Enquanto ainda não há consenso sobre a forma e o momento de reduzir o distanciamento social, a esperança e os olhos se voltam ao planejamento de medidas para diminuir o impacto da crise provocada pela pandemia do coronavírus na economia, e, principalmente, nos empregos e na renda dos brasileiros.
Nesse sentido, é louvável a resolução nº 01 de 13/04/2020, que institui grupo de trabalho liderado pelo ministro chefe da Casa Civil, com objetivo de “Coordenação de Ações Estruturantes e Estratégicas para Recuperação, Crescimento e Desenvolvimento do País, no âmbito do Comitê de Crise da Covid-19”.
Se por um lado não nos preparamos com a antecedência necessária para enfrentar o vírus, por outro não podemos perder mais nenhum segundo no planejamento e viabilização das medidas para combater a crise econômica, que já assola a parcela mais vulnerável da população.
Os governantes precisam dedicar à crise econômica que se instala a mesma determinação e foco aplicados nas orientações para o distanciamento social e na ampliação da capacidade do sistema de saúde.
É necessária a união nacional em torno das medidas de combate ao desemprego no pós-covid-19, uma batalha nessa guerra que tem que ser tratada pelos brasileiros como a mais importante que o Brasil já tenha tomado parte.
A Fiesp deu uma importante contribuição ao debate quando publicou no dia 18 de abril um documento intitulado “Plano de Retomada da Atividade Econômica após a Quarentena”. Outras entidades empresariais se movimentam cobrando aos governantes um plano similar, como foi o caso do manifesto conjunto dos representantes do setor produtivo no Estado do Ceará. Vemos também alguns prefeitos e governadores incluindo o assunto em seus discursos.
Nesse sentido, o grupo de trabalho liderado pela Casa Civil poderia avaliar a capacidade instalada de geração de empregos de curto e médio prazos do setor naval nacional.
Duramente afetada pela crise, essa indústria vem encolhendo nos últimos cinco anos e a situação atual só tende a piorar ainda mais esse cenário. De dezembro de 2014 para cá, dos 42 estaleiros, 20 fecharam e apenas 15 estão em operação. Os postos de trabalho diminuíram 82%, saindo de 84 mil empregos diretos para 15 mil.
Presente em pelo menos 10 estados da federação de todas as regiões do País, exceto o Centro-Oeste, essa indústria que já gerou tantos empregos tem a capacidade de movimentar a cadeia de fornecedores e de pequenos prestadores de serviços nas localidades nas quais está presente, estimulando outros milhares de empregos indiretos. Na última década, capacitou e qualificou milhares de brasileiros que hoje estão ávidos pela retomada de seus empregos.
As encomendas nos últimos anos foram direcionadas a estaleiros asiáticos, exportando postos de trabalho que poderiam ser criados no Brasil. Competir com tais concorrentes em preço ainda é muito difícil, dada a desequilibrada equação tributária e de encargos trabalhistas que desfavorece a produção naval brasileira. Entretanto, os estaleiros nacionais agregaram conhecimento técnico que possibilitaram atingir níveis de produtividade equivalentes aos melhores estaleiros asiáticos e europeus.
Outra alternativa, não excludente, é propiciar medidas para facilitar o desenvolvimento de projetos de infraestrutura nos terrenos onde estão instalados os estaleiros, aproveitando a localização estratégica e o cais, desenvolvendo usinas térmicas, mini refinarias, projetos de terminais de containers, de líquidos ou de grãos.
Fica lançado o desafio para que nossos governantes encontrem uma equação que possibilite a edição de medidas de curto prazo para o aproveitamento dessa indústria com elevada capacidade instalada e baixíssimo aproveitamento atual.
Ariovaldo Rocha, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval)