Para consultorias, tecnologias disruptivas trarão novos ganhos de produtividade e poderão, inclusive, gerar mais empregos
Após uma queda de aproximadamente 40% entre 2014 e 2016, os gastos das companhias de óleo e gás em poços voltou a subir no ano passado, chegando a cerca de US$ 250 bilhões, segundo estimativas de mercado. Na visão da McKinsey, a retomada dos investimentos deve acelerar a “onda de transformação digital” pela qual passa o segmento, abrindo espaço para ganhos de produtividade de até 40% nos próximos anos.
A BE Petróleo lista, a seguir, algumas das melhorias que poderão ser proporcionadas por esse movimento, de acordo com um estudo que a consultoria compartilhou com a reportagem. O enfoque na área tem uma razão especial: os custos de perfuração e completação são o principal componente do capex global da indústria, chegando a 70% em empreendimentos de águas profundas, como é o caso dos ativos do pré-sal brasileiro.
Desempenho em SMS
A análise cognitiva de Segurança, Meio-ambiente e Saúde utiliza métodos de análise (analytics) avançados para identificar comportamentos e escolhas arriscados com base em registros de segurança construídos ao longo de anos. Empresas podem usar esses indicadores a fim de prever eventos de SMS para atividades planejadas ou em andamento. Avanços em robóticas também aumentarão a segurança ao permitirem a substituição de operadores humanos por máquinas em ambientes perigosos.
Melhor planejamento submarino
Técnicas avançadas de analytics podem trazer benefícios às atividades subsea, otimizando a localização e o projeto de poços, assim como o planejamento geral dos campos de petróleo.
Automação da etapa de projeto
O investimento em analytics e formas digitais de trabalho podem reduzir as numerosas interfaces entre funções e indivíduos. A maturação do projeto de um poço médio, especialmente no offshore pode levar meses desde a fase de definição à de execução, consumindo entre 3 mil e 6 mil horas/homem antes da perfuração começar.
Fornecimento mais rápido e eficiente
Uma execução digitalizada das fases de planejamento e suprimentos ajudará a certificar que caminhões e embarcações cheguem na hora combinada e com os equipamentos corretos e que os preços cobrados estejam de acordo com os previstos em contrato.
Projetos retirados da gaveta
A onda de transformação digital poderá liberar orçamento para mais P&D e retomar o desenvolvimento de tecnologias que vinham sendo travadas por cortes de gastos, como projetos de mecanização e robotização de sondas.
Reavaliação de modelos de negócios
Equipes mais conectadas e transversais podem assegurar que a engenharia está cobrindo adequadamente os cenários de riscos e que os planos de contingência são lógicos e construídos de maneira a evitar a paralisia na tomada de decisões.
Para viabilizar essas transformações, a McKinsey sugere que as companhias adotem métodos de trabalho mais centralizados e ágeis e processos de trabalho simplificados e automatizados, além de investir em novos perfis de força de trabalho, com conhecimento em ciência da informação e linguagens de programação.
Impacto profundo sobre o setor
Um estudo da KPMG concluiu que 85% dos CEOs do setor de óleo e gás estão em fase-piloto ou já implementaram tecnologias disruptivas nas atividades de suas empresas. No entanto, apenas 59% dos executivos entrevistados afirmaram que as organizações que presidem estão sendo disruptivas de forma ativa, enquanto 57% disseram que será preciso mais tempo para colocar processos de transformação digital em prática.
“As soluções de inteligência artificial e análise de dados podem nos ajudar a criar modelos capazes de prever comportamentos e resultados de forma mais precisa, como aumentar a segurança dos equipamentos de extração de petróleo, enviar equipes para o local de forma mais rápida e identificar falhas nos sistemas antes mesmo que elas aconteçam. Esse nível de previsibilidade pode ter um impacto profundo sobre o nosso setor”, analisa o sócio da KPMG e líder para óleo e gás, Anderson Dutra.
Quando questionados sobre potenciais benefícios no longo prazo associados a soluções de inteligência artificial, 46% dos CEOs apontaram a aceleração do crescimento de receita, 39%, ganhos de agilidade, e 39%, aprimoramento do gerenciamento de riscos.
Quase 60% dos CEOs afirmaram que as tecnologias de inteligência artificial e robótica criarão mais oportunidades, ao invés de eliminá-las, sendo que 93% deles preveem um aumento no número de funcionários em todo o segmento nos próximos três anos.
Redução de custos
Em conferência com analistas, o CFO da Equinor, Lars Christian, destacou que o desenvolvimento de novas tecnologias tem sido fundamental para viabilizar novos projetos de exploração e produção.
“Por muitos anos a indústria vem dizendo que os ‘barris fáceis’ já não existem mais, [porém] temos visto enormes contribuições que ajudaram a reduzir os custos por barril, e acreditamos que isso continuará a acontecer”, observou o executivo.
Petrobras foca na indústria 4.0
A Petrobras é um caso de sucesso internacionalmente reconhecido quando se trata do casamento entre inovações tecnológicas e projetos de E&P. Foi dessa forma que a estatal conseguiu reduzir em três vezes o tempo de construção de poços no pré-sal desde 2010 e, consequentemente, o break-even na nova fronteira pela metade no mesmo período.
Hoje, a petroleira trabalha de forma intensiva o uso de tecnologias desenvolvidas na chamada indústria 4.0 para alavancar ainda mais seus resultados.
“A ideia é transmitir o conhecimento de nossos melhores intérpretes para as máquinas e chegar a um modelo geológico do campo de petróleo. A transformação digital da companhia é levada muito a sério pela diretoria, por isso investimos pesado nisso”, disse em outubro o gerente-executivo do Cenpes, Orlando Ribeiro, durante encontro com jornalistas.
Aliança com fornecedores e universidades
Mas não foi sozinha que a Petrobras conseguiu tantos avanços no desenvolvimento de ativos em águas ultraprofundas. Muitas inovações vieram com o apoio de fornecedores e universidades, como o sistema de separação submarina de óleo e água para o campo de Marlim, em parceria com a FMC Technologies – premiado pela OTC, em 2012 – e de pilotos de sistemas de manutenção preditiva, com a UFRGS e a Trisolutions (ganhador do Prêmio de Inovação da ANP em 2017).
Em paralelo, prestadores de serviço seguem buscando formas de otimizar seus processos internos, permitindo que os custos de E&P continuem a cair.
Dona de cinco embarcações de lançamento de linhas flexíveis a serviço da Petrobras, a Sapura Navegação Marítima concluiu recentemente a instalação de um sistema para integrar os canais de comunicação de sua frota. A solução permite ligações telefônicas via internet, utilizando um único servidor que conecta o centro de operações da empresa a cada dispositivo de comunicação dos PLSVs.
“Essa tecnologia aproximou os times onshore e offshore para alcançarmos ganhos em tempo real. Hoje um engenheiro aqui na base consegue entrar em contato com todo o pessoal de bordo e auxiliar diretamente os detalhes de uma operação se for necessário”, explica o coordenador de Tecnologia da empresa, Jorge Kort.
A instalação foi concluída nas embarcações Sapura Diamante, Sapura Topázio, Sapura Ônix, Sapura Jade e Sapura Rubi.