Decisão impede que operadora de FPSO dispute licitações da petroleira brasileira e assine novos contratos de afretamentos
A decisão da Petrobras de suspender a Modec pelo prazo de 13 meses, impossibilitando o grupo japonês de disputar licitações e de assinar novos contratos nesse período, deixou o mercado apreensivo. Ainda que na semana passada já circulassem especulações em torno de um possível bloqueio, a medida foi recebida com preocupação, sendo vista como um recado de endurecimento da petroleira em relação aos fornecedores.
A Petrobras colocou a Modec “na gaveta” no dia 31 de março, data anterior ao final da gestão de Roberto Castello Branco e de parte da Diretoria Executiva da petroleira. Na prática, a operadora japonesa de FPSOs só poderá voltar a disputar os processos da Petrobras em maio de 2022.
A medida foi considerada dura pelas empresas fornecedoras. Companhias concorrentes do segmento de FPSOs e de outras áreas do setor receberam a notícia com surpresa e preocupação, sobretudo pelo fato de a Modec dividir, com a SBM, o posto de maior operadora estrangeira de FPSOs.
Na notificação encaminhada à Modec, a Petrobras alega que a sanção administrativa está relacionada a prejuízos causados por recorrentes problemas operacionais em três contratos de afretamentos. A decisão tem relação com os FPSOs Cidade de Niterói e Cidade de Santos, em operação nos campos de Marlim Leste (Bacia de Campos) e Uruguá-Tambau (Santos), respectivamente, e também com o FPSO Cidade do Rio de Janeiro, cujo contrato foi finalizado em 2019, após anos de operação no campo de Espadarte.
No caso dos FPSOs Cidade de Niterói e Cidade de Santos, os problemas tiveram relação também com o crescimento do número de casos de Covid-19 nas unidades. Na semana passada, circulavam rumores sobre a possibilidade de interrupção da operação dos dois FPSOs em função do alastramento da pandemia a bordo.
No que diz respeito ao FPSO Cidade do Rio de Janeiro, durante o processo de descomissionamento, em agosto de 2019, foram detectadas trincas no casco da unidade, que resultaram no vazamento de óleo. Antes disso, em janeiro, foi registrado outro derrame causado pelo equipamento.
Contratos
A Modec possui, atualmente, sete FPSOs (Cidade Campos dos Goytacazes, Cidade de Itaguaí, Cidade de Mangaratiba, Cidade de São Paulo, Cidade de Angra dos Reis, Cidade de Santos e Cidade de Niterói) e um FSO (Cidade de Macaé) em operação para a Petrobras. O grupo constrói ainda quatro unidades para a petroleira brasileira – Guanabara, Carioca, Almirante Barroso e Anita Garibaldi -, com entrada em operação prevista para o período 2021-2023.
Os FPSOs em operação estão alocados aos principais campos do cluster de Santos, como Lula e Sapinhoá, além de Uruguá, Tartaruga Verde e o complexo de Marlim. As unidades em construção serão instaladas em Mero, Sépia, Búzios e Marlim.
Carteira cheia
Embora considerado severo, o bloqueio imposto pela Petrobras não deve afetar o caixa e nem os planos de crescimento da Modec, que possui carteira robusta e promissora. Além das quatro unidades em construção para a petroleira brasileira, a operadora japonesa constrói também o mega FPSO de Bacalhau para a Equinor, negociando, em paralelo, a contratação do FPSO de Pão de Açúcar.
No momento, a Modec disputa também o bid da Shell para o FPSO de Gato do Mato , ao lado do consórcio BW Offshore / Saipem. No mercado, é dado como quase certo que a empresa possa arrematar, futuramente, a segunda unidade de produção do projeto de Bacalhau.
Além dos contratos em operação com a Petrobras, a Modec tem ainda em carteira os FPSOs Fluminense, em operação para a Shell, no projeto de Bijupirá Salema, e o Cidade de Caraguatatuba, instalado no campo de Lapa, operadora pela Total.
Diante do expressivo número de encomendas de grande porte, a empresa já vinha selecionando bids no Brasil. Quebrando a tradição de processos anteriores, a Modec não apresentou proposta na licitação da Petrobras para o afretamento do FPSO de Mero 4, declinando do bid em fevereiro.
Novas licitações
Embora o bloqueio não deva comprometer os planos da Modec, a decisão pode impactar os rumos das novas licitações da Petrobras. Com a operadora japonesa proibida de disputar novos contratos, as futuras concorrências para o afretamento de FPSOs de grande porte da petroleira brasileira correm o risco de seguir o rastro de Mero 4 e acabar tendo apenas a SBM como ofertante única.
Atenta a essa questão, a Petrobras vem buscando nos últimos anos ampliar o número de ofertantes, abrindo o leque de empresas convidadas. A iniciativa garantiu, recentemente, o fechamento de contratos de afretamento com a Misc Behard e a Yinson, mas ambas não voltaram a bidar em outros processos.
Diante do cenário de bloqueio da Modec e da demanda da Petrobras por novos FPSOs, sobretudo para o projeto de Búzios, especula-se que a petroleira possa vir a rever a estratégia de parte suas futuras licitações. No mercado, há quem enxergue a possibilidade de o atual quadro forçar ainda mais opção pelo modelo de contratação sob regime de EPC (Engineering, Procurement and Construction), em detrimento do regime de afretamento.
A opção pelo modelo de EPC foi retomada recentemente pela Petrobras com os processos em curso da P-78 e P-79, FPSOs programados para os módulos 7 e 8 de Búzios. As unidades estão sendo negociadas com o consórcio Keppel/Hyundai, que apresentou a melhor proposta na licitação.
A Petrobras terá que ir ao mercado para contratar quatro novos FPSOs gigantes para Búzios, destinados aos módulos 9, 10, 11 e 12 do projeto. As unidades deverão ser capacitadas para produzir 225 mil barris/dia de óleo e 12 milhões de m³/dia de gás.
A lista de encomendas da petroleira brasileira contempla também no curto prazo um FPSO de 100 mil barris/dia de óleo para o projeto de Sergipe Águas Profundas. A proposta em estudo, até então, previa a possibilidade de utilização do conceito de BOT (Build Operate Transfer).
A projeção é de que até o final de 2021, a Petrobras lance editais para os FPSOs de Búzios 9 e de Sergipe.
Mudança no board
Na segunda-feira (5/4), alguns dias após a decisão da Petrobras, a Modec anunciou mudanças no comando do board internacional. Após a renúncia de Yuji Kozai dos cargos de CEO e presidente do grupo, sob a alegação de problemas de saúde, Takeshi Kanamori assume as duas posições.
Kanamori ingressou na Modec em 2013. Desde então, o executivo atuou em diversos cargos de comando. Sua posição mais recente era a de vice-presidente executivo.
A aposta é que o grupo japonês otimize o portfólio e invista em novos segmentos. Uma das áreas de foco poderá ser o segmento de energia eólica offshore.