Neste Dia do Trabalhador (1º), o Petronotícias abre o noticiário falando sobre o futuro dos milhares de profissionais do setor de petróleo. É evidente que o momento atual é desafiador e, por vezes, a luz no fim do túnel pode parecer distante. Mas a indústria brasileira é forte e, por isso, é hora de enfrentar o coronavírus e também projetar como será a retomada do setor de óleo e gás. Experiências passadas, como a política de conteúdo local, que tantos empregos gerou no país, e até mesmo o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), que formou mais 80 mil profissionais para o mercado de O&G, são iniciativas que merecem ser retomadas e ganhar atenção como ferramentas para combater a recessão que se avizinha no país.
Esta é a opinião de quem vive o mercado diariamente. O presidente da EBSE, Marcelo Bonilha, é uma dessas vozes que defende a retomada dessas duas iniciativas como saída para a paralisia da atividade econômica. “O conteúdo local gera emprego, renda e ajuda a minimizar a desigualdade social, além de diminuir a violência”, destacou o executivo durante um debate online promovido esta semana pela Firjan. Bonilha lembra que as empresas operadoras reclamavam, no passado, que os percentuais eram muito altos. Mas nos últimos anos, o governo foi reduzindo esses números, que hoje são bem menores. “Vemos que o conteúdo nacional tem que deixar de ser [apenas] uma política para efetivamente voltar a ser cumprido”, opinou.
O presidente da EBSE lembra que a empresa conseguiu surfar bem na onda do conteúdo local, firmando parcerias importantes com companhias internacionais – como a holandesa Frames, na área de processamento de óleo. “O conteúdo nacional estimula as empresas internacionais a se instalarem no Brasil”, lembrou.
Muitos críticos do conteúdo local alegam que a indústria brasileira não consegue competir em pé de igualdade com o exterior, argumento contestado por aqueles que conhecem bem de perto o potencial do país, como a gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, Karine Fragoso. “Além do conteúdo local, a indústria nacional tem competência. Temos aqui uma das melhores engenharias. Conseguimos responder rapidamente e isso vai ser um grande diferencial para a retomada. O Brasil é um país enorme e tem uma série de demandas para poder atender”, afirmou.
Se o estímulo para que as empresas brasileiras participem da retomada do setor parece ser uma das saídas para a crise econômica, estimular a formação de novos profissionais e realocar aqueles que já possuem preparo também será fundamental. Criado em 2003, o Prominp surgiu como uma iniciativa do governo para fomentar a participação da indústria nacional de bens e serviços, de forma competitiva e sustentável, na implantação de projetos de petróleo e gás no país e no exterior.
Milhares de profissionais foram formados desde a criação do programa, mas infelizmente se encontram hoje fora do mercado. “O Prominp foi um programa do Ministério de Minas e Energia que a Petrobrás conduziu muito bem, com apoio das associações. Foram formados mais de 80 mil profissionais da área de óleo e gás, com mais de 100 especialidades. E hoje, onde está essa turma? Vemos muitos desempregados atuando no mercado informal”, lamentou Marcelo Bonilha. Para lembrar, o Prominp entrou em hibernação no ano de 2017.
Além de discutir como encarar o futuro do setor, o debate virtual da Firjan também apresentou como as empresas estão lidando como o atual momento de enfrentamento da Covid-19 em suas operações. O executivo da Ocyan, Lourenco Morucci, destacou que a empresa está adequando sua forma de trabalhar. A companhia, que opera cinco sondas de perfuração, colocou regras de distanciamento físico para seus colaboradores nas embarcações. “Outra coisa que estamos fazendo é o maior controle, principalmente da pessoas. Estamos realizando testes e acompanhando a quarentena dos nossos integrantes em casa, antes do embarque, e monitorando junto à área médica”, disse. Nessa mesma linha, o Gerente de Negócios da PWR Mission, Luiz Leão, afirmou que a organização está mantendo as pessoas do grupo de risco foram em casa, isoladas do ambiente profissional.
Por fim, o diretor de desenvolvimento de negócios da SBM Offshore, Rafael Torres, acredita que o mercado descomissionamento ganhará força neste momento. “Vai ser uma indústria que vai movimentar bastante e talvez seja interessante que ela pegasse esse momento mesmo”. Hoje, a companhia holandesa tem uma frota de 14 FPSOs pelo mundo, sendo 7 no Brasil. A SBM também é a responsável por desenvolver a plataforma de Mero 2, prevista para entrar em operação em 2022.
Torres também contou como a empresa e o mercado, de modo geral, estão se portando no enfrentamento da doença: “Em relação às operações, obviamente, para reduzir o risco do nosso pessoal, as operações são mantidas no mínimo necessário de pessoas que possam trabalhar. Todos os serviços não essenciais estão sendo adiados”, afirmou . “O principal motivo disso é preservação de caixa. O pessoal não sabe quando vai acabar esse momento. Até acontecer a retomada, é muito importante adiar os gastos que podem ser adiados”.