Galhardo, da CSENO/Abimaq: indústria naval precisa de apoio para se desenvolver

  • 10/07/2020

Para Galhardo é necessário pensar em uma política pública que torne a indústria naval e offshore atrativa para o setor de óleo e gás.

Apesar da grande capacidade que vem sendo demonstrada pelo mercado de óleo e gás no Brasil, a indústria naval nacional ainda não tem conseguido acompanhar esse potencial. Isso porque, de acordo com o presidente da câmara setorial de equipamentos navais, offshore e onshore da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSENO/Abimaq), Bruno Galhardo falta apoio governamental para fomentar a indústria naval e offshore no país. Para ele, é preciso pensar em uma política de estado capaz de fazer convergir os interesses das oil companies com a capacidade industrial brasileira.

Galhardo ressaltou que enquanto países como a China possibilitarem custos menores para a construção naval e offshore, as companhias do setor de óleo e gás vão continuar construindo fora do Brasil. Segundo ele, fica difícil para a indústria exigir mais participação nessa atividade sem que haja fomento por parte do governo. “Nessa disputa de queda de braços é a indústria que está perdendo, haja vista que, atualmente, existem seis ou sete FPSOs sendo construídos fora do Brasil”, disse durante Live promovida pela Revista Portos e Navios sobre “Como tornar a indústria naval e de O&G nacional mais competitiva”, nesta quinta-feira (09).

Para fomentar a indústria de construção offshore no país, ele elencou algumas medidas que o governo poderia tomar. Um delas seria aproveitar a existência de um grande número de estaleiros instalados no litoral do país e criar, a exemplo da China, zonas econômicas especiais. Essas zonas funcionariam como ecossistemas industriais que contariam com uma série de subsídios governamentais como, a obtenção de benefícios fiscais no fornecimento de materiais, redução de impostos para as empresas, entre outras medidas. Além disso, poderiam ser atreladas aos ecossistemas empresas voltadas para novas tecnologias com vistas à redução de custos. Tudo isso como algumas possibilidades para tornar a indústria naval e offshore mais atrativa para o mercado de óleo e gás.

De acordo com Galhardo, dentro do setor de óleo e gás, provavelmente o mercado de fornecimento de gás tem sido o mais promissor no Brasil, trazendo também oportunidades para a indústria. “O Pré-sal é realidade e vai existir um excedente de gás enorme vindo daí. E o Brasil não pode perder o time. Por isso, a gente precisa acelerar o marco legal do gás e monetizar esse bem para o Brasil”, frisou. Ele afirmou que, embora o país ainda não esteja “surfando nessa onda” como deveria, já existe empresas se preparando para esse “boom”, como é o caso de terminais portuários de regaseificação, empresas estudando a possibilidade de transportar o gás pela região Norte do país que demanda muito diesel, e que também já vivencia o movimento de transformar essa demanda em GNL.

A perspectiva de escoar o gás pelos rios do Norte do país, segundo ele, vai demandar a construção de diversas embarcações. Além disso, apesar de grande parte das unidades de regaseificação estejam sendo construídas fora do Brasil, após chegarem ao país e começarem a operar, vão gerar serviços de manutenção e empregos. Ele disse que a expectativa de investimentos neste setor é de mais de 80 bilhões de reais nos próximos cinco ou dez anos.

Outro mercado que demonstrado ser promissor no país é o de descomissionamento de embarcações e plataformas. De acordo com ele, como o processo de revitalização de campos maduros vem se tornando “desinteressante”, o número de plataformas que passaram a ser alvo de descomissionamento aumentou muito. “Hoje esse é um negócio muito legal para o mercado”, destacou. Ele afirmou que o potencial desse segmento é de mais 26 bilhões de reais para os próximos cinco anos. Ele lembrou também que este mercado é bastante regulado no país por meio de entidades como a Marinha do Brasil, ANP e Ibama, e que o estaleiro que queira se preparar para este mercado precisa buscar especialização.

Galhardo afirmou ainda que a CSENO tem como um dos pilares a atuação em todos os projetos de lei da ANP e que se posiciona sobre as modificações que a agência traz para o mercado de óleo e gás. Outro pilar da câmara setorial é o mercadológico. Neste foi criado um Grupo de Trabalho (GT) para tratar a respeito do projeto da Marinha sobre as Fragatas. Segundo ele esse projeto é a “menina dos olhos do mercado offshore e naval” no país, especialmente porque existe um nível de conteúdo local significativo. Ele afirmou que o projeto já está bastante consolidado.

Fonte: Portos & Navios – Dérika Virgulino
10/07/2020|Seção: Notícias da Semana|Tags: , |