O aquecimento do apoio offshore e o fortalecimento da navegação interior, somados às demandas do apoio portuário, têm deixado os fornecedores e distribuidores de motores para embarcações de serviços com boas perspectivas.
As empresas tiveram um 2024 positivo e acreditam que ainda existe demanda reprimida prestes a resultar em novos contratos ao longo de 2025. As contratações da Petrobras, as prioridades concedidas pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM) para o modal hidroviário e a modernização constante da frota de rebocadores renovaram as expectativas de novos negócios.
A Sotreq verifica um aumento no volume de vendas em relação aos anos anteriores. A representante do portfólio da Caterpillar atende a demandas nos segmentos offshore, fluvial, portuário e náutico. “Tivemos projetos significativos no segmento portuário, fornecendo motores de propulsão e grupos geradores para novos rebocadores e no mercado fluvial, que representa uma parcela importante e constante em nossos resultados”, conta Daniel Andrade, consultor de mercado do segmento fluvial da Sotreq.
A demanda por serviços em motores também cresceu no último ano. Andrade diz que o mercado mais aquecido faz com que os clientes esperem um maior suporte à frota e que a empresa se prepare para atendê-los. “Investimos continuamente na nossa estrutura de suporte ao produto, principalmente com a contratação de novos técnicos de campo para atender de forma eficaz essa demanda”, ressalta o consultor.
A Sotreq observa aquecimento nas consultas para novos projetos no mercado de motores, principalmente com a retomada para construção de novas embarcações de apoio offshore para atender as recentes licitações da Petrobras, além do mercado fluvial que, há alguns anos, segue em constante crescimento em sincronia com o volume de commodities agrícolas escoado pelas hidrovias da região Norte.
A Wärtsilä está com perspectivas positivas para fornecimento de motores e equipamentos para projetos de barcos de apoio marítimo contratados pela Petrobras no final de 2024. São cerca de 20 embarcações, entre PSVs (transporte de suprimentos) e OSRVs (combate a derramamento de óleo), da Bram Offshore e da Starnav que vão operar para a Petrobras. Havia uma perspectiva inicial que os equipamentos fossem contratados ainda no ano passado, mas os prazos adiaram as contratações para 2025.
“Esperávamos que os projetos acontecessem em 2024. Houve adiamentos das licitações, o que atrasou um pouco a perspectiva de que tínhamos de que fossem acontecer contratos no ano passado. Estamos com boas perspectivas para esses dois bids”, analisa o gerente sênior de vendas da Wärtsilä na América Latina, Mário Barbosa. Ele acrescenta que a fabricante continua forte no mercado offshore, com destaque para sistemas híbridos e motores prontos para os ‘combustíveis do futuro’ que passaram a ser demandados pela Petrobras.
A Wärtsilä também enxerga a navegação fluvial com grande potencial para 2025 com a renovação e expansão de frota para atender ao agronegócio. Barbosa cita ainda o contrato da LHG Mining, do grupo J&F, assinado em 2024 com estaleiros para barcaças e empurradores e que também deve gerar contratações de equipamentos ao longo deste ano. A fabricante se vê forte para fornecer motores para os empurradores desse projeto, que obteve prioridade de financiamento do FMM e vai estimular o transporte de minérios na Bacia do Paraguai. A construção das barcaças e dos empurradores mobilizará estaleiros das regiões Norte e Nordeste, como Juruá (AM), Rio Maguari (PA) e Enseada (BA).
A Yanmar compartilha da avaliação bastante positiva do segmento de motores marítimos no último ano. Em 2024, a empresa cresceu novamente, tanto em quantidade de motores vendidos quanto em faturamento, alcançando 36% de aumento das receitas e 19% em unidades vendidas. Entre os principais modelos comercializados, as séries 6AYM (755, 829 e 911hp) e 6HYM (600 e 650). A fabricante também registrou uma venda de mix de produtos maior, desde o motor de 464hp até a série 12AYM (V12 do carro-chefe, 6AYM) com 1.400hp.
Na parte de serviços, a Yanmar South America atua em poucos casos, pois quem atende o cliente final nesse quesito são os revendedores e as oficinas autorizadas. Ainda que com volume pequeno, a empresa também identificou um aumento nos serviços, em torno de 5% a 15%, segundo apurou com algumas revendas.
O gerente da filial de Manaus da Yanmar South America, Igor Cabral, diz que houve aquecimento nas consultas para novos projetos no mercado de motores. “Quase 50% das nossas vendas foram para novas construções. Fora o aumento de consulta de novos projetos que ainda não iniciaram as obras”, destaca Cabral.
Ele avalia que, de maneira geral, o destaque é a navegação interior (empurradores fluviais, ferries de carga e passageiros e lanchas de passageiros), com as vendas para empurradores fluviais representando o maior volume. Acrescenta que as vendas para lanchas de praticagem e projetos da cabotagem são relevantes para a Yanmar.
A Volvo Penta faz uma avaliação muito positiva e destaca um crescimento contínuo, superando inclusive o recorde de vendas apurado em 2023, que já havia sido o melhor desempenho histórico da empresa. As vendas de motores marítimos se concentraram principalmente nos modelos D13 litros e D16 litros.
“Nossa atuação é muito intensa em todo o país, pois atendemos as demandas dos clientes em um leque de potência que vai de 400hp a 850hp para motores propulsores. Mas também tivemos uma forte evolução no segmento de motores marítimos auxiliares, com potências que vão de 180 kVA a 695 kVA”, elenca o diretor de motores marítimos da Volvo Penta Brasil, Elpídio Narde.
Outros fatores que puxaram as vendas da Volvo Penta, segundo Narde, foram a qualidade dos produtos, o baixo consumo de combustível e o atendimento na área de serviços, manutenção e pós-venda. A empresa considera que esses pontos têm contribuído para aumentar a rentabilidade dos clientes.
Narde destaca as aplicações de transporte de passageiros, clientes que operam empurradores e o segmento de praticagem. Ele diz que a atuação foi bastante homogênea, alcançando todo o território nacional. Já a procura por serviços se manteve estável. “Ao invés do crescimento da manutenção, tivemos muita renovação de frota de clientes e armadores, contribuindo para o nosso crescimento na venda de motores”, comenta Narde.
A Volvo Penta observa um bom volume de consultas. A leitura da empresa é que esse crescimento se deve principalmente ao desempenho dos motores, que têm um excelente TCO (custo total de propriedade). Uma das vantagens é que o investimento de aquisição se paga com larga margem com sua alta produtividade. “É um comportamento muito visível entre os motores D6, D8, D13 e D16. Sabendo como os produtos Volvo Penta são muito procurados por esta razão, além de seu excelente rendimento energético, mais clientes têm cada vez mais optado por motores da marca”, diz Narde.
A Volvo Penta está presente em praticamente todas as aplicações na América do Sul. Segundo Narde, a empresa está otimista para negócios em transporte de passageiros, cabotagem, praticagem, navegação interior, pesca e até aplicações militares e em setores governamentais. “Nosso amplo e completo portfólio nos garante um leque enorme de atuação. Nosso DNA é marítimo, e o mercado sabe disso. Nosso portfólio vai de motores de 4 litros até 16 litros. É um leque muito robusto de produtos”, salienta Narde.
A Scania atribui os bons resultados, em parte, ao mercado de Manaus, onde identificou a necessidade de renovação, principalmente transporte de pessoas e carga. Essa necessidade de motorização está em linha com os produtos de 550hp a 600hp, da fabricante. A empresa informa que, em 2024, houve uma concentração maior em Manaus pela quantidade de barcos mais antigos do que em Belém (PA), o que fez com que a taxa de renovação se desse em marcha maior. Historicamente, esses dois centros possuem demandas equivalentes.
“Foi um ano bom, acabamos tendo vendas robustas e crescendo em market share dentro de 2024. Embora investimentos para segmento tenham caído, avançamos um pouco dentro do mercado”, relata o gerente de vendas de soluções de potência da Scania Operações Comerciais Brasil, Rafael Bilmayer Ferreira. Ele acrescenta que o mercado do transporte de carga no Sudeste é mais cíclico e dependente dos volumes movimentados pelo agronegócio e associado ao nível de atendimento do modal rodoviário.
Na navegação interior, o maior mercado para a Scania são os empurradores de balsa de trigo e milho que descem pelos rios Paraná e Tietê, chegando a Pederneiras, no interior de São Paulo, onde essa carga é transportada pela linha férrea. Segundo Ferreira, esse mercado não era conhecido há cerca de sete anos e, a partir da procura de alguns embarcadores, a Scania ofereceu motores de 13 litros com consumo eficiente de combustível. “Para esses embarcadores, é importante diminuir a quantidade de diesel por tonelada transportada”, afirma Ferreira.
A Cumins Brasil viu 2024 como um período de consolidação e crescimento para a empresa no mercado marítimo, especialmente nos segmentos de luxo, apoio offshore e geração de energia embarcada. A Distribuidora Cummins Brasil (DCB), própria da Cummins no Brasil, responsável pelo atendimento em sete estados brasileiros (BA, SP, RJ, ES, SE, MT e MS), registrou vendas expressivas de motores para iates e barcos de luxo, atendendo embarcações de até 60 pés, equipadas com dois motores cada.
O gerente da DCB, filial Rio de Janeiro e Macaé, Marcelo Felippetto, diz que os modelos QSB 6.7 (potência entre 380hp e 550hp) e QSC 8.3 (600hp) foram os mais comercializados para esse segmento, reforçando a presença da marca neste setor. Outro destaque, segundo Felippetto, foi o aumento da demanda por modelos Swing – motores de substituição para embarcações de apoio offshore que atendem às plataformas da Petrobras. Esses barcos utilizam motores de alta potência (HHP – High Horse Power), como os QSK 50 e QSK 60, com variação de 1.700hp a 3.000hp, permitindo que as operações continuem sem interrupções durante manutenções ou overhauls.
Além disso, o mercado de grupos geradores marítimos também se fortaleceu. A Cummins atendeu a essa demanda com geradores marítimos da marca, que variam de 88 kVA a 2.400 kVA, e se destacam pela confiabilidade e conformidade com as exigências de agências classificadoras como ABS, DNV e Lloyd’s Register, essenciais para a certificação e operação das embarcações.
Entre os projetos estratégicos de 2024, a Cummins forneceu motores para embarcações da Marinha do Brasil no Sudeste, incluindo dois barcos da classe ETPS (Embarcação de Transporte Pessoal). Cada unidade foi equipada com dois motores QSL9 de propulsão e dois geradores de 140 kVA.
A Cummins observa que o ano de 2024 também foi marcado por um aquecimento expressivo nas consultas e projetos em desenvolvimento, tanto no setor de apoio offshore quanto no transporte fluvial. Um dos projetos mais relevantes é a renovação da frota da Transpetro. O programa ‘TP25’ prevê a contratação de 25 novas embarcações nos próximos seis anos, incluindo navios da classe Handy, gaseiros e aliviadores. Esse programa representa uma grande oportunidade para fornecedores de motores e geradores marítimos.
Além disso, fabricantes de rebocadores demonstraram interesse nos grupos geradores Cummins, à procura de economia de combustível e durabilidade. “O diferencial da marca está na tecnologia de duplo mancal, que oferece maior estabilidade ao grupo gerador diante das variações de corrente marítima”, afirma Felippetto.
O crescimento dos investimentos e a atuação de empresas líderes na região Norte também têm impulsionado a indústria naval, resultando em um aumento expressivo nas consultas para novos projetos. Na visão da Cummins, esse movimento reflete não apenas o fortalecimento do setor, mas a crescente qualificação dos estaleiros locais, que se consolidam como referências no cenário nacional. Com a demanda aquecida, o mercado busca soluções inovadoras e eficientes, reafirmando o potencial da região como um polo estratégico para o desenvolvimento da navegação interior no Brasil.
Atualmente, os segmentos da navegação com maior potencial de crescimento para a Cummins incluem o apoio offshore, impulsionado pela retomada dos investimentos da Petrobras e pelo projeto TP25 da Transpetro, que deve aumentar a demanda por motores para embarcações de apoio, rebocadores e navios especializados nos próximos anos.
O setor de embarcações recreativas e de luxo segue em expansão, com a construção de iates e barcos de alto padrão para exportação. Além dos iates, há um mercado crescente de barcos médios, entre 38 pés e 45 pés, voltados para pesca esportiva e lazer, muitos dos quais utilizam motores Cummins em configuração dupla para garantir desempenho e confiabilidade.
A navegação fluvial, com destaque para o transporte de cargas, continua sendo uma alternativa estratégica ao modal rodoviário, especialmente no escoamento de grãos e outros produtos. A Cummins tem participado de cotações para empurradores, acompanhando o crescimento desse mercado. “A região Norte, amplamente abastecida por hidrovias, também tem ampliado sua capacidade portuária e diversificado seus serviços, o que impulsiona o crescimento desse setor”, revela Diogo Xavier, gerente-geral da Noroeste Máquinas e Equipamentos, distribuidor Cummins responsável pelos estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia.
Outras oportunidades vislumbradas pela Cummins abrangem o suporte às operações logísticas de grãos, combustíveis e cargas em geral. A empresa entende que, com um papel vital no abastecimento nacional, a navegação fluvial e marítima continua em ascensão, exigindo soluções robustas e eficientes para garantir maior competitividade e eficiência operacional no transporte de cargas e passageiros.
Barbosa vê a Wärtsilä liderando a transição energética no setor. “Temos nos preparado ao longo de muitos anos para estarmos prontos para oferecer o que o mercado espera da gente, que hoje são soluções de descarbonização. Todos os projetos hoje têm uma pegada de descarbonização e, em consequência, entramos com muita força. O sucesso é global”, afirma o executivo.
Ele destaca o motor de quatro tempos de metanol e o motor de amônia, lançado recentemente e que firmou contrato de conversão na Noruega. Outro destaque é o desenvolvimento em curso de motores relacionados ao etanol no Brasil, que se alinha com estratégia de projetos do offshore brasileiro.
Barbosa lembra que houve a primeira grande transição a partir da exigência dos sistemas híbridos com baterias, que a Wärtsilä desenvolve desde 2017. Mais recentemente, vieram as reflexões sobre quais serão os ‘combustíveis do futuro’. “Quando se aponta o álcool como alternativa, que pode ser metanol ou etanol, pensamos logo em etanol quando vemos o Brasil”, ressalta Barbosa.
Os novos navios da Transpetro também estão no radar da Wärtsilä. Barbosa explica que os navios Handy se encaixam no escopo do portfólio da fabricante e que há perspectiva de que os novos navios gaseiros (LPGs) também caiam dentro da faixa de motores de quatro tempos, de média rotação, na qual a empresa é competitiva por conta do tamanho das embarcações e da velocidade que vai operar.
“Também estamos nessa perspectiva, 2025 tende a ser um ano extremamente promissor. Ano passado já era, mas por razões burocráticas, de reinício dos estaleiros e dos operadores. A inércia estava um pouco grande, então tomou mais tempo para retomar efetivamente a construção”, avalia o gerente sênior de vendas da América Latina da Wärtsilä.
No segmento de embarcações militares, a Wärtsilä participou dos dois últimos grandes projetos da Marinha do Brasil. A empresa forneceu o sistema elétrico das fragatas classe Tamandaré em construção no estaleiro da thyssenkrupp, em Itajaí (SC). A fabricante também entregou a parte de geração e sistema elétrico de propulsão do navio polar Almirante Saldanha, em construção no Espírito Santo. Barbosa conta que os projetos de navios de patrulha costeira não estão dentro da faixa de atuação da Wärtsilä, pois são motores de alta rotação. Há expectativa, porém, em torno de outros projetos de navios patrulha offshore.
Hoje, os principais investimentos da Caterpillar estão voltados para a redução de emissão de CO2 dos equipamentos. “A utilização de combustíveis alternativos é um dos pilares para o segmento naval e acreditamos que os combustíveis à base de álcool, como metanol e etanol, terão um papel fundamental nesta jornada”, afirma Andrade, da Sotreq. O consultor também chama a atenção para a performance e eficiência. Em 2024, a Caterpillar lançou um novo motor (C32B), que atinge até 2.400hp em um equipamento de 12 cilindros, para o mercado náutico, e que terá sua versão comercial lançada em 2025.
A Yanmar entende que a busca por equipamentos que operem com combustíveis alternativos como metanol, etanol, biocombustíveis, amônia e hidrogênio, é o que mais vem evoluindo em termos de tecnologia para motores, sempre com o objetivo na redução dos gases de efeito estufa (GEE).
Narde diz que a Volvo Penta está atenta às necessidades dos clientes, lançando novas tecnologias e soluções para melhorar a produtividade, a eficiência energética, sempre de olho na sustentabilidade e na redução do impacto ambiental. Ele afirma que a empresa é referência quando se trata de menor consumo de combustível, além de atender às mais rigorosas normas globais de emissões de gases poluentes. “Temos sido pioneiros em muitas tecnologias e oferecemos uma completa linha de sistemas de propulsão e acessórios que garantem uma melhor performance para embarcações”, destaca Narde.
A Volvo Penta avalia que tem respondido bem ao crescimento das exigências para os fornecedores de motores, graças ao ‘DNA marítimo’ e voltado para a inovação e ao cuidado com o meio ambiente. Narde ressalta que as soluções atendem a todas as regulações governamentais de emissões em todos os mercados onde a empresa está presente, como a IMO III e EPA Tier 4. Ele destaca ainda a confiabilidade e a alta disponibilidade dos equipamentos.
Narde considera que os centros autorizados da Volvo Penta são fundamentais num cenário em que as demandas de serviços vêm crescendo. Ele conta que a empresa está num ritmo de expansão, com uma ampla rede de distribuidores por todo o Brasil. “Principalmente nas regiões onde o setor é mais forte, a rede é a extensão da marca junto aos clientes. Estes braços especializados cada vez mais melhoram o suporte da Volvo Penta ao produto e ao cliente, onde eles estiverem”, acrescenta Narde.
Na visão da Cummins, a evolução tecnológica dos motores marítimos tem sido impulsionada por avanços significativos em eficiência energética, desempenho e sustentabilidade. Felippetto diz que a empresa tem aprimorado suas soluções para oferecer motores mais econômicos, robustos e alinhados às exigências ambientais, garantindo maior confiabilidade e competitividade para o setor.
A eficiência energética e o desempenho operacional têm sido determinantes nessa evolução. Tecnologias como a injeção eletrônica XPI (Common Rail) otimizam o consumo de combustível e reduzem custos operacionais, proporcionando maior potência com menor impacto ambiental. Além disso, os motores Cummins incorporam sistemas avançados de pós-tratamento de gases e gerenciamento eletrônico da injeção, garantindo redução expressiva de emissões sem comprometer a performance.
Felippetto vê o compromisso com a redução de emissões moldando a evolução do mercado. Segundo o gerente da Distribuidora Cummins Brasil, os motores da fabricante já atendem às rigorosas normas ambientais IMO, EPA, RCD e EU, enquanto no Brasil a empresa segue padrões que permitem o uso de biodiesel B20, com estudos em andamento para a viabilidade de misturas mais elevadas, como o B100. O interesse crescente por biocombustíveis, especialmente no transporte fluvial, tem gerado novas demandas e impulsionado investimentos na adoção de combustíveis mais sustentáveis.
No cenário global, a Cummins investe no desenvolvimento de motores a hidrogênio e eletrificação. Em parceria com o governo britânico, a empresa participa da criação de uma embarcação movida a hidrogênio e baterias elétricas, um projeto inovador que pode influenciar futuras aplicações no Brasil. No entanto, a adoção de motores a gás para aplicações marítimas ainda enfrenta desafios logísticos e operacionais, tornando essa tecnologia pouco viável no país no curto prazo.
No mercado brasileiro, a regulamentação ambiental e os desafios operacionais têm preservado a forte presença dos motores mecânicos, especialmente na região Norte. Apesar de mais tradicionais, esses motores continuam evoluindo, incorporando melhorias que os tornam mais eficientes e alinhados às exigências ambientais, sem comprometer a robustez e a facilidade de manutenção — características essenciais para a navegação interior e o escoamento de cargas pelas hidrovias.
Os projetos mais recentes de embarcações têm imposto desafios estratégicos para os fornecedores de motores marítimos, que precisam equilibrar tecnologia avançada, suporte técnico ágil e disponibilidade contínua de peças para atender às crescentes exigências do setor. A escolha dos motores não se baseia apenas no investimento inicial, mas cada vez mais na análise do custo total de propriedade e operação ao longo da vida útil dos equipamentos, exigindo soluções que combinem eficiência, confiabilidade e facilidade de manutenção.
Entre os principais desafios enfrentados pelo setor, os prazos de entrega curtos se destacam como um dos mais críticos. Muitos estaleiros constroem as embarcações antes de definir os motores, reduzindo significativamente o tempo disponível para fabricação, importação e instalação dos equipamentos, o que exige dos fornecedores uma logística bem estruturada para garantir a entrega dentro dos cronogramas. Além disso, as exigências de certificação também impõem um alto nível de complexidade ao processo. As embarcações precisam atender às normas de sociedades classificadoras como ABS, DNV e Lloyd’s Register, o que demanda motores compatíveis e processos rigorosos de homologação para garantir a conformidade regulatória.
A customização dos projetos é outro fator essencial. Cada embarcação possui requisitos específicos, exigindo um trabalho técnico detalhado para a escolha do motor ideal, considerando potência, peso e integração com outros sistemas a bordo. Após a instalação, os motores ainda passam por um rigoroso processo de comissionamento e testes, incluindo a prova de mar, garantindo que estejam operando dentro dos padrões exigidos para máxima confiabilidade.
Na região Norte, onde as distâncias são vastas e a logística desafiadora, a confiabilidade dos motores e a eficiência no pós-venda tornam-se fatores decisivos. O suporte técnico especializado e a manutenção acessível são fundamentais para garantir a continuidade das operações, especialmente em rotas fluviais estratégicas para o escoamento da produção nacional.
“Os fornecedores que oferecem alto desempenho, suporte técnico ágil e disponibilidade de peças se destacam como parceiros essenciais para o sucesso das operações no setor naval”, aponta Xavier, da Noroeste. Ele considera que a Cummins se diferencia ao oferecer suporte completo desde a escolha do motor até a instalação e validação final, garantindo que as embarcações operem dentro das especificações exigidas e com eficiência ao longo de sua vida útil.
Para a Sotreq, cada segmento possui exigências específicas para os fornecedores. No segmento fluvial, por exemplo, logística para distribuição de peças e atendimento de serviços em regiões mais remotas sempre é um desafio. A Sotreq possui uma equipe dedicada para o mercado marítimo e uma estrutura física robusta com filiais espalhadas em toda costa brasileira e nas principais hidrovias, com destaque para Belém (PA), Manaus (AM), Itaituba (PA) e Porto Velho (RO).
No offshore, existe uma demanda maior para atendimentos de normas mais restritas de emissões (IMO III), além da utilização de combustíveis alternativos, o que gera uma discussão importante, quando se fala em novas tecnologias que, muitas vezes, ainda estão em desenvolvimento.
A Sotreq recomenda aos clientes analisarem a relação entre Capex e Opex, pensando em toda vida útil do motor, que seria o custo total de propriedade (TCO). Segundo Andrade, a avaliação imediata é muito direcionada para o custo inicial na aquisição do equipamento, ficando em segundo plano uma avaliação mais detalhada sobre os impactos e resultados ao longo de todo o período que aquele equipamento será utilizado.
Cabral afirma que a Yanmar tem conseguido atender a maioria das especificações técnicas dos projetos, porém o prazo de entrega em alguns projetos tem se tornado um desafio. Como a demanda mundial aumentou, principalmente nos estaleiros e mercados asiáticos, nos quais a Yanmar tem grande participação de mercado, ela tem ocupado boa parte da produção e exigido um planejamento de maior antecedência do que há dois anos, por exemplo.
Além disso, houve a seca na Amazônia e o congestionamento no Canal do Panamá, o que aumentou o prazo de chegada dos motores que vêm do Japão. Um embarque que demorava de 50 dias a 60 dias para chegar em Manaus passou a chegar com 90 dias, em alguns momentos. “Por esses fatores, estamos antecipando e aumentando nossos pedidos para atender a demanda do mercado”, explica Cabral.
A Cummins verifica que, em 2024, a navegação na região Norte recebeu um impulso significativo, com investimentos que ultrapassaram R$ 5 bilhões — o maior volume desde 2012. Esses recursos do Fundo da Marinha Mercante (FMM) foram direcionados principalmente para a navegação interior, apoio marítimo, portuário e cabotagem, impulsionando a demanda por equipamentos de alto desempenho.
Esse cenário favorável se refletiu diretamente no crescimento das vendas, com aumento superior a 30% em comparação a 2023 da Noroeste Máquinas. Entre os principais equipamentos comercializados na região destacam-se motores QSB 6.7 (250HP), NTA855 (400HP) e série K (600 a 1200HP) configurados como marítimos principais (MCP) e 6BTA (180 a 200HP) auxiliares (MCA), geradores com motorização das famílias B, QSG, QSB, QSL e QSX e outras soluções do portfólio Cummins.
“A Noroeste Máquinas, juntamente com a DCML, responsável pelos mercados do Pará, Amapá e Maranhão, desempenharam papel estratégico nesse avanço, fornecendo tecnologias confiáveis e suporte especializado para o setor naval”, explica o gerente-geral da Noroeste Máquinas e Equipamentos, Diogo Xavier.
Felippetto avalia que a demanda por serviços também cresceu significativamente em 2024, impulsionada principalmente pelo setor de petróleo e gás, pela expansão do transporte hidroviário na região Norte e pela crescente exigência por equipamentos mais robustos e de maior capacidade. A DCB intensificou a realização de overhauls completos, desmontando e recondicionando motores para garantir maior durabilidade e eficiência operacional. “Esse serviço tem sido essencial para embarcações que operam em apoio offshore, minimizando o tempo de inatividade e assegurando a continuidade das operações”, diz Felippetto.
Além das atividades realizadas na oficina do Rio de Janeiro (RJ), a Cummins ampliou sua atuação em campo, enviando técnicos especializados para manutenção preventiva e corretiva diretamente nas embarcações, garantindo suporte ágil e eficaz. O fornecimento de peças originais também registrou crescimento, reforçando a preocupação dos clientes com a longevidade dos motores e a disponibilidade operacional das frotas.
Xavier, da Noroeste, conta que a região Norte se tornou um polo estratégico para serviços marítimos, com o crescimento do transporte fluvial para o escoamento da produção agrícola e industrial. A Noroeste tem ampliado suas operações nos estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia para oferecer suporte técnico qualificado e peças genuínas, acompanhando essa crescente demanda.
Ele frisa que a rede de distribuidores Cummins oferece estoque estratégico de peças e profissionais certificados, assegurando alta confiabilidade e máxima disponibilidade para os motores em operação. Segundo Xavier, o compromisso com excelência e inovação fortalece a competitividade dos clientes e impulsiona o desenvolvimento sustentável do setor marítimo.
O potencial para transporte de pessoas que a Scania verifica na região Norte já traz a percepção de que os donos de embarcações buscam projetos mais eficientes, com menor custo de manutenção, baixo consumo de combustível e mais rápidos, de forma a permitir o transporte dos passageiros em segurança e com menor tempo de deslocamento. “Esse é um movimento que começou em 2024, deve se estender para 2025 e 2026 e temos solução aderente com essa demanda. O mercado do Norte salta aos olhos, essa renovação vai acontecer”, destaca Ferreira.
Uma das demandas que se acoplou bem aos motores da Scania foi a propulsão a hidrojato, importada para embarcações na região Norte. Ferreira explica que essa tecnologia é importante para garantir a navegabilidade, sobretudo em períodos de estiagem.
“Fizemos alguns testes e estão utilizando, especialmente com nossos motores de 16 litros. Fizemos cálculos de vibração para ver se o hidrojato se casava com nossos motores e liberamos através da nossa engenharia”, celebra Ferreira.
Ferreira afirma que, se demandados, os equipamentos de prateleira da Scania já são capazes de operar no nível III da Organização Marítima Internacional (IMO). Ele acrescenta que, desde 2023, os motores Scania saem de fábrica prontos para rodarem 100% de biodiesel. Segundo Ferreira, a Raízen incentivou a engenharia da empresa a buscar essa solução com menor pegada de carbono e menor consumo de combustível para aplicações marítimas. Com a solução de engenharia dominada, o desafio agora é encontrar provedores de biodiesel para garantir um ecossistema de fornecimento bem embasado, dando fluidez e diminuindo a pegada de carbono.
Ferreira diz que um dos diferenciais é que a Scania consegue lançar alguns de seus produtos para diferentes divisões do grupo, seja para caminhões, geração energia, linha industrial e marítima. Essa flexibilidade permite dividir a tecnologia em toda gama de produtos.
A Scania identifica uma ‘via de mão dupla’, com o mercado começando a demandar soluções diferentes e os fornecedores mais atentos conseguindo reagir ou ofertar de forma mais condizente com as novas tendências. “Esse é um movimento que temos visto, o mercado mudando, se profissionalizando mais, levando em consideração a vida útil do produto, quanto vai custar para operar e qual o nível de impacto esse produto deixará ao longo da vida útil dele. Isso está acontecendo”, aponta Ferreira.