A licitação pela Marinha do Brasil para compra de quatro corvetas atraiu para o país o interesse de alguns dos principais estaleiros especializados em equipamentos bélicos do mundo, como o indiano Goa Shipyard Ltd, e europeus, como o inglês BAE Systems, o francês Naval Group, o alemão Thyssenkrupp, o italiano Fincantieri e o grupo holandês Damen, que entraram na concorrência com parceiros nacionais.
O primeiro lance da concorrência ocorreu dia 18 de junho, quando a Marinha do Brasil recebeu as propostas de nove consórcios para a construção de quatro corvetas classe Tamandaré, navios de guerra de médio porte, que deverão ter 40% de conteúdo local. O valor do contrato é estimado em US$ 1,8 bilhão. O resultado da licitação deve ser conhecido dia 29 de outubro.
Entre os estrangeiros, apenas a Fincantieri já atua no Brasil, por meio de sua subsidiária Vard Promar, instalada no Pernambuco.
No início de maio, Shekhar Mital, presidente da estatal indiana Goa Shipyard, esteve no Brasil e fechou parceria com a Indústria Naval do Ceará (Inace), especializada na construção de iates de luxo e navios patrulha para a Marinha.
Segundo Felipe Salles, gerente de marketing do projeto Goa Brasil, o grupo indiano avalia que a conquista do contrato das corvetas Tamandaré é estratégico para seus planos de expansão na América Latina. Além do Brasil, as marinhas da Argentina, Colômbia, Equador, México, Venezuela e Peru terão que reequipar suas frotas nos próximos anos.
A indústria militar naval da Índia é a terceira maior do mundo, com forte atuação em países do Oceano Índico. O Goa é especializado em embarcações de guerra de médio porte, como corvetas, fragatas e navios patrulha, e mantém parcerias com as estatais indianas Bharat Electronics, especializada em tecnologia de defesa, e Bharat Heavy Electricals, de equipamentos de energia. Além disso, conta com recursos de bancos de fomento estatais da Índia e dos Brics para financiar projetos.
O grupo holandês Damen Schelde Naval Shipbuilding entrou na concorrência em parceria com o estaleiro brasileiro Wilson Sons, com quem possui negócios há 20 anos. Adalberto Souza, diretor executivo do Wilson Sons, diz que caberá ao grupo Damen, que possui mais de 30 estaleiros no mundo, elaborar o projeto das embarcações, e ao Wilson Sons a construção do casco e tubulações das corvetas. O conteúdo local será complementado com painéis elétricos da Weg e grupos geradores de energia da Caterpillar Brasil.
O consórcio ainda soma a sueca Saab AB, a mesma que irá fornecer os caças Gripen para a Força Aérea Brasileira, como parceira em tecnologia de armas. “Damen e Saab já equipam as marinhas de guerra da Holanda, México e Indonésia. Apresentamos um projeto naval testado e aprovado”, diz Souza.
O interesse dos estaleiros chineses Cosco Shanghai e CIMC Raffles é o setor de óleo e gás e os dois grupos recentemente estabeleceram representantes no Brasil para dar suporte às suas prospecções de novos negócios.
O Cosco Shanghai fechou um contrato de representação comercial com a JVCS Consulting em fevereiro. Joaquim Vaz, sócio-diretor da consultoria, diz que o objetivo é buscar parcerias com estaleiros nacionais para desenvolver propostas conjuntas para as aquisições que serão feitas pelas companhias de petróleo vencedoras nos leilões realizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O estaleiro chinês já trabalha sob encomenda de estaleiros nacionais na construção de partes – conversão de caso ou construção de módulos – de seis navios plataformas para a produção em alto mar (FPSO). Outra área de interesse da Cosco no Brasil são encomendas de plataformas de estoques flutuantes para a marinha mercante. No momento, informa Vaz, não está no escopo da Cosco estabelecer uma estrutura produtiva no Brasil, mas buscar parcerias com estaleiros nacionais para cada novo projeto, que seriam executados em conjunto no Brasil e na China.
A estratégia é a mesma adotada pela China International Marine Containers Group (CIMC Raffles), estaleiro que em março conquistou um contrato com a Petrobras para construir o casco do FPSO P-71, inicialmente previsto para ser construído pelo estaleiro Rio Grande, da Ecovix.
Mei Shuo, representante do CIMC Raffles no Brasil, diz que a companhia não tem planos, neste momento, de estabelecer processos produtivos locais ou sociedades com estaleiros brasileiros, que possuem grande capacidade ociosa. “O objetivo é firmar parcerias para cada projeto. Nosso parceiro brasileiro se ocupará em atender a porcentagem de produção estabelecidas nas regras de conteúdo local. A ideia é levar o restante para a produção na China”, diz.