Governo do estado do Rio de Janeiro liberou R$ 25 milhões para remoção dessas estruturas naufragadas e que representam risco ambiental e à navegação
Espalhados pelo Canal de São Lourenço, em Niterói (RJ), e por áreas pertencentes aos municípios do Rio de Janeiro e São Gonçalo, cerca de 80 cascos de embarcações abandonados se tornaram um grave problema ambiental e logístico na Baía de Guanabara. Essas estruturas, muitas delas deterioradas e parcialmente soterradas no fundo lodoso, representam risco para pescadores, navegadores e para a biodiversidade local.
Ao longo dos anos, o abandono de embarcações na região cresceu, agravando a poluição da água e dificultando a circulação segura de barcos e navios. Os destroços obstruem rotas de navegação e afetam diretamente as comunidades que dependem da pesca artesanal e do transporte marítimo. Além disso, a presença dessas estruturas afeta o escoamento da água, contribuindo para a degradação do ecossistema.
Neste mês, o governo do estado do Rio de Janeiro liberou R$ 25 milhões para a remoção dessas embarcações abandonadas na Baía de Guanabara. A iniciativa, coordenada pela Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, será executada ao longo de 36 meses com suporte técnico do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). O projeto utilizará um mapeamento georreferenciado realizado pela Capitania dos Portos do RJ para identificar a localização exata dos cascos soçobrados, que serão retirados e destinados corretamente.
A remoção das embarcações será iniciada no segundo semestre, após a licitação de uma empresa para auxiliar o Inea na operação. Até lá, uma Comissão Técnica de Acompanhamento e Avaliação (CTAA) realizará estudos e mapeamentos para garantir a eficiência e segurança do processo. O grupo contará com representantes de órgãos ambientais estaduais, além da Capitania dos Portos, Ibama, Secretaria de Economia do Mar e prefeituras das cidades do entorno da baía.
A remoção dessas embarcações é uma operação complexa. Muitas estão em áreas de difícil acesso, com baixo calado, o que impede a aproximação de equipamentos pesados. Além disso, a falta de informações detalhadas sobre os cascos – como tamanho, material de construção e condições estruturais – dificulta o planejamento técnico. “A degradação avançada dessas estruturas aumenta o risco de colapso e vazamento de resíduos durante a retirada”, observa Ed Nascimento, CEO da AWS Service.
Outro desafio, segundo o especialista em operações navais, é a remoção de embarcações parcialmente soterradas. “Muitos desses cascos estão presos no lodo e exigem um trabalho de escavação e estabilização antes da retirada, para evitar que se desmanchem e liberem materiais contaminantes no ambiente”, explicou Nascimento.
Além do impacto visual de dezenas de estruturas enferrujadas à deriva, os cascos abandonados acumulam resíduos tóxicos, como óleo e tintas, que contaminam a água e prejudicam a fauna marinha. O desgaste dessas embarcações libera metais pesados e microplásticos, agravando ainda mais a poluição da Baía de Guanabara, que há décadas sofre com a degradação ambiental.
O bloqueio de canais de navegação é outro problema crítico. A presença dos destroços reduz os calados operacionais, dificultando a passagem de embarcações maiores e aumentando o risco de acidentes. Em áreas como o Canal de São Lourenço, a atividade econômica também é impactada: “Essa região gera mais de 5.000 empregos diretos e indiretos, mas a obstrução da navegação prejudica as operações de empresas e pescadores”, ressaltou Nascimento.
A remoção dos cascos exige um destino ambientalmente correto para os resíduos. Parte do material pode ser reciclada, como metais e estruturas de fibra de vidro, enquanto componentes contaminantes precisam de tratamento especial. O descarte irregular desses destroços pode causar novos impactos ambientais, tornando a etapa final do processo tão importante quanto a remoção em si.
Além disso, a falta de regulamentação específica para esse tipo de operação no Rio de Janeiro torna o licenciamento ambiental um processo inédito, exigindo planejamento cuidadoso para garantir a segurança jurídica e ecológica da ação.
Especialistas alertam que a remoção dos cascos abandonados precisa vir acompanhada de políticas de prevenção para evitar que o problema se repita. Entre as estratégias sugeridas estão o monitoramento por satélite e drones para identificar embarcações em risco de abandono, sensores de rastreamento em áreas críticas e um sistema de cadastro digital para fiscalizar a movimentação das embarcações.
Além da fiscalização contínua, incentivos para o desmonte sustentável de barcos ao fim da vida útil podem reduzir o descarte irregular. “Sem medidas de prevenção, a Baía de Guanabara pode voltar a enfrentar esse problema em poucos anos”, alertou Nascimento.