A Organização Mundial do Comércio (OMC) projeta crescimento “modesto” de 4,7% para exportações e importações neste ano, mais do dobro dos 2,1% registrados em 2013, porém ainda inferior à média de 5,7% em 20 anos.
A entidade aponta perspectivas do comércio internacional e da produção global em 2014 e 2015 melhores do que nos últimos tempos, mas nota que as grandes economias continuam frágeis, incluindo emergentes mais dinâmicos que até recentemente sustentavam a demanda mundial.
Sua expectativa é que a economia dos EUA acelere sua recuperação e a da União Europeia (UE) comece a dar sinais de melhora. E, de outro lado, que os emergentes que sofreram uma desaceleração importante também possam frear a queda. “A evolução do comércio mundial em um ou dois anos dependerá de saber qual dessas duas forças será mais forte”, diz a OMC.
Em todo caso, as economias em desenvolvimento estão atualmente expostas a uma acumulação de riscos, segundo a entidade. E exemplifica com enormes déficits de conta corrente, como na Índia e na Turquia, crise monetária na Argentina, excesso de investimento na capacidade de produção e reequilíbrio das economias destinadas a favorecer o consumo interno em relação à demanda externa.
Riscos geopolíticos trazem um novo elemento de incerteza. Conflitos no Oriente Médio, na Ásia e na Europa oriental podem provocar alta no preço de energia e perturbar o comércio global. Mas esses riscos, por essência imprevisíveis, não estão diretamente levados em conta na projeção de crescimento do comércio de 4,7%.
Essa projeção é baseado na hipótese de expansão global de 3% neste ano. A expectativa é que países desenvolvidos aumentem seu comércio exterior em 3,6%, e os emergentes, em 6,4%. As exportações serão sustentadas por demanda crescente de importação por parte dos países desenvolvidos, à medida que os EUA acelerarem. Mas a OMC não esconde, no caso da UE, que o desemprego recorde pode continuar freando a demanda mundial. Ou seja, a Europa só dará um apoio marginal à expansão do comércio mundial.
O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, não esconde uma ponta de inquietação com a baixa da taxa de crescimento médio do comércio mundial. Durante anos, quando a economia mundial crescia 1%, o comércio crescia o dobro. Mas, nos últimos dois anos, as duas taxas ficaram próximas, pela primeira vez em muito tempo
Continua a crescer a diferença entre o ritmo de crescimento do comércio mundial antes da crise e os níveis atuais de exportações e importações. Em 2013, o comércio foi 17% abaixo do volume das trocas de antes da crise. Em 2014, será ainda mais inferior à tendência anterior à crise de 2009, quando ocorreu o “grande desmoronamento do comércio”. Naquele ano, as exportações caíram 12% em volume e 23% em valor.
Examinando o setor manufatureiro, a OMC constata que a maioria dos segmentos tinha voltado a crescer no segundo trimestre de 2013, ainda que lentamente. Mas o comércio de produtos siderúrgicos, indicador fortemente pró-cíclico e ligeiramente atrasado da atividade econômica, ainda registrava baixa de 4% no fim de 2013.
O comércio de produtos automotivos, igualmente cíclico e com papel dominante, se recuperou no fim de 2013. Para a OMC, é um sinal positivo para a recuperação econômica e comércio de insumos na produção automotiva, incluindo ferro e aço, eletrônica e diferentes matérias-primas.
Em 2013, a principal razão de o comércio mundial de mercadorias ter crescido apenas 2,1% em volume foi uma baixa mais forte que a prevista no fluxo comercial dos emergentes no segundo semestre
As vendas externas dos emergentes ficaram até negativas no quarto trimestre. O comércio exterior das Américas do Sul e Central foi particularmente afetado, com baixa de 3% de exportações e de 5% das importações no período. Outras regiões exportadoras de recursos naturais também foram duramente afetadas.
No ano, o valor das exportações mundiais de mercadorias alcançou US$ 18,8 trilhões. Já o comércio de serviços aumentou 5,5%, totalizando US$ 4,6 trilhões
A Ásia continuará liderando o aumento do comércio mundial, com expansão de vendas de 6,1%, mas abaixo da média de 8,6% dos últimos 20 anos. Os chineses crescem também no setor de serviços financeiros, com exportações aumentando 52%, para atingir US$ 3 bilhões – mas os EUA continuam a ser o primeiro fornecedor, com US$ 82 bilhões.
Fonte: Valor Econômico – Assis Moreira | De Genebra