A retomada do setor de óleo e gás no Brasil já começa a aquecer o mercado de trabalho neste fim de 2018, depois de anos com redução do quadro de funcionários e fechamento de fábricas. Com o preço do petróleo em alta no mercado internacional — o barril é negociado acima dos US$ 70 — e o calendário de leilões a todo vapor, as empresas do setor já se preparam para a maior demanda de projetos, com a contratação de pessoal e a criação de políticas de retenção de funcionários.
Esse otimismo já foi verificado entre empresas de recrutamento de executivos. A Hays, por exemplo, vê contratação 20% maior no quarto trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, com o maior número de vagas para áreas de geociência e gerenciamento de projetos.
O movimento é liderado por petroleiras que arremataram campos ao longo deste ano nos leilões. Para 2019, diz a consultoria, o movimento tende a crescer 30% e ganhar força para diversas áreas da cadeia de óleo e gás.
Segundo projeções da Abespetro, que reúne as empresas prestadoras de serviço da cadeia de petróleo, a expectativa é que o total de empregos passe dos 399 mil neste ano para 515 mil no ano que vem – ou seja, 116 mil vagas a mais. Atualmente, há cinco plataformas em concorrência e, para 2019, há a previsão de pelo menos outras cinco unidades de empresas como Petrobras, Equinor e Shell.
Vencedoras de leilões
O Rio de Janeiro tende a ganhar destaque, dizem especialistas, já que há investimentos para recuperar os campos maduros na Bacia de Campos e a retomada de projetos como o Comperj, o complexo petroquímico de Itaboraí.
— Há uma demanda maior das empresas que ganharam os últimos leilões. Muitas não tinham operações no Brasil e já começaram a contratar — afirma Raphael Falcão, diretor da Hays. — Já estamos mapeando profissionais, pois há muita gente parada, outros saíram do país e alguns decidiram empreender.
Especialistas e fontes do setor citam uma demanda maior por profissionais em diversas empresas privadas, que saíram vencedoras nos leilões de petróleo realizados este ano, como Exxon, Chevron, Equinor, Wintershall, QPI, CNOOC, Petrogal e Ecopetrol. Movimento semelhante já foi constatado pela Regus, companhia que oferece espaços de trabalho e escritórios prontos em centros comerciais. No ano, houve aumento de 40% na ocupação e nas solicitações das empresas de petróleo interessadas em abrir unidades no Rio, segundo Renato Amorim, diretor da corporação.
— A maior procura é por escritórios em espaços ao redor da Petrobras e da Shell, no Centro do Rio. No Flamengo, houve maior procura para ficar perto da Equinor. É uma atividade de vizinhança — disse, destacando que ao menos 30 empresas abriram ou ampliaram escritórios no país este ano, como Brasdril, Anadarko, Wintershall, SGS e Sapura Energy, e que a empresa negocia com mais 28 companhias a entrada este ano.
A Aker Solutions, uma das maiores fornecedores de equipamentos e serviços para o setor, já contratou 300 pessoas este ano e planeja aumentar seu quadro de funcionários em mais de 500 posições. Isso porque a companhia fechou novos contratos envolvendo a manutenção de plataformas na Bacia de Campos e Santos da Petrobras. Além disso, a companhia vai fornecer um sistema de produção submarina e serviços relacionados para a estatal na primeira fase do Campo de Mero, na área de Libra.
— Estamos numa primeira onda de novos contratos. Projetos que antes estavam represados passaram a ser economicamente viáveis com a alta do preço do petróleo. Há novas operadoras no Brasil e queremos entrar em mercados como o de inspeção, manutenção e gestão inteligente de ativos — afirma Mário Zanini, vice-presidente do segmento de Serviços e Ativos de Produção da Aker Solutions.
As petroleiras também estão em fase de contratações. Ida Christina Killingberg, diretora da área de pessoas e liderança da Equinor diz que, além das vagas abertas atualmente, a companhia já prevê um novo ciclo de admissão de trabalhadores capacitados em 2024, quando está prevista a extração do primeiro óleo do bloco de Carcará. Hoje, a empresa tem 400 funcionários e 34 vagas abertas, além dos planos de recrutamento de mais 16 pessoas para o programa de trainee.
— Precisamos de pessoas com habilidades que entendemos serem essenciais no nosso futuro, como digitalização e novas energias — explica.
Fôlego para prestadoras
A PetroRio, que já contratou 30 pessoas este ano, investiu R$ 200 milhões no Campo de Polvo, na Bacia de Campos. Segundo Nelson Tanure, diretor executivo da empresa, a companhia estuda fazer nova campanha exploratória no campo, com possibilidade de perfuração de até cinco novos poços, o que deve movimentar a cadeia de fornecedores e gerar empregos.
A maior movimentação do setor deu novo fôlego a prestadoras de serviços. É o caso da Ouro Negro, empresa de tecnologia com 65 funcionários que desenvolve soluções para o setor. Eduardo Costa, diretor executivo da companhia, lembra que o otimismo já se converteu em novos contratos ao longo do ano e na contratação de dez funcionários, número que deve dobrar no próximo ano:
— Temos contratos com operadoras de petróleo, prestando serviços de tecnologia, como sistemas de monitoramentos e robôs para inspeção. Desenvolvemos algoritmos para aplicar em análises preditivas. O setor está otimista. Estamos conversando com várias operadoras atualmente para novos serviços.
A americana Bridon, fornecedora de cabos de aço e fibras, está ampliando a atuação no Brasil. A empresa, que tinha dois funcionários, contratou um espaço maior no Rio com a Regus e vai aumentar a equipe para cinco pessoas, segundo Fernando Ferraz, gerente de unidade da empresa.
A Scafom Andaimes Brasil, empresa brasileira que fez uma joint-venture com uma companhia holandesa, espera passar dos atuais 18 funcionários para 40 a partir de março do próximo ano. A expansão, destaca o diretor comercial da empresa, Manoel Assumpção Junior, vai ocorrer, sobretudo, no setor logístico e de projetos:
— Já vimos aumento da demanda este ano e entendemos que isso vai se intensificar em 2019.
Benefícios para reter funcionários
Algumas empresas já reforçam suas políticas de retenção de funcionários. É o caso da Ocyan (ex-Odebrecht Óleo e Gás). A empresa pretende contratar se ganhar uma licitação da Petrobras orçada em cerca de US$ 1,5 bilhão envolvendo o projeto de uma plataforma para o campo de Marlim 1. Segundo Roberto Simões, presidente da empresa, a Ocyan, que ainda pretende participar de outras concorrências para a área de serviços, vem desenvolvendo benefícios a seus funcionários.
— É importante para aumentar o comprometimento com a companhia. Oferecemos apoio complementar ao pré-natal e pós-parto para todas as funcionárias grávidas e mulheres dos colaboradores, tanto os que trabalham em terra como no mar. Criamos ainda o horário flexível para quem trabalha em terra, que já teve 70% de adesão. É possível escolher o horário para início e fim do expediente, entre 7h e 9h30. Vamos aumentar o número de benefícios— destaca Simões.
José Firmo, presidente do IBP, ressalta que o ambiente é positivo. Para ele, um indicador é o número de sondas de exploração que devem entrar em operação no Brasil já em 2019. O número, diz ele, deve passar das atuais 20 unidades para 25 já no próximo ano:
— Isso é reflexo da chegada de novas companhias e do maior apetite da Petrobras. Como o setor de óleo e gás é de longo prazo, há potencial para criar 400 mil novos empregos até 2022.