O conteúdo local não pode ser criminalizado, diz Ricardo Ávila, diretor da Ecovix

  • 12/06/2023

Segundo ele, a indústria brasileira de construção offshore praticamente inexistiu nos últimos cinco anos, mas a sinalização de que a Petrobras e a Transpetro pretendem retomar o conteúdo local deve alavancar novos projetos nos estaleiros nacionais.

Após fechar contrato com a Ocyan para realizar serviços de reparo do navio-sonda ODN I, o Estaleiro Rio Grande, administrado pela Ecovix, se prepara para retomar a rota de grandes projetos. Na última semana, o ERG recebeu a visita do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e do presidente da Transpetro, Sérgio Bacci. Segundo o relato do diretor operacional da empresa, Ricardo Ávila, há um desejo genuíno da petroleira em reativar a construção offshore no Brasil, mas é fundamental estruturar uma política de Estado para o setor.

Segundo o executivo, a política de conteúdo local deve ser revalorizada. Hoje, os estaleiros não têm capacidade de financiamento para levar adiante grandes encomendas da Petrobras. “Precisa existir um fundo garantidor de crédito como houve no passado para que grandes projetos possam ser desenvolvidos por empresas nacionais”, disse Ávila. Outro fator limitante é a falta de mão de obra, que se esvaiu junto com o último ciclo de prosperidade da indústria naval. “Um programa nacional para formação de mão de obra é bem-vindo”, alerta.

Ele defende também a desoneração da folha de pagamento e isenção de tributos. Na sua opinião, parte da exigência de conteúdo local poderia ser transformada em compensação para os armadores. “Poderia, por exemplo, gerar alívio na carga tributária”, sugere. O diretor da Ecovix lembra que o CL foi criado como um contraponto ao Repetro. Portanto, se de um lado as petroleiras não pagam impostos federais de importação, de outro deve haver uma parcela obrigatória a ser contratada no país, diz ele.

Ávila, no entanto, é realista. Ele sabe que não há condições de os estaleiros nacionais serem tão competitivos quanto os pares asiáticos. Trata-se, afinal, de uma “competição desigual na origem”. Reconhece, contudo, que há uma vontade política do governo e da Petrobras em estimular o retorno da construção naval brasileira, mas sob novas premissas. “Há uma vontade muita grande de botar o mercado pra rodar, mas também há muita responsabilidade no discurso”, pontuou.

Por fim, ele acredita que a Lava Jato contribuiu para a “criminalização” do conteúdo local. Por isso, os erros do passado não podem se repetir. Ele chama a atenção para que a mobilização do setor não seja feita a qualquer custo, com imposições de níveis de CL e cronogramas inexequíveis. “Não pode haver contratação de muitos projetos no mesmo estaleiro. Ou ainda querer a entrega de 10 navios em apenas dois anos”, concluiu.

Fonte: Petróleo Hoje – Felipe Salgado
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