Alexandre Kloh, do Mac Laren: ao menos 10 anos de oportunidades

  • 13/08/2025

VP do grupo destaca participação na retomada da construção de petroleiros no Brasil, além do projeto do dique flutuante e aposta no conceito ‘One Stop Shop’, em parceria com outras empresas. Executivo defende fortalecimento de políticas para dar mais competitividade à indústria naval brasileira

O grupo Mac Laren enxerga um horizonte promissor para a indústria naval, pelo menos, pelos próximos 10 anos. Além da participação na retomada dos grandes projetos de construção naval, no consórcio com a Ecovix, para a construção de quatro petroleiros Handy para a Transpetro, o Mac Laren está atento ao mercado de reparos e serviços e ao aquecimento do segmento offshore. A construção de um dique flutuante, que está em fase final de financiamento, vai demandar US$ 50 milhões de investimentos. Na semana da 19ª Navalshore, o Mac Laren também vai dar destaque ao conceito ‘One Stop Shop’, junto a empresas parceiras, e que é outra forte aposta.

O vice-presidente do grupo Mac Laren, Alexandre Kloh, observa que o segmento de construção naval está em processo de retomada e que as atividades ligadas à logística offshore (manutenção e reparo), que independem da construção, também estão em alta. No caso dos reparos, a leitura é que falta infraestrutura para atender ao volume e tipos de embarcações hoje instaladas e operando no Brasil. Kloh ressaltou que os grandes estaleiros do país não foram concebidos para serem instalações dedicadas à manutenção ou reparo, pois foram vocacionados à fabricação de FPSOs e módulos, por exemplo.

O executivo disse à reportagem que o dique flutuante será um diferencial importante para o negócio e que vai trazer em torno de 2.000 a 4.000 novos trabalhadores. “A construção do dique foi uma decisão muito certeira da empresa, no momento muito importante da nossa indústria. Será o maior dique do hemisfério sul e coloca o Mac Laren em posicionamento entre as três maiores empresas do Brasil em atendimento à indústria naval”, estima Kloh.

O cronograma de construção da estrutura flutuante é de 12 meses. Esse projeto recebeu prioridade do Fundo da Marinha Mercante (FMM) e a empresa está em conversas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), acertando detalhes como garantias e a modalidade de contratação. Segundo Kloh, esse é um projeto inovador, diferenciado e único da América Latina. “Não tem nenhum outro equipamento similar ao que será construído por nós. Robusto e com capacidade de içamento de 15 mil toneladas. Vamos ter capacidade de atender embarcações de até 160 metros de comprimento”, afirmou. Ele acrescentou que é um dique modular, que poderá ser estendido para até 210 metros.

A construção dos Handy da Transpetro tem previsão de iniciar as obras ainda no segundo semestre deste ano. As quatro embarcações vão começar a ser construídas no Estaleiro Rio Grande-ERG (RS) e o acabamento avançado e comissionamento serão em Niterói (RJ), no Mac Laren. Portos e Navios apurou que, no momento, o projeto aguarda a assinatura do contrato de eficácia, que pode ocorrer até o final de agosto. A expectativa é que, em algum momento, as obras alcancem o pico de construção de todos os quatro cascos simultaneamente.

Kloh disse que a equipe de engenharia do Mac Laren já está trabalhando no projeto e que toda a infraestrutura financeira, jurídica, contábil, fiscal, comércio exterior e suprimentos está dentro do escopo. Parte da mão de obra já está contratada no ERG. Ele explicou que as equipes da Ecovix e do Mac Laren já interagem e estarão presentes acompanhando o dia a dia e todos os avanços das obras, tanto em Rio Grande quanto em Niterói.

O cronograma contratual dos Handy prevê a construção em até 48 meses, mas Kloh acredita que seja possível antecipar a entrega em até um ano. “Envidaremos todos os esforços para que a construção aconteça no menor prazo possível. O time de engenharia e planejamento trabalha em estudos para antecipar a construção e conseguir entregar em até 36 meses”, afirmou.

Hoje, o Mac Laren tem aproximadamente 450 colaboradores e, com o projeto dos Handy deve chegar a 2.450 profissionais. “Vejo potencial de incremento de até 6.000 funcionários num horizonte de 5 a 10 anos”, calculou Kloh. A estimativa dele tem como base toda a demanda projetada de construção, manutenção e reparo versus a atividade logística offshore.

Conteúdo local
A previsão do percentual de conteúdo local dos navios Handy foi ajustada, de 65% para 50%, devido à revisão da proposta técnica e financeira apresentada, a pedido da Transpetro, que tinha um orçamento de construção menor do que o proposto pelo consórcio vencedor, que foi a único a bidar no certame. “Reavaliamos nossa proposta e se fez necessário redução de 9%. Isso teve impacto direto no conteúdo que tinha inicialmente uma previsão de 65% de conteúdo nacional e ficou na faixa de 50,05%”, explicou. Para Kloh, é possível aumentar esse percentual de conteúdo nacional se houver uma política econômica mais agressiva. “Não é um percentual ruim [50%], mas podemos conseguir, com algumas políticas econômicas, trabalhar para aumentar o percentual desse conteúdo”, acredita.

O VP do Mac Laren disse que esse é um grande projeto, que conta com desonerações e incentivos de dispositivos como Drawback, pré-REB e REB (Registro Especial Brasileiro), além da depreciação acelerada, que faz com que a construção nacional fique mais competitiva em relação aos concorrentes internacionais, uma vez que eles não se beneficiam dessa modalidade. Ele falou ainda que é preciso considerar o custo de nacionalização e transporte, uma vez que essas embarcações vão integrar um ativo circulante da Petrobras. “Hoje vejo viabilidade grande de se construir no Brasil considerando em torno de 65% de conteúdo nacional, o que posiciona a gente para alavancar muito mais os estaleiros”, analisou.

Kloh reconhece que existe uma grande responsabilidade desse projeto por se tratar do primeiro contrato depois de 10 anos de retração e paralisação da indústria naval nacional. “Sem dúvida, esse contrato tem peso muito relevante para o mercado nacional e para as duas empresas (Mac Laren e Ecovix). Não precisamos demonstrar capacidade produtiva e operacional já que a história das empresas fala por si só”, ponderou. Ele destacou que o Mac Laren, que está em operação desde a década de 1940, participou da construção da primeira frota de embarcações de apoio marítimo no Brasil, bem como das primeiras plataformas e outros projetos do setor de petróleo.

“Sem dúvida, tem esse peso e essa responsabilidade. Falando da retomada da indústria naval, considerando o cenário que a Petrobras vem apresentando e o cenário que a Transpetro com o ‘TP 25’ já apresentou que vai acontecer nos próximos 12 meses, temos demanda de construção para próximos 10 anos”, espera. Essa programação traz uma perspectiva muito positiva para o setor. O VP do Mac Laren considera, no entanto, que é preciso trazer de volta a confiabilidade dos demais segmentos que têm relação com projeto de construção naval, como grandes bancos e seguradoras.

Segundo Kloh, muitos desses agentes estão avessos ao risco de construção naval dado ao que aconteceu no passado. “Temos que olhar para frente, não podemos ficar focados no que aconteceu no passado”, sugeriu. Ele conta que a contratação dos seguros foi um desafio para os Handy, com algumas dificuldades para superar em relação à adesão ao risco da construção naval. O projeto dos Handy tem o Bureau Veritas (BV) como sociedade classificadora.

Em relação às discussões macroeconômicas, a avaliação é que as taxações não impactam a construção das embarcações, mesmo 49% do contrato sendo comprados em dólar. Kloh explicou que, mesmo se o dólar sofrer uma oscilação muito grande, o contrato prevê uma forma paramétrica de equalização em caso de variação cambial. Na última semana, por exemplo, a moeda americana sofreu queda.

Um dos fatores que elevaria novamente o percentual de conteúdo nacional é se o aço fosse adquirido no Brasil. “Em relação à guerra tarifária, temos expectativa de que a indústria nacional venha a refletir no seu preço se tornando mais competitiva e atraente no mercado interno. Não descartamos — e conversamos com algumas empresas — fazer um ‘aperto’ à indústria nacional.

Um dos desafios é voltar a reunir a mão de obra para a construção naval, aumentando a atratividade dessa atividade, que foi desacreditada nos últimos anos. Além da construção, Kloh mencionou as revitalizações em campos maduros de exploração de petróleo e gás (REVAMP). “É preciso mostrar que não temos um projeto de 3 ou 4 anos, temos um projeto de 10 anos, que vão virar 20 anos, uma vez que existem diversas frotas que precisam ser renovadas”, salientou.

Kloh defende que somente o apoio do governo federal para uma política de Estado forte economicamente contribuirá para a construção naval brasileira fazer frente aos pares internacionais, sobretudo os asiáticos, que possuem modelo de construção e índices homem/hora trabalhada (H/H) por tonelada completamente distinto do brasileiro. Ele entende que esse empenho do governo e das empresas para colocarem demandas ajudarão a montar uma ampla carteira de projetos e maior precisão aos custos de construção nacional.

“Por mais que tenha concorrência internacional e seja difícil competir com chineses, precisamos entender o custo de fabricação do nosso país e criar política de Estado econômica para fazer frente ao mercado asiático. Senão, mesmo considerando um bid internacional que tenha que integrar ativo circulante e que ele tenha que considerar transporte, eles [concorrentes estrangeiros] conseguem ser agressivos a ponto de ficar abaixo, considerando todos esses custos”, alertou.

Navalshore
O grupo Mac Laren participará da 19ª edição da Navalshore, a principal feira e conferência da indústria marítima e offshore da América Latina, que acontecerá de 19 a 21 de agosto, no Expo Rio, no Rio de Janeiro (RJ). Um dia antes da feira (18), a empresa promoverá o ‘One Stop Shop Day‘, no Centro Cultural da FGV, também no Rio, reunindo autoridades, especialistas e líderes do setor para debater inovação, sustentabilidade e manutenção naval.

Fonte: Portos e Navios – Danilo Oliveira
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