Abespetro e Abemi destacam portfólio e enxergam oportunidades para desenvolvimento e até exportação de projetos alinhados a partir de demandas do futuro
A Associação Brasileira das Empresas de Bens e Serviços de Petróleo (Abespetro) acredita que existem indícios da capacidade dos estaleiros brasileiros de fazer engenharia e inovação de embarcações que serão demandadas nas próximas décadas, como unidades de apoio à construção de eólicas offshore e unidades usadas para injeção de carbono nos reservatórios do pré-sal. A leitura é que, apesar de não haver certeza das demandas por ‘barcos do futuro’, o Brasil tem competência ou pode desenvolver sua engenharia básica e conceitual para novos tipos de projetos nas próximas décadas.
Para o presidente-executivo da Abespetro, Telmo Ghiorzi, o grande desafio para o país é concluir uma política industrial sólida para o setor naval e offshore. “A longo prazo não é só política de governo, é política de Estado. Fazer uma lei no Congresso que perdure por 20 ou 30 anos é um desafio. Se mudarmos de política em 2027 ou em 2028, não conseguiremos fazer esse futuro acontecer. Temos bons desafios e todas as capacidades”, avaliou Ghiorzi.
Ele considera que ter uma grande quantidade de estaleiros, como muitas vezes é apontado por alguns analistas, é uma vantagem, desde que se possa exportar para o mundo inteiro para atender à demanda que eventualmente não houver aqui. “Toda indústria tem ciclos e a maneira de neutralizá-los é precisamente atender a demanda do mercado internacional”, comentou, na semana passada, durante o evento ‘Fortalecimento da indústria naval nacional e o setor energético offshore’, promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), no Rio de Janeiro.
Ghiorzi observa grandes demandas da Petrobras e do Brasil como um todo, além das demandas de mercados externos, as quais considera maiores e mais estáveis. Ele acredita que, havendo uma indústria naval que atenda o mundo inteiro, o país terá estabilidade por muito mais tempo. “É mais difícil, mas quem consegue vender para atender ao mercado europeu, americano, asiático (…), naturalmente, consegue atender ao mercado brasileiro. Nosso grande desafio é transformar o Brasil em um grande polo de exportação de tecnologias e produtos da indústria naval e outras”, sugeriu.
O presidente-executivo da Abespetro destacou que seus associados já exportaram árvores de natal submarinas, o que reforça o potencial brasileiro para exportar embarcações futuramente, sobretudo aquelas para suporte a eólicas offshore. Ele acrescentou que, em outros países, já ocorrem estudos de engenharia para FPSOs de injeção de carbono, chamadas de FCSUs (floating carbon storage units).
A Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) entende que o Brasil possui engenharia básica e de detalhamento disponível no país que, a cada vez que é envolvida, gera um ciclo virtuoso de fornecedores locais, ao passo que, quando desloca para fora do país, cria uma barreira natural. “Todos os grandes estaleiros internacionais têm contratados preferenciais. Na hora que desloca a engenharia para o país, cria valor adicional para toda a cadeia de O&G”, disse o diretor-presidente da Abemi, Joaquim Maia (Toyo Setal).
Maia lembrou que o segmento tem um histórico de participação significativa na construção de plataformas e módulos para a indústria de petróleo e gás, nos últimos 30 anos, desde jaquetas em unidades do Nordeste, passando pelas grandes jaquetas da Bacia de Campos, FPSOs e projetos do pré-sal. A Abemi também sugere a adoção de fluxos de caixa neutros para empreendimentos, a fim de minimizar os impactos das altas taxas de juros do mercado brasileiro, que prejudicam contratados e contratantes.