Grupos nacionais e estrangeiros começam a ocupar espaço deixado pelas grandes empreiteiras da Lava Jato
O buraco deixado por empreiteiras brasileiras investigadas na Lava Jato na área de manutenção offshore começa a ser ocupado por grupos nacionais e estrangeiros, alguns deles com pouca ou nenhuma experiência no setor de óleo e gás.
Até 2015, esse mercado era dominado pela UTC e pela Ocyan (então OOG), que detinham os maiores contratos de construção e montagem (C&M) offshore da Petrobras, além da Skanska, Iesa e MPE, que acabaram na blacklist da empresa por envolvimento no esquema de corrupção e formação de cartel descortinado pela Polícia Federal.
Em fevereiro deste ano, a C.S.E. Mecânica e Instrumentação, da multinacional norueguesa Aker Solutions, a Estrutural Engenharia e a OEngenharia, do grupo francês Vinci Energies, assinaram contratos de C&M para 12 plataformas da Unidade Operacional do Rio de Janeiro (UO-Rio).
Adquirida em 2016 pela Aker, a C.S.E. já é uma velha conhecida da Petrobras, atuando na Bacia de Campos desde a década de 80. A empresa, porém, nunca havia fechado um acordo tão vultoso – da ordem de US$ 100 milhões – no segmento offshore.
O contrato é referente ao lote D da concorrência, que contemplava as plataformas P-47, P-48 e P-50. O lote A (P-52, P-54, P-55 e P-62) ficou com a Estrutural, enquanto a OEngenharia levou os lotes B e C (PRA-1, P-53, P-38, P-51 e P-56).
Ambas as companhias possuem contratos ativos de construção e montagem com a Petrobras, mas, novamente, nenhum que se equipare aos novos contratos, que devem superar a casa dos R$ 300 milhões.
Dessa mesma concorrência participaram empresas sem registro de contratos com a Petrobras, como a portuguesa Mota-Engil Engenharia e Construção, a espanhola Cobra Instalaciones y Servicios e a chinesa Shandong Kerui.
Entre elas, apenas a última se apresenta como uma prestadora de serviços na área de óleo e gás, enquanto as duas primeiras mencionam, em suas páginas na internet, somente as áreas de engenharia e construção, ambiente e serviços, transportes, energia e mineração, eletricidade, gás, água, comunicações e serviços auxiliares como foco de sua atuação.
As três empresas também concorrem a contratos em outras licitações de manutenção offshore da Petrobras, como uma promovida pela própria UO-Rio em que a estatal exige utilização de flotel, e uma da UO-BC, para 25 plataformas da Bacia de Campos.
Esses bids contam ainda com a participação de “novos entrantes” como a Enesa Engenharia, a Dynamic Brasil Serviços de Construção, a italiana Saldimpianti Costruzioni Mechanical e a Sindus Andritz, controlada pelo grupo austríaco Andritz Group (a empresa foi convidada, mas não apresentou proposta).
Também figuram na lista de convidadas aos certames companhias oriundas de outros setores industriais, como a Comau do Brasil, uma subsidiária da Crysler com atuação nos setores de energias renováveis, aeroespacial, automotivo, indústria pesada e ferrovias, e a brasileira Predigas Engenharia, cuja atividade primária é a construção de edifícios.
Riscos
O aparecimento de companhias de outros segmentos reflete a baixa geral da atividade industrial no país nos últimos anos, desde a mineração até a indústria automotiva, passando pelos setores de energia elétrica e de construção civil.
Se, por um lado, a diversificação de prestadores de serviço tende a gerar maior concorrência e consequente redução de custos para a Petrobras, por outro, tal movimento pode elevar os riscos associados à execução dos contratos.
“Não é fácil fazer esse tipo de trabalho. A questão logística é complicada e já quebrou muita empresa nessa área [de manutenção offshore]. Nos preocupamos quando percebemos a grande discrepância de valores, com empresas sem histórico de prestação desses serviços ganhando com preços muito baixos”, alerta o diretor da Associação Brasileira de Consultores de Engenharia (ABCE), Rodrigo Sigaud.
Ele assinala que a falta de experiência também pode pesar negativamente na área de refino. Isso porque boa parte das companhias que hoje tentam contratos de EPC (engenharia, suprimentos e construção) costumava trabalhar como subcontratada na parte de construção e montagem ou engenharia civil, o que não exigia tanta robustez gerencial.
Outro ponto delicado são os aditivos contratuais, cuja aprovação por parte da Petrobras atualmente é muito mais rigorosa que no passado. Isso exige que o epecista tenha uma capacidade baseada em anos de experiência para prever quase tudo que pode dar errado em uma obra. “Minha expectativa é que algumas empresas não conseguirão executar os contratos”, prevê Sigaud.
Algumas das companhias que participam das concorrências de C&M também disputaram ou estão brigando por contratos no Comperj. A Shandong venceu a licitação da Unidade de Processamento e Gás Natural (UPGN) do complexo em Itaboraí (RJ), superando a Cobra, que participou do bid em consórcio com a brasileira Qualiman. Já a Mota, via sua sócia mineira Encalso Construções, apresentou o menor preço em um bid para contratação das obras de arruamento da futura refinaria.
Tarimbados
Além da C.S.E. Engenharia, Estrutural e OEngenharia, há outros velhos conhecidos da indústria de óleo e gás tentando ampliar seu peso na área de manutenção offshore.
Figuram entre os participantes das licitações da UO-Rio e UO-BC empresas como a Belov Engenharia, Elos Engenharia, Elevolt Indústria, Enaval, Estaleiro Brasa, G&E Manutenção, Gran Energia Navegação, Imetame, Manserv, Mazza Engenharia, Milplan Engenharia, Mip Engenharia, Montcalm Montagem, Niplan Engenharia, Norteng Engenharia, RIP Serviços Industriais e Wärtsilä.
Boa parte delas tem em seu histórico contratos de construção e montagem com a estatal, a exemplo da Enaval, Imetame, Manserv e RIP Serviços Industriais, que adquiriu a Skanska.
A Imetame, por exemplo, tem em sua ficha um contrato de C&M de mais de R$ 700 milhões já concluído e um de R$ 525 milhões ativo.
A empresa apresentou o menor preço (R$ 417,757 milhões) nos dois lotes da licitação da UO-Rio com utilização de flotel. A Mota-Engil Engenharia e Construção foi a segunda colocada nos lotes, com o bid de R$ 438,838 milhões. Já a Cobra Instalaciones y Servicios ficou em terceiro no primeiro lote, com a oferta de R$ 479,350 milhões.
Na concorrência da UO-BC, a C.S.E. apresentou o menor preço nos três lotes do processo, superando as ofertas submetidas pela Cobra e pela Enesa.
Essas empresas provavelmente estarão entre as postulantes aos contratos de manutenção de novas plataformas da Petrobras no pré-sal (P-66, P-67, P-68, P-69 e P-70), cujo bid foi lançado em meados de fevereiro.