O Brasil possui uma quantidade considerável de plataformas que se aproximam ou que já atingiram seu tempo máximo de vida útil. A Petrobras, por exemplo, lançou recentemente o edital para descomissionamento das plataformas fixas do campo de Cação, no Espírito Santo. Sendo assim, este tipo de atividade desperta o interesse de muitas empresas. No caso da Ramboll, multinacional de consultoria, engenharia e projetos, a ideia é oferecer ao mercado brasileiro a chamada metodologia de Análise de Benefício Líquido Ambiental (NEBA, no inglês). Com a solução, os potenciais clientes poderão analisar todos os impactos, riscos, benefícios e custos para escolher as melhores alternativas de descomissionamento dessas embarcações. “Existe um potencial muito grande no Brasil de plataformas em vias de descomissionar. O que estamos fazendo é acompanhar estas oportunidades”, explicou o Consultor Sênior da Ramboll, Sergio de Mesquita Sahlit. O especialista avalia também que haverá um novo ânimo para as companhias de engenharia instaladas no país. “Para fazer essas operações, é necessário o trabalho das empresas de engenharia para remoção de estruturas e disposição de material em local apropriado em terra. Então, teremos engenharia envolvida em tudo isso”, afirmou.
O senhor poderia comentar sobre a questão regulatória do descomissionamento no Brasil?
A resolução continua em revisão pela ANP, em conjunto com o Ibama e a Marinha. Há uma união desses três órgãos para fazer a revisão dessa resolução. Isso estava previsto para ser concluído no final do ano passado, mas o documento ainda está em revisão. De qualquer maneira, existem formas para que as empresas que estão dentro de um processo de descomissionamento, possam dar entrada no Ibama e desenvolver o projeto. Agora, o regulamento em si, específico para isso, continua em revisão. Basicamente, o que está acontecendo é o estabelecimento das diretrizes do descomissionamento, principalmente na parte regulatória. A resolução regula as questões de planos e prazos.
Vocês participam de alguma forma das discussões?
Nós acompanhamos, junto com a ANP e com o IBP. Enquanto isso, estamos desenvolvendo nossa capacitação. A Ramboll tem uma capacitação internacional, já consagrada, nessa questão de descomissionamento. Agora, estamos desenvolvendo internamente o trabalho de levantamento de requisitos relativos a descomissionamento em diversas partes do mundo. Então, acompanhamos o desenrolar da legislação, mas o mais importante é o acompanhamento das oportunidades. A Ramboll está se preparando para oportunidades de apresentar projetos de descomissionamento.
Como está a prospecção de novos negócios relacionados a atividade de descomissionamento no Brasil?
Ainda não temos um projeto no Brasil. A Ramboll tem clientes internacionais e capacitação tanto na questão de descomissionamento quanto na parte da metodologia NEBA, que é uma ferramenta para avaliar os benefícios e impactos do trabalho do descomissionamento. Estamos acompanhando, junto a grandes clientes, as oportunidades. Existe um potencial muito grande no Brasil de plataformas em vias de descomissionar. O que estamos fazendo é acompanhar estas oportunidades. Temos nossos especialistas internacionais e também estamos desenvolvendo capacitação interna do nosso time no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Quais os principais riscos ambientais e econômicos inerentes às atividades de descomissionamento?
Uma plataforma opera por até 25 anos. As plataformas fixas, principalmente, desenvolvem uma estrutura. Além da produção do petróleo, você tem o desenvolvimento de comunidade de peixes em função da posição da plataforma. Com isso, existem atividades econômicas na região, como a pesca. Quando ocorre o descomissionamento, teremos um impacto em cima de toda uma atividade estabelecida em função da plataforma. Este é um impacto social significativo.
Fora isso, você tem a remoção da estrutura, propriamente dita. São dutos e materiais que precisam ser dispostos adequadamente. O impacto é grande para trazer todas estas grandes estruturas para terra. É uma malha de riscos ambientais e de segurança, além das questões sociais.
Como a metodologia usada pela empresa ajuda a diminuir esses riscos?
Ao remover uma plataforma, existem diversas alternativas. E todas elas envolvem custos e riscos, tanto ambientais quanto de segurança e sociais. São várias as possibilidades que podem ser analisadas e todas elas têm seus impactos, riscos, benefícios e custos. Além do mais, existe toda a regulamentação já existente. Independentemente desta nova resolução, o Brasil já tem a legislação da Marinha, por exemplo. Então, se uma empresa decide deixar parte de uma plataforma no fundo do mar, isso precisa estar de acordo com as regras da Marinha.
Então, são diversos fatores e cada um tem um peso, em termos de custo, benefício e impacto. Nesta metodologia, você coloca tudo isso em um sistema multicritério para analisar. A partir disso, você terá alternativas. Após analisar todas as combinações, ocorre a proposta de uma alternativa que é mais viável tanto economicamente quanto ambientalmente.
Então, o NEBA é uma análise multicritério para interagir com todos esses fatores, de tal maneira que você encontre uma solução onde todos eles estão otimizados.
Então, tendo em vista que plataformas no Brasil estão próximas de serem descomissionadas, as perspectivas de negócios da empresa são boas?
Nós acreditamos nisso. Temos essa capacitação e, sobretudo, experiência em diversos projetos já realizados. Temos muita experiência no Mar do Norte, onde temos mais atividades. Então, temos uma grandes perspectivas em termos de novos negócios.
Quais serão os impactos positivos na cadeia de empresas de engenharia com as atividades de descomissionamento?
A Ramboll trabalha na parte de planejamento e suporte nos projetos, em termos de meio ambiente e segurança. Para fazer essas operações, é necessário o trabalho das empresas de engenharia para remoção de estruturas e disposição de material em local apropriado em terra. Então, teremos engenharia envolvida em tudo isso. Com isso, outras atividades devem ser estimuladas, como o desmonte de estruturas em estaleiros, por exemplo. O mercado de resíduos e reciclagem também será beneficiado.