Análise da Rystad Energy comparou custos de construção de FPSOs, projetando cenário de recuperação do setor de petróleo e gás em 2021. Baixos salários na China compensam o déficit de produtividade, permitindo ao país oferecer os custos de construção de cascos mais competitivos do continente.
A Ásia lidera o mercado para construção e conversão de FPSOs, com os principais estaleiros de fabricação para construção de cascos localizados principalmente na China, Cingapura, Coreia do Sul e Japão. Uma análise da Rystad Energy, publicada esta semana, comparou os custos de construção do casco de um FPSO recém-construído entre esses estaleiros e constatou que, apesar de registrarem baixa produtividade, os estaleiros chineses são os mais competitivos com preços 30% mais baixos do que seus concorrentes japoneses.
Construir um casco em um pátio de construção naval chinês custa em média US$ 94 por metro cúbico. Esse custo é de US$ 111/m³ na Coréia do Sul, US$ 128/m³ em Cingapura e US$ 135/m³ no Japão. De acordo com a consultoria, os baixos preços unitários refletem a mão de obra e preços de materiais e equipamentos mais baratos que, combinados com a grande capacidade, ajudaram esses estaleiros a atrair clientes para a fabricação offshore de outras partes do mundo.
“Ainda que a produtividade chinesa seja a menos competitiva, os baixos salários compensam o déficit de produtividade, permitindo ao país oferecer os custos de construção de cascos mais competitivos da região. Com até 50 projetos de FPSO previstos para os próximos cinco anos, os pátios chineses estão bem posicionados para aproveitar oportunidades consideráveis de contratos ”, destacou Sara Sottilotta, analista de pesquisa de serviços de energia da Rystad Energy.
As taxas de trabalho asiáticas estão entre as mais baixas do mundo, mas ainda diferem consideravelmente dependendo do país. Olhando para o salário médio por hora em dólares para trabalhadores da construção, a China tem as taxas de trabalho mais baixas com um salário por hora equivalente a menos de US$ 5, seguido por Cingapura (US$ 11,8/hora). Japão e Coreia do Sul têm mais do que o dobro do salário médio por hora dos chineses, com US$ 15,6 e US$ 16,5, respectivamente.
A classificação de produtividade da Rystad Energy é indexada aos níveis dos Estados Unidos em 2019. O índice de produtividade da China é o mais alto com 2, o que significa que a produtividade do país é a mais baixa e a metade do nível dos norte-americanos que é utilizada como referência. A Coreia do Sul possui a maior produtividade com um índice de produtividade de 0,95, seguida pelo Japão com 1,2 e Cingapura com 1,3.
Os preços dos materiais pesados têm impactado os países asiáticos de forma diferente desde 2014. A Coreia do Sul viu a maior flutuação, registrando o declínio mais profundo e o crescimento mais acentuado durante os últimos seis anos devido à forte volatilidade na taxa de câmbio do won sul-coreano. Os preços sul-coreanos de produtos de material de estrutura caíram 23%, de 2014 a 2016, e quase voltaram aos níveis de 2014 em 2018, antes de cair novamente 10% este ano. China, Cingapura e Japão experimentaram menos volatilidade, com os preços chineses permanecendo relativamente estáveis desde 2014, flutuando no máximo 10% e atualmente sendo negociados 8% abaixo dos níveis de seis anos atrás.
Os investimentos em ativos offshore devem se recuperar a partir de 2021 e as operadoras de petróleo e gás buscarão estaleiros para construir novas instalações. A expectativa é que 40% desses contratos esperados sendo unidades de produção flutuante, armazenamento e descarregamento (FPSO) nos próximos cinco anos. A análise da Rystad Energy concluiu que, embora mais elevados, esses orçamentos serão bastante cautelosos e, entre os concorrentes asiáticos, os estaleiros chineses estão em melhor posição para atraí-los.
Também esta semana, foi divulgada uma nota técnica da secretaria de fomento, planejamento e parcerias do Ministério da Infraestrutura, na qual a construção de plataformas do tipo FPSO no Brasil foi considerada ‘oportuna’, uma vez que pode impactar diretamente a indústria naval brasileira, gerando empregos e negócios para os principais construtores navais.
Representantes de estaleiros brasileiros ouvidos pela Portos e Navios disseram que a nota técnica atesta a capacitação da construção naval nacional em construir essas unidades no Brasil. A principal questão, no entanto, está em competir com os preços chineses, pois depende de mudanças conjunturais na economia brasileira relacionadas a pontos como encargos sobre a mão de obra, regimes de trabalho, carga tributária e condições de financiamento. A avaliação é que a Petrobras está focada nos melhores preços de contratação de FPSOs e não deve mudar sua postura em relação à indústria naval brasileira.
“Mesmo achando difícil que a Petrobras mude sua política de compras, vamos esperar que esse atestado de competência e qualidade seja divulgado junto a outros setores governamentais, como o MME [Ministério de Minas e Energia], responsável pela formulação da política do setor de óleo e gás”, comentou uma fonte que preferiu não ser identificada. Ela mencionou casos de plataformas construídas na China e que, ao chegar ao Brasil, precisaram sanar problemas, inclusive com serviços de empresas brasileiras.