Sinaval defende que setor trabalhe para que a Petrobras coloque nas concorrências de descomissionamento que serviços de destinação final das unidades de produção sejam feitos no país, já que ativos serão repassados a empresas terceirizadas.
O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) alertou que o grande volume de potenciais ativos do setor marítimo para desmantelamento não é garantia de que os serviços serão prestados no Brasil. O vice-presidente executivo do Sinaval, Sérgio Bacci, acredita que, sem cláusulas específicas nos editais obrigando que o desmantelamento seja feito no país, são altas as chances de navios e plataformas ao final da vida útil serem encaminhados para desmonte em países como Índia e Paquistão.
No caso das plataformas, Bacci ressaltou que a Petrobras realiza leilões nos quais os vencedores ficam responsáveis pelo descomissionamento dos poços e posterior desmantelamento. “Se não houver [exigência de desmantelamento no Brasil] no edital, não tenho dúvida que as empresas terceirizadas levarão [os ativos descomissionados] para desmantelar em países onde é mais barato”, afirmou, na última segunda-feira (28), durante sessão da comissão especial da indústria naval e offshore da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Bacci considera que ainda existe muita limitação para a execução de desmantelamento e descomissionamento no Brasil porque esse mercado requer investimentos para os estaleiros se capacitarem para fazer esses serviços, num momento em que muitos deles sofrem com os mais de seis anos de escassez de encomendas de projetos de construção naval. “Hoje, nenhum estaleiro tem condição de investir porque muitos estão parados e aqueles que conseguem fazer investimentos não têm garantia de que serão feitos no Brasil”, analisou.
Ele entende que desmonte e desmantelamento não são suficientes para alavancar uma retomada da indústria naval no Brasil. “Não sou contra, mas precisamos trabalhar para que a Petrobras coloque no edital de leilão que esses serviços serão feitos no Brasil. Se não houver esse pequeno detalhe no edital dizendo que vai ser feito no Brasil, vão fazer onde é mais barato. E, como é feito na construção, no desmantelamento será da mesma forma.
Na ocasião, o contra-almirante Walter Lucas da Silva, diretor-presidente da Associação do Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro, concordou que o futuro dono do ativo descomissionado vai decidir o destino do serviço final conforme as regras do edital e as condições de custos entre os diferentes mercados. A associação identifica uma série de oportunidades para a indústria nacional e para o cluster nos próximos anos, desde o descomissionamento de plataformas, até o desmonte de navios que estão abandonados na Baía de Guanabara e ao longo da costa brasileira e da calha norte. Muitos deles precisam encerrar impasses jurídicos que duram muitos anos. Na região, a associação enxerga oportunidades de desmonte de navios do Uruguai e Argentina. “Não temos só o mercado nacional, temos possibilidade grande de fazer desmonte de navios”, afirmou Silva.