Presidente da câmara setorial da Abimaq avalia que, sem uma política industrial no setor, momento é de diversificação e disrupção, buscando incremento tecnológico para que os produtos tenham diferenciais no mercado e não sejam ‘comoditizados’ ou caiam na ‘guerra de preços’.
A Câmara Setorial de Equipamentos Navais, Offshore e Onshore da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSENO/Abimaq) fechou uma parceria com a Saipem do Brasil, potencial cliente que atua no setor de petróleo e gás. O objetivo é que a câmara possa identificar, a partir das demandas enviadas pela Saipem, os itens de conteúdo local requisitados nos contratos da empresa, que podem ser supridos por fornecedores associados.
O presidente da CSENO, Bruno Galhardo, destacou que a câmara busca aproximar as fabricantes de máquinas e equipamentos nacionais ou estrangeiras, com base instalada no país, das grandes empresas do mercado, sejam oil companies, sejam empresas de construção naval. Atualmente, a câmara tem auxiliado à Marinha e a ThyssenKrupp para identificação de fornecedores locais que possam suprir determinadas demandas do projeto das fragatas classe Tamandaré ou que tenham interesse em desenvolver novas soluções locais que atendam às exigências técnicas.
“Temos nos aproximado cada vez mais da Emgepron [Empresa Gerencial Projetos Navais] com o mesmo objetivo. Nossa parceria com a Saipem é bem semelhante, onde indicaremos potenciais fornecedores que possam elevar o nível de conteúdo local dos projetos deles”, contou Galhardo em entrevista à Portos e Navios. As empresas associadas interessadas em conhecer as demandas apresentadas pela Saipem Brasil podem contactar a CSENO através do e-mail cseno@abimaq.org.br ou do telefone (21) 97204-9407.
Outra iniciativa da CSENO é formar parcerias com consulados e entidades representativas de diferentes países com o objetivo de fomentar parcerias entre empresas estrangeiras e nacionais. “Fomos procurados recentemente por empresas britânicas que desejam ingressar no país e as auxiliamos a encontrar parceiros nacionais em potencial”, revelou o presidente da câmara setorial. A CSENO costuma convidar para suas reuniões mensais empresas de destaque no mercado para apresentações institucionais e que possam trazer suas principais demandas de desenvolvimento nacional. Entre os participantes, a CSENO já recebeu: SBM, Modec, Chevron e IHC. “Essa aproximação é salutar, tanto para estas empresas, quanto para nossos associados”, avalia Galhardo.
O presidente da câmara observa uma maior diversificação, uma vez que as vendas para investimentos (Capex) de construção de novos FPSOs vêm diminuindo ao longo dos anos. Com isso, as empresas estão se adaptando à nova realidade e buscando aumentar seus mercados alvo. Foi o caso da Roxtec, empresa em que Galhardo atua, que precisou fortalecer a atuação em setores como energia elétrica (GTD), telecomunicações, alimentos e bebidas e data centers. No passado, o foco era praticamente baseado em O&G e naval.
Com a realidade atual, a CSENO enxerga oportunidades dentro do mercado de petróleo e gás e naval. Na área de defesa, ele citou o aumento de novos projetos navais, como as fragatas classe Tamandaré, o navio de apoio Antártico (Napant) e os navios-patrulha (Napas 500). Já no setor de petróleo, existem chances na construção de módulos que alguns estaleiros nacionais farão para envio à Ásia. “Temos outros mercados promissores como o de gás, hidrogênio verde e eólicas offshore que, certamente, atrairão muitos investimentos ao Brasil e movimentarão a indústria de máquinas e equipamentos”, projetou.
Com relação à manutenção das unidades existentes, Galhardo percebe um aumento na procura por peças de reposição, principalmente pelos investimentos em revitalização de campos maduros e manutenções periódicas nos FPSOs operando para as grandes operadoras. “Como o número de FPSOs só tende a crescer nos próximos anos, o segmento de vendas para Opex (manutenção) tende a ter cada vez mais relevância para as empresas”, analisou.
O presidente da CSENO identifica a necessidade de uma política industrial séria para o país e acredita que a flexibilização de conteúdo local traz prejuízos à indústria nacional, pois deixa latente que o Brasil não é competitivo, por diversos aspectos. “Defendo fortemente que uma política de conteúdo local deva ser implementada com início e fim pré-determinados. E que, nesse período, outras ações sejam tomadas para que, após esta fase, a indústria não precise mais de conteúdo local para se fazer presente e competitiva nacional e internacionalmente”, afirmou.
A avaliação é que, como atualmente o conteúdo local não tem o apoio governamental necessário, empresas que esperam essa política como salvadora da pátria estarão fadadas ao insucesso. Galhardo entende que o momento é de diversificação e disrupção, buscando incremento tecnológico para que os produtos tenham diferenciais no mercado e não sejam ‘comoditizados’ ou caiam na ‘guerra de preços’. “Diversificação de segmentos é fundamental. Existem diversos segmentos pujantes em nosso país e as empresas precisam se preparar desde já para poder fornecer para esses projetos”, afirmou.