Estaleiro vê oportunidades associadas ao descomissionamento e à reciclagem de embarcações. Diretor aponta necessidade de política setorial sólida para ampliar competitividade das atividades.
O Estaleiro Mac Laren (RJ) avalia que a indústria naval tem na mesa um grande potencial de negócios proposto ligados ao descomissionamento e à economia circular, com a capacidade de reativação de uma indústria que já foi uma das principais do mundo na construção e que foi desmantelada, nos últimos 10 anos, com a falta de projetos e a consequente desmobilização da mão de obra. A empresa acredita que tem como diferencial uma empresa sem endividamento e um modelo de gestão de negócios com iniciativas sustentáveis em suas instalações.
O grupo observa oportunidades dentro dos investimentos de U$$ 11,4 bilhões, previstos no plano de negócios da Petrobras para 23 plataformas no final do ciclo operacional até 2028. A estimativa, sem outras variáveis, é que as demais 40 plataformas a partir de 2028 representem, pelo menos, mais US$ 19,9 bilhões a serem injetados no mercado.
“Tínhamos uma indústria pujante, forte e estruturada que se desmantelou. Mas, hoje, temos de novo oportunidade de reativar essa indústria que é muito forte”, analisou o diretor geral do estaleiro Mac Laren, Alexandre Kloh, nesta quarta-feira (17), no ‘1º Seminário de Descomissionamento Offshore: desafios e oportunidades’, promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.
O estaleiro entende que a reciclagem de plataformas representa um ganho substancial para o mercado dentro do processo de sustentabilidade. Ele destacou a possibilidade de reaproveitar o aço na indústria siderúrgica, com reutilização da sucata para fabricação de novas peças e equipamentos no estaleiro. “Fabricamos equipamentos subsea que vão ser descomissionados daqui a 20 anos e podem ser usados com selo de origem no descomissionamento dessas plataformas”, explicou Kloh.
O diretor acrescentou que o coral sol, que sempre foi um ‘vilão’ das estruturas offshore, hoje tem em estudo a opção de incineração e reaproveitamento na indústria cimenteira, devido a sua base calcária. Ele citou estudos que concluíram que a espécie bioinvasora não sobrevive na Baía de Guanabara e que, poucas horas após ser retirado da água, perde efeito no ecossistema. “Estamos encontrando soluções para quebrar o paradigma de que esses projetos não podem ser feitos aqui na Baía de Guanabara (…). Estamos conseguindo superar desafios tornando a indústria competitiva”, ponderou.
Kloh ressaltou que a empresa tem perfil multidisciplinar de absorver e atender vários negócios no mercado. O grupo, que já contou com quatro estaleiros e chegou a ter 14 mil trabalhadores, hoje possui duas unidades em Niterói (RJ), uma na Ilha da Conceição e outra na Ponta D’Areia, totalizando mais de 100 mil metros quadrados (m²) de área e 886 metros de cais. O portfólio do Mac Laren inclui participação na construção de módulos, manutenção e reparo de plataformas.
O diretor do Mac Laren elencou que os desafios da atividade passam pela desigualdade de competição com outros países em razão da insegurança jurídica, das leis trabalhistas e da falta de previsibilidade na obtenção de licenciamento ambiental. O diretor também defendeu o estabelecimento de uma política de Estado sólida. “Precisamos desenvolver uma política forte de forma a trazer novamente atratividade ao nosso negócio. Temos agora oportunidade única de reativar essa indústria, que ficou 10 anos adormecida e desmantelada”, concluiu.