Para consultora, aquecimento da atividade dependerá dos níveis do preço do petróleo, apetite de investidores em adquirir novos blocos exploratórios em território brasileiro, além da retomada econômica global pós-pandemia.
A frota de apoio marítimo em águas brasileiras manteve 364 embarcações ao final de julho, sendo 331 delas de bandeira brasileira e 33 de bandeira estrangeira. Os números são os mesmos do mês de junho, segundo o relatório mensal da Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam). Em relação a dezembro de 2015, foram desmobilizadas 162 embarcações de bandeira estrangeira e acrescentadas 82 de bandeira brasileira. A publicação informa que cerca de 40 embarcações, originalmente de bandeira estrangeira, tiveram suas bandeiras trocadas para bandeira brasileira. Nem todas as unidades estão em operação, pois o relatório inclui embarcações que podem ou não estar amparadas por contratos, estar no mercado spot, em manutenção ou mesmo fora de operação. Atualmente, 91% da frota no Brasil correspondem a barcos de bandeira nacional e 9% de outras bandeiras.
De acordo com o relatório, a frota no final de julho era composta por 48% de PSVs (transporte de suprimentos) e OSRVs (combate a derramamento de óleo), totalizando 174 barcos. Outros 19% eram LH (manuseio de linhas e amarrações) e SVs (mini supridores), que correspondem 70 barcos. Os AHTS (manuseio de âncoras) somaram 44 unidades no período, enquanto 24 barcos de apoio eram FSVs (supridores de cargas rápidas) e crew boats (transporte de tripulantes), 17 PLSVs (lançamento de linhas) e 13 RSVs (embarcações equipadas com robôs).
No final de julho, a empresa de navegação com mais embarcações, em operação ou aguardando contratação, foi a Bram Offshore/Alfanave, com 52 unidades (apenas duas estrangeiras), seguida pela CBO que totalizou 31 barcos de apoio offshore e pela Starnav, com 29 — ambas com todas embarcações de bandeira nacional. Segundo o relatório, 23 embarcações faziam parte da frota da Wilson Sons Ultratug, todas de bandeira brasileira. Já a DOF/Norskan tinha nesse período 21 unidades em sua frota, sendo 18 brasileiras e três estrangeiras.
A consultora e gestora de contratos no segmento de óleo e gás, Eliana Lazarini, avalia que muitas dessas embarcações ainda estão sem contrato. Ela lembrou que, antes da pandemia, as perspectivas para as atividades offshore em 2020 eram bastante excitantes e que a oportunidade de retomada deste mercado, que vinha sofrendo com abruptas reduções e períodos de quase inércia por uma longa temporada, foi impactada em toda a malha logística, incluindo a demanda de barcos de apoio. “Companhias se preparavam para grandes projetos sustentadas pelas perspectivas e pelos números apregoados. O mercado ‘respirava’ a expectativa de restabelecimento, como se os anos de crise tivessem sido superados. Existia, ao mesmo tempo, uma pressão nos custos do transporte marítimo”, analisou Eliana.
No relatório mensal de julho deste ano, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) estimou que a demanda por sua produção de petróleo em 2021 deve crescer em 7 milhões de barris por dia. Contudo, para Eliana, este aumento não compensará a crise do consumo em 2020. Ela ressaltou que a projeção não leva em conta, por exemplo, a materialização de riscos atrelados a tensões comerciais entre Estados Unidos e China, dívidas ou uma segunda onda de contaminações por coronavírus.
A consultora observa que, desde antes do início do período de pandemia, o mercado já tendenciava para maior participação de operadoras estrangeiras nas operações no pré-sal até 2023. No entanto, com as mudanças no cenário global decorrentes do novo coronavírus, ainda é precoce admitir qual será a proporção de contratações por petroleiras de outros países. Eliana percebe que os armadores de embarcações de apoio offshore esperam que algumas campanhas exploratórias já previstas para 2021 demandem novas atividades. Ela acrescentou que o Brasil está entre os dez maiores produtores mundiais de petróleo. “O mercado de apoio marítimo no país é ativo e promissor e o que estará efetivamente norteando esse mercado são os níveis do preço do petróleo, as atividades de rodadas de licitações ANP e o apetite de investidores em adquirir novos blocos exploratórios em território brasileiro. Além da retomada econômica global pós-pandemia”, comentou Eliana.