Presidente da associação disse que está sendo construída uma visão setorial para 2030, 2040 e 2050, a fim de que indústria crie arcabouço legal e se transforme em política de Estado.
A recém-criada Associação Brasileiras das Empresas da Economia do Mar (Abeemar) tem objetivo de desenvolver setores relacionados à economia azul e que têm a indústria naval como principal fornecedor e ativos. A associação, iniciativa do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), surgiu da discussão sobre reativar Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav) e se baseou na necessidade de uma entidade mais moderna, transparente e que tocasse temas mais aderentes ao momento atual e ao contexto mundial, principalmente relacionados à indústria naval e à economia do mar como um todo.
“Precisamos modernizar a indústria naval que ficou parada. É preciso trazer um enfoque moderno, se espelhar em cases de sucesso e em boas práticas e trazê-los para a indústria”, disse à Portos e Navios o presidente da Abeemar, João Azeredo, que também é vice-presidente do Sinaval. Ele acrescentou que a concretização desse processo acontecerá quando houver uma carteira de encomendas para contratação em estaleiros brasileiros, com planejamento e quando superadas as discussões para melhorar o ambiente competitivo.
Azeredo, que após passagem pelo setor elétrico retornou à indústria naval como vice-presidente do Sinaval em 2023, tem a percepção de que os estaleiros nacionais estão atentos e preparados para as novas demandas. “Isso tem se refletido em fundos de investimento vindo para o Brasil e investindo na indústria naval, que está preparada e está ciente dos cuidados que precisa tomar em termos de investimento e para garantir que seja perene”, acredita.
O presidente da Abeemar entende que o tempo é curto para poder montar e garantir que a indústria naval se transforme em política de Estado, assim como em países como Coreia, China e Japão. “A indústria naval vive e estamos construindo uma visão para 2030, 2040 e 2050. Esperamos que dessa vez a indústria crie um arcabouço legal para que ela vire política de Estado e permita que a indústria seja perene nos próximos anos”, afirmou.
Azeredo destacou que a indústria da construção naval no Brasil, que ficou estagnada por cerca de 10 anos, voltou a chamar atenção do mundo. Ele observa em eventos internacionais interesses de outros países e de outras entidades internacionais de fomentar esse setor no Brasil. “Vemos Coreia, China e Japão dominando mais de 90% do mercado mundial e a Coreia e a China estão com slots ocupados até 2027/2028. Começam a surgir oportunidades para o Brasil ‘restartar’ nossa indústria”, apontou. Ele ponderou que a instabilidade e a falta de previsibilidade de demanda do Brasil são vistos como impeditivos pelos potenciais investidores.
A Abeemar tem como pilares temas como eficiência energética, descarbonização, governança, integridade e inovação. Azeredo contou que será criado um canal para a associação e o Sinaval receberem denúncias a fim de aumentar a transparência e a segurança dos associados. Ele destacou ainda a busca por parcerias com startups que tenham desafios ESG (boas práticas socioambientais e de governança) para fomentar negócios. Outra iniciativa será o estabelecimento de métricas de descarbonização dos associados para medir emissões de carbono.
Azeredo, que participa de 9 grupos de trabalho associados à indústria naval, destacou que há uma percepção geral de que todos os agentes do setor estão em sinergia e sabem que precisa chegar a um consenso para retomar as atividades. A avaliação da Abeemar é que a retomada da indústria passa pela confirmação do plano da Transpetro para construção de 25 navios e de um novo ciclo de barcos de apoio marítimo, como ocorreu com os programas Promef e Prorefam a partir dos anos 2000.
“Não pode mais ser ‘voo de galinha’, precisa construir um arcabouço que permita que a indústria seja perene e não aconteça como na vez passada. Os grupos têm a participação de entidades de classe e as ações estão sendo tomadas e avançando”, disse o presidente da Abeemar, citando o lançamento recente do ‘BNDES Azul’, focado em resolver um antigo gargalo da construção naval: o financiamento e suas garantias. A associação vê ainda a construção de balsas e barcaças como um mercado com potencial de internacionalização.
A Abeemar demonstra preocupação com a redução progressiva da frota da Transpetro que, atualmente, tem 26 navios próprios que devem ser zerados até 2030. “Se não renovar [a frota] agora, só vai ter navio de bandeira estrangeira operando aqui. Como ficará o abastecimento? Precisamos ter frota própria mínima que garanta nossa soberania”, indagou Azeredo.