Durante workshop da Sobena, engenheiro Ivson Soares, da ABS, alertou para importância de mapeamento de materiais perigosos a bordo e adoção de medidas preventivas para embarcações a partir de 15 anos.
O Brasil não precisará apenas de estaleiros especializados para realizar atividades de desmantelamento de navios e plataformas de forma ambientalmente correta e sustentável. O engenheiro da ABS e especialista em inventário de materiais perigosos pela Organização Marítima Internacional (IMO), Ivson Soares, avalia que, mesmo que o país venha a ter os primeiros estaleiros especializados e certificados pelas normas internacionais, será necessário formar uma rede e uma regulamentação apropriada para o descarte correto dos rejeitos provenientes dessa atividade.
“Quando pensarmos que teremos um estaleiro preparado, teremos que ter uma rede de uma indústria especializada naqueles rejeitos. É um outro desafio. Precisaremos desenvolver essa outra indústria e ter algumas regras claras definidas para isso”, disse Soares, na última quarta-feira (11), durante o 6º Workshop sobre Descomissionamento e Desmantelamento, promovido pela Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena).
Soares, que a partir de julho assumirá o cargo de manager principal no departamento de engenharia de máquinas do escritório da ABS no Rio de Janeiro, reconhece o expertise da indústria naval brasileira, mas enxerga riscos para o cumprimento dos principais regulamentos internacionais vigentes, principalmente envolvendo meio ambiente e segurança de pessoal.
Para Soares, a vantagem da Europa em relação ao Brasil e aos Estados Unidos é que o velho continente já possui muitas empresas desenvolvidas em países como França, Noruega e Finlândia. Em alguns deles, existem centros de reciclagem de determinados produtos. Ele espera que o projeto de lei relacionado às atividades de desmonte de navios e desmantelamento de plataformas avance e ajude a beneficiar e credenciar a indústria brasileira para esses serviços. O engenheiro, que está baseado no escritório da ABS em Houston, disse que somente um estaleiro norte-americano tem condições de receber materiais radioativos atualmente.
Soares considera já ser uma preocupação a ausência de uma empresa especializada em fazer inventários de materiais perigosos a bordo de embarcações e plataformas. “É um passo que a indústria nacional tem que tomar. Precisa de especialistas para ter estaleiros preparados. Teremos que ter empresas especializadas”, analisou. Ele ressaltou que a empresa que trata dos rejeitos de materiais radioativos não costuma ser a mesma que trata outros tipos de rejeitos.
A resolução MEPC.269 (68) da Organização Marítima Internacional (IMO) define que esse tipo de serviço precisa ser feito por empresas especializadas. Uma consulta feita pela ABS não identificou, até 2021, nenhuma empresa especialista nesse tipo de rejeito no Brasil, somente representantes de empresas europeias. O mesmo na América Central, onde foram identificados dois representantes de empresas europeias no Panamá e um nas Bahamas. A resolução IMO é inspirada na Convenção de Hong Kong (HKC, 2009), cujo objetivo é prevenir, minimizar e eliminar acidentes e lesões à saúde humana e ao meio ambiente, principalmente na reciclagem de navios.
O inventário de materiais perigosos (Inventory of Hazardous Materials — IHM, na sigla original) tenta cobrir todos os materiais perigosos que se tem a bordo hoje e que são listados desde a década de 1990. Soares explicou que, alguns desses materiais continuarão presentes a bordo, mas com maior controle, já que estarão mapeados e documentos nos inventários. Ele elencou que existem itens que podem ser encontrados desde a linha de eixo, motores, boiler, incinerador, compressores, purificadores, guindastes e guinchos até válvulas, tubulação de forma em geral, carpetes e cortinas.
Uma das principais ameaças é o amianto, também chamado de asbestos, que está presente principalmente em navios construídos até o início desse século e que têm aproximadamente 20 anos. “Se pode encontrar em diversos locais asbestos. Com certeza, esse plano é muito importante para um navio com mais de 20 anos. Acredito que, de modo geral, a embarcação com 15 anos já tem que ficar muito atenta com relação a todos esses materiais perigosos”, alertou.