Pandemia freia recuperação por fornecedores de propulsão, que apostam em reparo, upgrade e hibridização
No ano em que a pandemia do novo coronavírus modificou os planos de fornecedores de sistemas de propulsão, algumas empresas conseguiram atingir suas metas. A expectativa inicial de um 2020 com uma recuperação gradativa dos negócios esbarrou nos efeitos da Covid-19 na economia brasileira, principalmente no primeiro semestre do ano. A estratégia de fortalecer os serviços de reparo e pós-vendas continuou, mas a restrição de viagens levou alguns fabricantes e fornecedores a trabalharem e a se reunirem de forma remota. Para 2021, há otimismo quanto à retomada dos projetos no Brasil e em outros países da América do Sul para diversos segmentos, inclusive para embarcações militares.
“Em 2020, a demanda por atendimento técnico remoto para reparos simples devido às restrições da pandemia foi muito solicitada. E houve retorno positivo dos clientes para os quais realizamos os atendimentos”, conta o gerente de vendas e serviços da ZF Aftermarket América do Sul, Fernando Martins. A empresa tem investido em técnicos e peças de reposição para atender às demandas de manutenção, oferecendo soluções e acessórios conforme as particularidades de cada operação.
A ZF atua com portfólio de produtos para atender a todos os segmentos de propulsão marítima, desde reversores e comandos eletrônicos a sistemas azimutais. Um dos destaques da ZF são os produtos para embarcações de trabalho. No Brasil, a empresa fortaleceu a presença no mercado de apoio portuário com a nova linha de reversores marítimos equipados com sistema de engate, que garante manobras mais rápidas e confortáveis. A fabricante entregou novos sistemas de propulsão azimutal para rebocadores.
Para 2021, a ZF espera o fim da pandemia, com a retomada dos mercados e o crescimento na demanda de projetos postergados. A empresa aposta na estabilidade econômica do país e na retomada de financiamento para novas embarcações. A fabricante avalia que, como a maioria das economias globais, o segmento de apoio portuário, transporte de cargas e passageiros no Brasil sofreu com a pandemia, que teve início em março de 2020.
A ZF percebe alta concorrência entre os atuais fabricantes de sistemas de propulsão no mercado, independentemente das oportunidades disponíveis no mercado. A empresa vê conquistas importantes em 2020, com alguns projetos concretizados e outros firmados com entrega programada para 2021. A fabricante também acompanha os projetos militares, junto aos principais fabricantes de motores marítimos para embarcações nacionais e projetos internacionais junto às coligadas em outros países.
A empresa fornece sistema de propulsão híbrido para outros países. No Brasil, devido ao custo inicial do projeto se comparado ao sistema de propulsão convencional, a procura é considerada pequena. Segundo o gerente de vendas e serviços da ZF Aftermarket na América do Sul, as soluções tecnológicas são pensadas para promover a eficiência das embarcações, atendendo à operação específica como baixa velocidade ou alta capacidade de tração estática, regras de emissões e segurança da navegação, sem deixar de seguir as tendências mundiais, que são as propulsões elétricas.
Em 2020, a Caterpillar decidiu não participar mais do negócio de sistemas de propulsão, o que resultou na venda da Cat Propulsion e no retorno da Berg Propulsion ao mercado.
O gerente comercial de marítimo na Sotreq, Rodrigo Feria, explica que não haverá mudanças significativas do ponto de vista de cobertura no Brasil, uma vez que a Sotreq permanecerá como o representante da marca Cat Propulsion.
“Existem alguns projetos em fase de cotação, mas ainda muito longe do que ocorreu há alguns anos. Acreditamos que o mercado de novas construções ainda está bem desafiador. Mas, sem dúvidas, apresentando sinais de crescimento”, analisa Feria. A Sotreq, que atua nos diversos segmentos do mercado naval, confirma que atualmente as maiores demandas vêm dos segmentos de rebocadores e embarcações de navegação interior, onde há produtos adequados e também equipe qualificada realizando a cobertura. Feria conta que a demanda tem se mantido estável, pois a maior parte das embarcações com equipamentos Berg continua operando no país.
A Sotreq se concentra em buscar soluções que garantam o menor custo operacional aos clientes. “O foco é sempre buscar soluções que atendam às necessidades dos projetos com o menor custo. Hoje, temos soluções para propulsões híbridas, por exemplo, que podem trazer benefícios em algumas aplicações. Mas, o importante é sempre analisar caso a caso”, ressalta Feria. Outra frente da Sotreq é o segmento de embarcações militares. A empresa estuda algumas oportunidades para atender aos requisitos de embarcações conforme as especificações da Marinha do Brasil.
Em 2021, a Schottel completa seu primeiro centenário e 70 anos de criação do propulsor azimutal Schottel RudderPropeller, que conta com mais de 15 mil unidades instaladas no mundo. Este ano, a empresa vai inaugurar a unidade de serviços em Itajaí (SC), onde pretende oferecer mais serviços e melhor atendimento aos clientes. O terreno tem 10.500 metros quadrados de área, que será destinada a administração, manutenção e depósito, sendo capaz de atender às diversas linhas de propulsores que compõem o portfólio da fabricante. “Se 2020 foi um ano emblemático, a certeza que temos é que 2021 será de muito trabalho e realizações”, avalia o gerente de vendas da empresa no Brasil, David Souza.
A Schottel acredita que o crescimento de produção e exportação de grãos incrementará a necessidade de novos empurradores. Além disso, a empresa vê o mercado de rebocadores portuários apresentando tendências de aquisição de equipamentos híbridos, como os disponibilizados pela Schottel. “Apesar da pandemia e da retração econômica, vemos o próximo ano como promissor e ainda boas projeções a longo prazo para atender ao mercado offshore que começa a dar sinais de revitalização”, analisa Souza.
Uma das soluções da Schottel para o mercado de propulsores é o CFD Computational Fluid Dynamics para produtos hidrodinamicamente otimizados. A empresa tem como foco o atendimento à crescente demanda por propulsores híbridos no mercado portuário de rebocadores. Souza explica que essa solução representa economia de combustível com aumento de operacionalidade, além de ser ambientalmente correta.
Para seus propulsores, a fabricante disponibiliza uma tecnologia já com novas referências para o mercado europeu. As soluções possibilitam o acoplamento do motor elétrico ao propulsor e pode ser utilizado na versão mecânica, acoplando os dois propulsores azimutais através de uma linha de eixo, utilizando apenas um motor e deixando o segundo motor livre para a utilização de uma bomba FiFi, por exemplo.
A Schottel também tem no radar embarcações elétricas, tendo em vista o perfil de operação e embarcações que operam nas hidrovias brasileiras, com boa tendência de crescimento nesse segmento. A fabricante pretende apresentar uma série com propulsores mais compactos que podem ser acoplados verticalmente a motores elétricos sem comprometer o espaço interno da embarcação, dando mais eficiência ao sistema. A empresa foca em clientes interessados em modernizar suas embarcações construídas há alguns anos, que ainda são consideradas novas, mas precisam de upgrades para ficar mais vantajosas e lucrativas.
A avaliação da Schottel é que, no atípico ano de 2020, o mercado esteve retraído por conta do atual cenário pandêmico, mas o crescimento dessa demanda é previsível, já que os que não se atualizarem ficarão menos competitivos. “Estamos sugerindo, por exemplo, formas de incrementar a capacidade de empuxo (bollard pull), aumento de quatro para cinco hélices para embarcações e troca de equipamentos antigos por mais atuais e ecologicamente corretos”, diz Souza.
O gerente de vendas da Schottel considera que a oferta de preços mais baixos em novos projetos tem sido constante para equipamentos com pouco tempo no mercado ou que oferecem qualidade inferior. Para a empresa, a variável preço é uma das mais importantes na hora do fechamento do negócio, ainda mais com o câmbio desfavorável ao real. “Nosso intuito é sempre atender nosso cliente da melhor forma possível, seja reduzindo o valor do equipamento quando possível, seja agregando valor a ele, incluindo vantagens que diminuam o gasto com manutenção no decorrer do tempo de vida do produto”, detalha Souza.
A Schottel mantém equipe atuando em países vizinhos como Colômbia, Argentina e Paraguai, focada em oportunidades de construção, retrofit e manutenção de embarcações. “Os preços oferecidos por países como China e Turquia são bons. E nossos vizinhos não têm a mesma política e impostos que protegem a indústria naval brasileira. Entretanto, temos encontrado oportunidades interessantes, principalmente no mercado de retrofit, onde conseguimos realizar upgrade das embarcações que já operam nesses países, além do mercado militar, que é muito forte na Colômbia”, conta Souza.
Ele lembra que a Schottel é um tradicional fornecedor para o mercado militar e se mantém atenta e participativa nos projetos para Marinha e Exército. No radar estão projetos como os das fragatas classe Tamandaré, do navio polar, navios-patrulha e futuras oportunidades que surgirem. Nos países vizinhos, a Schottel já é fornecedora do sistema de propulsão dos navios-patrulha em construção para a Marinha da Argentina.
A Schottel aposta em expandir serviços tecnológicos com o intuito de agregar valor à embarcação e diminuir custos relacionados à manutenção. A empresa conta com sistemas de automação e serviços marítimos, que fazem a integração entre a embarcação e sistemas computacionais através da internet, onde é possível coletar dados, analisar e monitorar constantemente a embarcação remotamente, enviando para o cliente esses dados e informando as manutenções necessárias, minimizando os custos e o tempo com docagens, além de automatizar operações on-board, controlando os componentes da embarcação e sinais recebidos no painel de bordo.
A Wärtsilä entende que o cenário de vendas é desafiador devido à escassez de novos projetos. A leitura é que o segmento de embarcações fluviais é o que está com maior perspectiva de negócios para 2021. Outras oportunidades estão em demandas de upgrades e retrofits em sistemas de propulsão. A fabricante trabalha com conceito de energy-saving devices, com soluções para ganhos de eficiência e redução de emissões e consumo de combustíveis.
O gerente de vendas da área marine da Wärtsilä Brasil, Mário Barbosa, diz que a falta de encomendas sempre preocupa, mas ressalta que a empresa atua em outras áreas. “A falta de grandes projetos, como estávamos acostumados anteriormente, dificulta o negócio da propulsão. Entre os existentes, brigamos para estar presente nos principais projetos. Não vivemos só de propulsão”, ressalta Barbosa.
Ele considera que ainda não é possível afirmar quando haverá demanda por novas embarcações de apoio offshore. Revela que a empresa tem encaminhado propostas de sistemas de propulsão junto aos players que participam de concorrências e projetos da Marinha. Barbosa explica que existem requisitos para esses sistemas, como baixo ruído, e a Wärtsilä tem histórico de entregas no exterior.
“Atendemos muitos nichos. Os que trabalhamos não estão demandando muito no Brasil. O cenário ainda é bem desafiador, mas temos esperança de que uma hora vai reverter. Se aumentar a demanda de embarcações offshore, já contribui bastante”, acrescentou. Ele avalia que ainda existe bastante incerteza dos projetos parados por razões macroeconômicas, logísticas e de infraestrutura “Queremos uma indústria forte no Brasil. Como empresa global, estamos prontos para dar suporte para clientes, qualquer que seja a decisão deles”, pondera Barbosa.
A Wärtsilä defende que a maneira mais eficaz e mais rápida de atualização e melhoria de eficiência é a hibridização. Barbosa diz que as embarcações têm sido projetadas pensando em índices de eficiência energética. Para navios de maior porte, existem incrementos de melhorias de escoamento da hélice e do leme, que prometem aumento de eficiência de um dígito pelo menos. Com o sistema Energo Profin, a Wärtsilä estima de 2% a 10% de melhoria em alguns cenários.
Em outubro, a Wärtsilä assinou um acordo com a CBO para instalar um sistema híbrido para aumentar a eficiência operacional de embarcação de apoio marítimo. A fabricante enxerga uma frota significativa de PSVs no Brasil, relativamente nova, com índice de tecnologia a bordo, a maioria movida a motor diesel-elétrico, e que pode ganhar eficiência com a hibridização. Segundo a Wärtsilä, essa será a primeira embarcação na América Latina com esse sistema de propulsão híbrido. Barbosa diz que existem conversas com outras empresas para outros tipos de embarcações de apoio. A solução também se aplica a navios de travessia, rebocadores portuários e navios-sonda.
Hoje existem ferramentas de manutenção dinâmica preventiva que permitem ao armador postergar a docagem. Sistemas baseados na operação analisam o que pode ser feito para incrementar eficiência, diminuir custos, sobretudo combustível, e custos ambientais. A Wärtsilä estima retorno do investimento em menos de um ano. “Existe margem para melhoria. Estamos em campanha forte para melhorias de eficiência energética nas embarcações existentes. Vamos focar bastante em 2021, enquanto grandes projetos não aparecerem”, projeta Barbosa.
O gerente comercial da Strauhs Equipamentos, Werner Hosang, lembra que havia a perspectiva de otimização da economia para o ano 2020, mas as prioridades de investimento por parte do governo mudaram, devido à pandemia, fazendo com que os clientes revisassem os planos de investimentos e de expansão. Ele ressalta que, como as solicitações de cotação de equipamentos têm sido frequentes, a empresa acredita que as projeções para 2021 levem a otimismo.
Quanto à navegação interior, a Strauhs avalia que o cenário mostra a crescente inovação nos tipos de embarcações que serão utilizadas no transporte de gás e também em unidades regaseificadoras que serão implantadas na região Norte. Essas embarcações trazem oportunidade para a empresa implementar seu modelo recém-lançado de propulsor portátil fora de borda, que promete melhores condições de navegação e manobrabilidade.
Nos últimos dois anos, a Strauhs tem realizado reparos e recuperação de hélices para sistemas de propulsão convencional e azimutais de clientes diversos, além de confeccionar eixos propulsores e hélices com fornecimento de buchas em bronze e não metálicas revestidas com elastômero, que a empresa voltou a fabricar. “Notamos que, neste período, houve acentuado aumento na reparação e recuperação de hélices”, diz Hosang.
A Strauhs avalia que preços nacionais mantêm-se estáveis devido ao custo da matéria-prima, que impede que haja discrepância nos preços de mercado. Tudo depende, porém, da qualidade do material e sua composição, com o qual a hélice será desenvolvida, cabendo ao cliente a opção de escolha. Hosang observa que muitas empresas priorizam o preço, descartando a qualidade. A Strauhs vê espaço para expansão de negócios em países vizinhos, mas a prospecção foi impactada devido à pandemia. “Houve a necessidade momentânea de aguardarmos um momento próximo. Os contatos que já mantivemos em diversos países nos indicam vasta possibilidade de implementação e expansão de negócios”, conta Hosang.
Ele revela que a empresa tem sido consultada com frequência para novos projetos, inclusive as fragatas classe Tamandaré, que serão construídas em Itajaí. A Strauhs tem a Marinha como cliente de longa jornada. “A exigência de conteúdo local nos abre oportunidade de sermos consultados por empresas internacionais para desenvolvimento de parceria, o que vem ocorrendo”, adianta Hosang.
A Navalsul classifica 2020 como um ano muito atípico e complicado. As restrições de viagens e deslocamentos acabaram impactando a performance de vendas de novos projetos e a revisão e readequação de vários projetos que estavam em andamento. “Ainda estamos bastante cautelosos quanto a 2021. Muita incerteza ainda paira no ar, principalmente devido ao BR do Mar (PL 4.199/2020), o que deve levar muitos operadores a usar barcos com bandeira estrangeira”, afirma o diretor da Navalsul, Francisco Strauhs Neto.
A empresa está focada na melhoria dos processos e da qualidade, visando entregar equipamentos acima da média, gerando maior rendimento, eficiência e economia. Neto diz que a Navalsul tem um dos maiores bancos de dados e conhecimento dos propulsores instalados em diversos segmentos, o que permite uma visão ampla das necessidades dos clientes e acompanhamento de perto da performance dos equipamentos. “Os mercados de navegação interior e apoio portuário continuam em operação normal. O mercado offshore ainda está muito retraído. Nosso foco vem sendo a navegação interior no Brasil, Paraguai, Equador e Chile”, explica Neto.
A Navalsul firmou parceria com fabricantes de caixas redutoras para ajudar na seleção de equipamentos e melhor performance. Neto destaca que a demanda de repotenciamento continua firme, com mudança de motores, caixas reversoras e hélices. “Nosso trabalho muito próximo dos clientes tem trazido resultados surpreendentes e animadores”, afirma. Já a demanda por manutenção e conversão se manteve estável.
Neto conta que a desvalorização cambial acentuada no ano passado fez com que os preços do mercado interno ficassem bastante competitivos. A Navalsul aumentou as exportações em 25% em 2020. “O mercado ajustou os preços no mundo todo, o que gerou um nivelamento mais saudável nos preços dos equipamentos”, destaca. Segundo ele, a empresa está retomando com mais força em mercados como Peru e Equador, que já foram importantes no passado. A Navalsul também se prepara para futuras contratações das embarcações da Marinha do Brasil, dialogando com potenciais parceiros internacionais e aguardando melhor definição das especificações dos projetos.
A Navalsul investe em uma célula robótica de usinagem de hélices que estará operacional até fim do primeiro trimestre, em parceria com a ABB. Outras apostas estão em novas ligas de bronze e desenvolvimento de processos mais enxutos e em melhor rastreabilidade de todo o propulsor. Neto diz que existem programas de cálculo e projeto de hélices com recursos CFD, alinhado a novas técnicas de usinagem para melhorar a precisão e a tolerância das hélices.
A Kawasaki Machinery do Brasil, filial do grupo Kawasaki Heavy Industries no Brasil, viu o mercado em compasso de espera, do primeiro ao terceiro trimestre de 2020, devido à pandemia. A empresa observa que, recentemente, alguns projetos de navios mercantes, como porta-contêineres, estão ativos na Ásia graças à alta taxa de afretamento. O coordenador na Kawasaki Heavy Industries, Alex Nakao, pondera que não há consultas promissoras vindas de estaleiros no Brasil.
A empresa está focada na comercialização do sistema de propulsão com zero emissão, como um integrador do sistema. Em 2020, a Kawasaki iniciou projetos utilizando propulsão por sistema de bateria pura e célula de combustível (FC). A empresa recebeu o primeiro pedido para um sistema de propulsão movido por bateria de grande capacidade para navios costeiros.
A Kawasaki também iniciou projeto de demonstração para a comercialização de embarcações equipadas com células de combustível de alta potência. Uma célula de combustível é um dispositivo eletroquímico que converte a energia química contida no hidrogênio em energia elétrica e água. Esse é o primeiro esforço do Japão para atingir zero emissão de CO2 usando hidrogênio para abastecer embarcações marítimas.
Durante 2020, a empresa realizou algumas docagens de navios com o propulsor Kawasaki instalado e vendas de peças para navios offshore. “Devido aos efeitos iniciais da Covid-19, diríamos que o ano passado, para a parte de serviços no Brasil, foi estável em comparação com 2019. Todos os serviços foram realizados, tomando as medidas de proteção adequadas e recomendadas para evitar a transmissão da Covid-19 e sempre respeitando as normas do cliente relativas ao assunto”, frisa Nakao.
A Macnor observa que, no mercado tradicional, poucos projetos de construção ainda resistem no Brasil. A empresa considera empurradores e balsas uma demanda muito específica para os mercados do Norte e Nordeste. Além desses, o projeto das fragatas classe Tamandaré em andamento, o projeto do navio polar da Marinha em fase de concorrência e a continuação da série de rebocadores do estaleiro Detroit (SC) para a Starnav e o segundo Wellboat em construção no mesmo estaleiro, mas para o mercado chileno. O gerente de vendas e de desenvolvimento de negócios da Macnor Marine, Pedro Guimarães, conta que a empresa tem auxiliado alguns estaleiros com propostas para possíveis construções, mas nada consistente no momento.
A representante tem estudado mercados alternativos que possam gerar construção ou grandes conversões, como o eólico offshore. A Macnor acredita que esse mercado está vindo com força ao Brasil. A empresa considera que, apesar de ter grande parte da produção nacional, a parte de logística, transporte e manutenção ainda é desafiadora e dependente de tecnologia externa. “A tendência por energia limpa de uma forma geral, que aqui por enquanto é uma tendência, no mercado europeu, já é exigência e condicionante para a maioria dos contratos de afretamento de, por exemplo, barcos de apoio”, projeta. Para a Macnor, o Brasil entrará, aos poucos, na Onda Green, o que vai gerar oportunidades de conversão de navios, principalmente na parte de propulsão convencional para híbrida.
A Brunvoll, principal marca representada pela Macnor, vem conseguindo contratos no exterior para navios aliviadores (shuttle tankers) que vêm operar no Brasil, além dos mercados eólicos, navios de turismo e pesqueiros. Guimarães ressalta que são boas oportunidades para a divisão de serviços e soluções de ciclo de vida, porém a venda inicial é feita principalmente em países asiáticos, como no caso dos aliviadores. Ele diz que o escopo de propulsão da empresa para rebocadores e navegação interior não é competitivo pela complexidade dos equipamentos.
Guimarães acrescenta que, como a Macnor tem presença grande em thrusters e propulsão principal de barcos de apoio marítimo, existem demandas recorrentes de reparos, ajustes e até maiores intervenções. “De dois a três anos para cá, temos direcionado nossos investimentos nessa área, contratando pessoal, nos estruturando mais para atender da melhor forma nossos clientes armadores”, destaca Guimarães. Também estão no radar conversões e projetos da Marinha.
Para o gerente de vendas e de desenvolvimento de negócios da Macnor Marine, a baixa quantidade de novos projetos gera aflição e afeta toda a cadeia. Guimarães alerta que, na prestação de serviço, acontece algo perigoso, quando os operadores não pesam o preço e a qualidade do serviço. “Prezamos por qualidade e esse ‘nervosismo’ de mercado nos faz recuar, às vezes, mesmo sendo competitivos, frente a preços baixos e qualidade duvidosa de alguns prestadores. Esse cenário desenvolve de forma negativa o Supply Chain do mercado de prestação de serviços”, avalia Guimarães.
A Thortech está focada na manutenção de embarcações existentes e projetos de retrofit de sistemas de propulsão lubrificados a óleo por sistemas lubrificados a água (mar ou fluvial). “Em 2020 tivemos um ano bastante bom, porém a maioria com manutenção. Poucos casos e novos projetos. Para este ano, temos expectativas de alguns projetos na área fluvial e de manutenção/retrofit”, projeta o diretor executivo da Thortech, José Fabio Camocardi.
O executivo diz que a empresa trabalha com uma linha premium de produtos, de valor agregado maior, porém com custo-benefício. “Não somos competitivos se os clientes apenas considerarem os preços, e não a vida útil dos produtos e o baixo custo operacional em relação a produtos concorrentes”, salientou. Ele contou que a empresa fechou uma nova parceria com representação para a empresa Masson, que fabrica reversores de médio e grande porte e sistemas de eixo propulsor de passo controlado (PCC).
A Thortech também atua nos mercados do Paraguai e do Uruguai. Camocardi conta que o Paraguai tem sido bastante positivo, ainda que no ano passado o volume de negócios tenha sido menor que em 2019, pelos problemas de pandemia e também de baixa histórica no rio, que diminuiu o volume de carga transportada. Na visão da Thortech, a utilização dos sistemas de eixos propulsores convencionais lubrificados/refrigerados à água (salgada/doce) para os projetos de eixo convencional ou passo variável são as principais soluções tecnológicas em desenvolvimento.
Camocardi também destaca os projetos de conversão de embarcações do sistema de óleo para água, foco da Thordon, outra representada. Ele explica que a utilização do sistema de água em vez de óleo vem apresentando um aumento de interesse dos operadores, pois esses sistemas têm custos operacionais menores, além de eliminar riscos de contaminação ao meio ambiente e paradas prematuras por danos em sistemas de propulsão causados por avarias, cabos e linhas de pesca.
A Kongsberg Maritime tem uma grande expectativa no aumento de pedidos de cotações em 2021. A empresa percebe que alguns projetos represados devido à pandemia estão finalmente entrando em compasso de retorno. O foco da empresa está em serviços, upgrades, retrofits em embarcações de apoio offshore e em novas vendas no mercado de navegação interior e rebocadores portuários, menos afetados pela Covid-19 e pelo impacto do preço internacional do petróleo.
“Novas tecnologias estão sendo disponibilizadas pela Kongsberg de maneira a melhorar a performance dos empurradores e rebocadores. Continuamos investindo em treinamento de nossos funcionários para um possível aumento de demanda em serviços”, diz o diretor de vendas para novos produtos da Kongsberg Maritime na América do Sul, Marcelo Gouvêa. Ele acrescenta que as manutenções foram represadas durante grande parte de 2020, mas, a demanda começou a subir exponencialmente ao final do ano. Além disso, os investimentos em melhoria de performance da frota continuam.
Com poucos projetos disponíveis no mercado, a Kongsberg percebe competição mais acirrada, além do aumento de pequenas empresas abertas por profissionais desempregados no mercado de serviços. A necessidade do cliente de reduzir custos operacionais contribuiu para os preços desabarem, o que pode inviabilizar negociação, já que são exigidos padrões ambientais, de segurança e de compliance. “Somos fortemente cobrados por essas demandas. As mesmas deveriam ser impostas às pequenas empresas de forma a equalizar a competição. Fechamos algumas parcerias estratégicas em serviços de maneira a adequarmos às demandas específicas de mercado”, defende Gouvêa.
A Kongsberg tem alguns clientes na América do Sul que constroem fora do Brasil, na Europa ou Ásia. Para eles, a empresa trabalha com suporte regional de forma a manter a qualidade do equipamento e a força da marca. O hub de serviços no Brasil atende a todos os países da América Latina. A restrição de viagem durante a pandemia demandou uma reorganização, com serviço remoto para atender a alguns eventos importantes. A Kongsberg também persegue projetos de embarcações militares, com parceiros estratégicos. O portfólio da empresa conta com equipamentos subsea para escaneamento do fundo do mar com altas resoluções e alcances.
A Volvo Penta South America avalia que, assim como ocorreu com todas as empresas em diferentes setores, a pandemia impactou os negócios do setor de motores marítimos comerciais e os da companhia em 2020. No período inicial da crise, o ritmo da atividade econômica caiu sensivelmente e os estaleiros e grandes operadores reduziram os investimentos e frearam a grande maioria dos projetos. “Com o fluxo de caixa comprometido, muitos clientes cancelaram novas aquisições e inclusive deixaram de promover o repotenciamento das embarcações, optando apenas por fazer a manutenção dos barcos, com o objetivo de equilibrar as receitas menores deste período com as despesas fixas”, conta o diretor comercial da Volvo Penta, Elpídio Narde.
Depois do crescimento de 3% em 2019, a Volvo Penta tinha expectativa de uma expansão de cerca de 5% em 2020. A previsão acabou se confirmando, apesar de todos os efeitos da pandemia na economia e da interrupção de projetos que já estavam em andamento em 2019 e seriam concretizados no ano passado. “Tivemos vendas de motores em diversos segmentos, com destaque para a propulsão de embarcações de pesca e de transporte de passageiros. De qualquer forma, foi um ano realmente desafiador”, resume Narde.
A expectativa é que 2021 seja um ano com ligeiro aumento na comercialização de soluções marítimas comerciais, considerando todas as marcas. A Volvo Penta espera recuperar as vendas dos projetos interrompidos por causa da pandemia. Narde conta que há estaleiros fazendo cotações e sinalizando a compra de novos equipamentos para o próximo ano. A empresa está atenta às novas oportunidades em embarcações de cabotagem e de pesca.
A Volvo Penta fornece motores de três a 16 litros, além de equipamentos para propulsão de embarcações, geração de energia e propulsores marítimos auxiliares, que são usados em diversas aplicações, como bombas para apagar incêndio, para recolhimento de redes de pesca ou dragar areia de rio, por exemplo. “Com esse posicionamento mais abrangente e o respaldo de um grande leque de ofertas, estamos presentes em vários segmentos, atuando no mercado como um todo”, destaca Narde.
Na avaliação da Volvo Penta, a demanda por serviço em 2020 experimentou um formato em “V”, com uma queda abrupta no período mais crítico da pandemia e uma elevação rápida na procura por manutenção ao final deste intervalo de tempo, que no Brasil foi do final de fevereiro até meados de abril. “Nossos representantes comerciais tiveram uma redução imediata em seu resultado operacional com a diminuição do uso das embarcações e, posteriormente, uma procura rápida com a abertura gradual da economia e o retorno dos barcos ao trabalho”, analisa Narde.
A Volvo Penta fornece soluções marítimas comerciais para a parte hispânica da América Latina, região que representa a metade dos negócios da empresa. Os principais mercados são o Chile e o Peru, países muito desenvolvidos nos segmentos de pesca, transporte de passageiros e também para as marinhas locais. No Chile, por conta das especificidades da geografia e da economia nacional, a empresa está presente em segmentos importantes, como a pesca de salmão e de corvina, o transporte de passageiros e de funcionários de empresas de um ponto a outro, e ainda na área de ferries.
No Peru, a Volvo Penta é fornecedora de soluções para embarcações de pesca e de turismo, também muito fortes localmente. A Volvo Penta tem tradição no atendimento aos estaleiros que constroem embarcações militares. Narde afirma que a empresa tem produtos adequados para uso pela Marinha do Brasil e pelas demais marinhas da região hispânica. Ele cita soluções para equipar embarcações militares de busca e resgate.
A Volvo Penta considera a eletromobilidade parte fundamental do futuro de sua linha de produtos. A empresa fornece os primeiros motores híbridos e elétricos, alguns deles já em uso comercial em alguns países da Europa e outros ainda em fase de protótipo. “Estas soluções vão gradativamente aumentar em número ao longo do tempo. Lançaremos ainda mais produtos híbridos e elétricos. É uma tendência global”, projeta Narde.
Em 2020, a Marine & Power Service (MPS) diversificou a oferta de serviços, incluindo equipe de hidráulica, além do desenvolvimento de potenciais novos negócios no segmento de mergulho, através da Marine Integrity Divers. “Considerando a expectativa inicial, não conseguimos os objetivos. Mas, colocando a pandemia nesta análise, diria que foi um ano positivo. Temos tido solicitação de todos os principais estaleiros, principalmente em serviços e venda de selos novos”, conta o diretor geral da MPS, Marcelo Vieira.
Desde 2017, a MPS intensificou a atuação nos segmentos de embarcações de apoio portuário e de navegação interior, com suporte da base em Manaus (AM). A empresa quer expandir sua atuação para a América Sul a partir de 2021, com atendimentos mais constantes aos clientes da região Norte. Vieira diz que, diferentemente de outros segmentos nos últimos anos, as atividades se mostraram crescentes inclusive com docagens realizadas em Belém (PA).
A demanda por serviços de manutenção permaneceu estável para a MPS nesse último ano. A perspectiva para 2021 é que haverá necessidade de execução imediata de manutenções programadas que foram adiadas e agora precisam acontecer. Outra percepção é que grandes players do mercado mundial estão se dando conta de que empresas nacionais de médio porte têm capacidade, expertise e qualificação técnica para realizarem os serviços com a qualidade exigida e custo mais baixo.