Mas a projeção é que este mercado comece a se consolidar no país a partir de três ou quatro anos.
A ampliação da matriz energética no país tem gerado expectativa no setor naval, sobretudo para o mercado de gás. Estaleiros estão sendo consultados sobre a construção de navios e comboios gaseiros, e armadores já planejam atender a demanda para o transporte de gás natural liquefeito (GNL), em especial na região Norte do país. Mas a projeção é de que apenas em três ou quatro anos o mercado de gás comece demandar negócios mais consistentes para o setor.
O Estaleiro Beconal Bertolini Construções, antes da pandemia do novo coronavírus, recebeu várias consultas para embarcações voltadas para o setor de gás, porém, nada de concreto “somente muita expectativa”, disse o diretor industrial da empresa, Flávio Silveira. Segundo ele, informações levam a crer que esse mercado irá gerar demanda, mas não para agora.
O diretor comercial do Estaleiro Rio Maguari, Fabio Vasconcellos, afirmou que ainda não há uma estimativa de demanda para este segmento especifico, mas vem acompanhando os projetos em andamento. Ele acredita que haverá demanda para comboios gaseiros, seja em tanques específicos, seja em “gasteineres” (contêineres próprios para o transporte de gás). “Sem dúvida este é um setor cuja expectativa de crescimento e de demanda é grande e o mercado de construção naval fluvial está atento”, disse.
Ele explicou que a mão de obra para embarcações voltadas para o segmento é basicamente a mesma utilizada nos comboios fluviais regulares. Entretanto, ele destacou que deverá ter especificações diferentes para o tipo preferido de transporte de gás de cada operador. Ele disse ainda que algumas tecnologias para o transporte de gás não estão inteiramente disponíveis no Brasil e que alguns equipamentos deverão ser importados.
Silveira, da Beconal Bertolini avalia que para o atendimento dessa demanda haverá algumas necessidades especiais, como a busca por capital humano e tecnologias fora da região Norte ou ainda do Brasil, para algumas características especiais desses projetos. Ele acredita que o conteúdo nacional será predominante, porém, boa parte será importada.
Já sobre as unidades gaseificadoras, ele disse que deverão ser em sua maioria importadas, gerando negócios de montagem por empreiteiras. Esta também é a mesma avaliação de Vasconcellos. Segundo ele, normalmente as unidades de regaseificação são de muito grandes e devem ser construídas por estaleiros de maior porte. Porém, ele enfatizou “não ter dúvidas” de que os grandes estaleiros brasileiros estão preparados para esta demanda.
Para ele, a garantia de conteúdo local para a construção naval está relacionada a demanda permanente e a uma escala de produção que permita a constituição dos equipamentos no Brasil, e a maior produtividade dos estaleiros. “Os estaleiros nacionais já se mostraram produtivos e competitivos, assim como a indústria de navipeças se mostrou capaz de atender à demanda”, frisou.
Uma das demandas de gás na região Norte do país pode vir a ser direcionada para a utilização nas embarcações, conforme afirmou o diretor administrativo do Estaleiros Amazônia S.A (EASA), Thiago Lemgruger Porto. Segundo ele, caso o gás chegue a preços competitivos, os estaleiros da região rapidamente poderão entregar empurradores e navios fluviais com propulsão a gás para os armadores. “Muitos projetistas e engenheiros navais já fizeram estudos de projetos, e a tecnologia é amplamente disseminada até mesmo para pequenas embarcações, que antes não tinham motores adequados para operação com gás”, afirmou.
Ele informou que na região Norte do país a rede de abastecimento de embarcações pode ser combinada também com as demandas para termoelétricas e indústrias, criando volume e fomentando o mercado. Porém, ele ressaltou que mesmo sendo menos poluente e vantajoso do ponto de vista ecológico, apenas a disponibilidade do insumo a custo competitivo vai realmente fazer as empresas converterem suas embarcações para uso deste combustível.
A empresa de navegação Elcano acredita nas oportunidades que virão da ampliação da matriz energética brasileira e que já faz parte de seus planos de negócio o crescimento da atuação neste setor. O Grupo possui expertise da operação dos navios LNG e LPG (transportadores de GNL) nas suas operações no exterior, e idealiza utilizar esta experiência na operação brasileira. O objetivo é justamente atender a demanda crescente de gás em todo o país.
Contudo, a Elcano afirmou que a insegurança jurídica e regulatória que tem atingido a navegação brasileira nos últimos meses ameaça a própria sobrevivência das Empresas Brasileira de Navegação (EBN’s). A empresa entende que as regras jurídicas e regulatórias que balizam o mercado precisam ser estáveis e duradouras. “A ameaça que paira sobre as EBN’s se configura um erro de avaliação já vivido no passado e que custou ao país enorme esforço e vultosos recursos para a recuperação do setor”, enfatizou.