“A decisão da Petrobras de encomendar plataformas de produção nos estaleiros asiáticos não foi tomada em decorrência de problemas quanto à qualidade dos produtos brasileiros”, afirma Ariovaldo Rocha, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval).
Rocha assegura que em todas as contratações da indústria naval brasileira, tanto para a Petrobras quanto para outras empresas aqui e no Exterior, ao longo de várias décadas, as condições de qualidade, prazo e preço sempre foram observadas. “A qualidade dos produtos deste segmento industrial brasileiro é reconhecida mundialmente”, destaca o presidente da entidade em nota.
O Sinaval se manifestou após notícias sobre as intenções de contratação, pela Petrobras, de novas plataformas (do tipo FPSO) para o campo de Búzios, na Bacia de Santos. O Sindicato cita problemas técnicos em obras produzidas no exterior, lembrando o primeiro grande navio para transporte de minério, recebido da China pela Vale, que teve problemas estruturais logo no primeiro carregamento. Plataformas construídas na China para a Petrobras tiveram que ficar ancoradas na Baía de Guanabara por longos períodos para reparos e complementações por empresas brasileiras.
Em 2012, a então presidente da Petrobras, Graça Foster, apresentou uma relação de 14 sondas feitas na China e na Coreia previstas para serem entregues naquele ano e que estavam com atrasos de 83 a 864 dias. Das 16 sondas previstas para 2011, apenas 10 foram entregues, com 542 dias de atraso.
Em relação a preços, Ariovaldo Rocha destaca que nenhuma indústria brasileira consegue ser competitiva com os preços praticados na China, e isso ocorre por fatores como o “custo Brasil”, carga de impostos diretos e indiretos, além de subsídios e outras formas de apoio dos países asiáticos aos estaleiros lá estabelecidos.
“Deve-se considerar que uma demanda perene contribuiria para a redução progressiva dos custos brasileiros”, explica Rocha. “A decisão de contratação de plataformas na China pelo menor preço ofertado é, portanto, injusta e prejudica não só os estaleiros brasileiros quanto as indústrias de navipeças nacionais.”
Prejudica também a geração de empregos. A virtual paralisação dos estaleiros levou à perda de cerca de 70 mil postos de trabalho diretos e de 300 mil nas indústrias que compõem a cadeia produtiva.
A exigência de fabricação de plataformas com conteúdo produzido no Brasil permitiu o desenvolvimento dos fornecedores. Nos governos do Partido dos Trabalhadores, o percentual de conteúdo local pulou de 39% para 86%. Em 2017, o Governo Temer (MDB) reduziu pela metade a exigência nos leilões de óleo e gás.