão ter que acabar por uma questão de sobrevivência. A retórica chegou ao limite, então agora é preciso partir para o prático. E o prático é destravarmos Sépia e Libra, para que Libra 2 já venha para o bid em janeiro. Os leilões de unitização já dão uma visibilidade a que no fim de 2018 se comece a perfurar os poços de Gato do Mato, etc. Enfim, a gente já começa a sentir movimentações de que vai acontecer.

Que volume de investimentos a Abespetro vislumbra no curto e médio prazos?
Se levarmos em consideração que para cada plataforma de petróleo produzindo, você tem o mesmo valor no subsea e construção de poços, com timing diferente, somente em Libra, Sépia e Búzios, estamos falando de US$ 15 bilhões no nosso radar que tem que começar agora.

Quanto isso deve gerar em empregos?
Há um estudo feito pela UFRJ dizendo que para cada bilhão de investimento temos 25.450 empregos gerados. É daí que saiu aquele número dos 500 mil empregos nos cinco anos.

Esse número é possível com os novos indicadores de conteúdo nacional?
Eu creio que sim, porque grande parte dos gastos é feita aqui. A Modec já contratou dois slots de conversão na China para os cascos, e assegurou que a construção dos módulos será feita aqui, além do carry over e integração. Considerando o valor da conversão, de US$ 200 milhões, em um contrato de US$ 1 bilhão, grande parte dos gastos será feita aqui.

A Abespetro ganhou muita projeção no último ano, mas atuou de forma low profile
Percebemos de dois anos para cá que faltava uma medida chave, que era a educação dos stakeholders. Fomos ao Congresso para explicar que Óleo & Gás não é só leilão, entre outras iniciativas. Faço um paralelo com o cristianismo. Dois mil anos e qualquer canal em que se liga a TV, aquela mesma mensagem é pregada, senão o pessoal esquece. A evangelização do segmento de Óleo & Gás é o que fez a diferença.

O ponto de partida foi o evento de Brasília?
Pela primeira vez sentaram-se a uma mesma mesa poder Legislativo e Executivo e explicamos o que era o setor petróleo. Vamos manter isso.

Você avalia que esse trabalho de educação chegou ao segundo elo da cadeia?
O único ponto que stakeholders têm em comum é o conflito de interesse. A partir do momento em que a gente passou a explicar o que estava acontecendo, começamos a ver mudança de opinião. Nunca antes na história desse país [risos] se sentaram à mesa Sinaval, Abimaq e Abespetro. Hoje estamos apresentando uma carta em conjunto.

O foco no curto prazo são os campos maduros, como Marlim?
Campos maduros e descomissionamento. Isso não depende de leilão. Quem oferecer uma boa logística às petroleiras, de forma competitiva, vai conseguir contrato.

A discussão do Repetro no Congresso voltou a acirrar o clima entre as entidades?
Não creio. Acho que cada um usou a arma que tinha para o momento. Sobre o artigo 12, por exemplo, eu vivi a reserva de mercado e a indústria que viveu em paralelo foi a de certificado falso, com um preço de computador sete vezes maior que o de lá de fora. Isso foi quebrado pela Petrobras. O cara que é competente mesmo, ele se estabelece.

Sob essa visão, o Pedefor terá então papel fundamental para a Abespetro, certo?
Sim. Nós vamos trabalhar muito nisso ao longo de 2018. Vamos fazer com que o Pedefor tenha regras claras, que bonifique as empresas que desenvolvem tecnologias, que conseguem ser competitivas e exportar. As IOCs estão querendo isso. Algumas já estiveram no Brasil fazendo levantamento da capacidade de alguns fabricantes de ser hub internacional. Temos um exemplo em casa. Com os replicantes, criou-se um volume e um prazo de entrega que permitiu aos fabricantes que ganharam as concorrências das grandes máquinas se planejarem. Alguns deles são referência dentro das suas organizações mundialmente. Se temos previsibilidade de demanda, conseguimos ser competitivos, independentemente de custo Brasil.

Mas na área naval, o Sinaval diz que não dá para competir, porque os bancos financiam os competidores internacionais…
Isso é completamente verdade. Cadê o papel do BNDES para isso? E há outras questões. Comparando os macrocustos para movimentar um casco, aqui eu preciso de cinco rebocadores, lá fora só preciso de dois. Para trabalho em altura, aqui eu preciso de cinco pessoas e lá fora só de duas. Como a gente pode mudar isso? Por que não abrimos uma discussão para tirar encargos dos APL do Rio Grande? Singapura, que é uma ilhota, tem seis centros de excelência. Nós não temos nenhum, temos iniciativas isoladas.

Aí entra a questão de política pública, não?
Sim, política pública de Estado e não de governo. Se tivermos uma política pública que tire o efêmero dos governos, a gente consegue aplicar essas ferramentas, resolvendo a questão na raiz.

O principal stakeholder então para ser trabalhado é o governo?
Sim, nós temos trabalhado os legisladores. Todas as entidades estão preocupadas com os presidenciáveis. Estamos preparando uma cartilha com a FGV. Queremos trazer esses presidenciáveis para que nossos associados os ouçam e os candidatos também nos ouçam.

Nesse caso, Brasília estará no radar da Abespetro?
Sim. Mas não no viés de tentar convencer na truculência e na informação. Às vezes uma mentira mal dita várias vezes vira uma verdade, mas a argumentação bem sedimentada e transparente é a melhor que tem. Assim quebramos a argumentação de perdas de R$ 1 trilhão com o Repetro.

A parceria Abespetro-IBP foi vista com reserva por outras entidades do setor, tendo sido uma marca no último ano. Isso ficará ainda mais forte, com a ida do José Firmo?
O IBP reconheceu que, apesar de a gente ser uma entidade muito menor, conseguimos resultados muito maiores. Cada diretor fala da sua área e o Firmo foi um condutor disso tudo. Por isso a coisa fluiu. Vamos defender o IBP quando for defensável, contestando quando for contestável. Não existe essa de a Abespetro ser filial do IBP. Vamos inclusive nos desvincular fisicamente [a Abespetro funciona dentro da sede do IBP].

Quais os pontos de divergência com o IBP?
Originalmente o IBP queria conteúdo local zero. Eu não concordo com esse ponto de vista, mas depois eles flexibilizaram.

O sr. assume a Abespetro em um ano de eleições que, na prática, tem seis meses. Como trabalhar assim?
Temos que fazer tudo até julho. O que for feito nesse período vai garantir a nossa sobrevivência. Temos uma agenda pesada e vamos fazer algumas modificações para agilizar. Em julho começam as campanhas e vai dar para a gente ter um cenário do que vai ser nosso futuro. Durante a campanha, vamos ouvir o que os candidatos estão pregando nos municípios produtores, que têm uma força de votação sui generis.

A entrada em vigor da Lei 13.303 está no radar de preocupações também?
Nosso maior cliente ainda é a Petrobras. Hoje é tudo pela Petronect. Com a nova regra, vamos retomar a década de 80, dos vendedores de clipping informando as oportunidades de negócio. Criou-se uma indústria de caçar oportunidade. A execução das ofertas será pública, não vai ser preciso cadastro para apresentar oferta.

Como o sr. enxerga 2018?
O ano de 2018 será de otimismo, com cautela. Será curto, vai ter contratação acontecendo no começo do ano. Vamos ter Búzios definindo, vamos ter Marlim 1 e 2 e possivelmente Parque das Baleias. Os três FPSOs podem virar quatro e além disso temos Karoon fechando com o farm-in da Schlumberger com a Bumi, Atlanta se resolvendo com seus sócios e temos também PetroRio, Rosneft e outros players. O grande comprador para em julho, mas os outros vão nadar de braçadas, porque terão um poder de barganha que nunca tiveram antes.

E 2019?
Aí decola. Sabe por quê? A Statoil tem de contratar Carcará e Pão de Açúcar. A Shell, com Gato do Mato, precisa estar produzindo em razão do investimento que já fez. Chega uma hora em que não dá para adiar mais. 2018 devia ser esse ano, mas vai escorregar para o fim do ano e de 2019 não passa.

As empresas têm fôlego para sobreviver a 2018?
Não sei fazer esse diagnóstico. Acho que todo o mundo se preparou para as vacas magras. Mas algumas vão realmente sofrer, já chegaram ao limite do limite.

A Abespetro tem um plano B, dependendo do resultado das urnas?
Isso é discussão para a primeira reunião de Diretoria depois da posse. Estamos trabalhando com o resultado pessimista: barril de óleo abaixo de US$ 50, três plataformas por ano pelos próximos cinco anos, leilões previsíveis até 2019 e nada além disso. Para o mundo continuar trabalhando, sem falar com mágicas de acabar a era do petróleo, vamos ter no mínimo sete FPSOs no mundo por ano pelos próximos cinco anos, segundo a Agência Internacional de Energia, com 35% no mercado brasileiro.

Fonte: Brasil Energia – Claudia Siqueira

03/01/2018|Seção: Notícias da Semana|Tags: |