Método ‘sanduíche’ de preenchimento com elastômero já utilizado para reparos internos em embarcações vem sendo apresentado a estaleiros, principalmente da região Amazônica. Estudos indicam redução de custos a partir de menor demanda por aço.
A Metalock Brasil vem dialogando com construtores e armadores a fim de oferecer uma tecnologia de preenchimento de chapas de aço que servem como reparos internos definitivos e prometem ser alternativas ao uso de casco duplo na navegação interior. Além de conversas com empresas de cabotagem e de longo curso, a empresa, que representa a britânica SPS Technologies no Brasil, vem apresentando o tema a estaleiros, principalmente da região Amazônica. O gerente de desenvolvimento de negócios da Metalock Brasil, Silvio Alves, contou que, devido ao aumento do preço do aço, muitos clientes vêm procurando alternativas mais baratas para a construção de plataformas navegáveis, como chatas.
O processo SPS (Sandwich Plate System) consiste no preenchimento com elastômero, material que aumenta a rigidez e tem aplicação rápida, permitindo receber peso de 45 minutos a uma hora após a finalização. Alves explicou que a solução tem forte aderência e evita processos de solda e chamas durante o preenchimento de camadas de chapas, além de não trincar como concreto. Ele destacou que esse processo está dentro das regras de construção naval e é todo reconhecido como reparo definitivo por grandes classificadoras, como ABS, DNV e Lloyd ‘s Register.
Os estudos do SPS apontaram que o método reduz a espessura de aço necessária nos projetos, alcançando resistência a impactos próxima, ou até superior, ao do produto tradicionalmente utilizado pela indústria. Alves comparou que o uso da estrutura do SPS tem uma resistência em torno de 120 megajoules, ante resistência de 105 a 110 megajoules de cascos tradicionais, considerando a desaceleração do impacto quando o obstáculo penetra a estrutura da embarcação.
O processo pode ser utilizado desde navios a pontes e terminais portuários que têm estruturas de concreto, permitindo a união de chapas e a utilização em superfícies porosas. Na Europa, por exemplo, foram feitos reparos com essa tecnologia em estruturas de concreto de estádios de futebol, injetando elastômero. O método utiliza jateamento para retirar impurezas e artifícios de nivelamento e embarreiramento para inserir o produto nos vácuos, com espaçadores maiores para manter a chapa nivelada. A solução também utiliza vigas como pesos para manter a horizontalidade e evitar que a chapa se expanda.
Em navios mercantes, o SPS Overlay já é utilizado, por exemplo, em navios roll-on roll-off para retirar manchas de oxidação e nivelar estruturas como o convés. Alves disse que, a partir de estudos e ensaios recentes dedicados para a aquisição das certificações de classe, os técnicos perceberam que poderiam expandir as áreas de atuação desta tecnologia para a construção de embarcações de navegação interior. Alves explicou que a alternativa ao casco dupla amplia o espaço interno para transporte de cargas, como combustíveis. Ele estima que o custo de construção de uma chata pode ser reduzido em até 80%.
O gerente de desenvolvimento de negócios da Metalock acredita que esse poderá ser um diferencial para o país fabricar e exportar esse tipo de embarcação, invertendo o temor de estaleiros nacionais de perderem competitividade por conta do aumento do preço dos insumos e de eventuais políticas públicas que não venham a alcançar os estímulos esperados. Alves também destacou a redução de emissões de carbono e a menor quantidade de água utilizada para produzir toneladas de aço. “Ele [método] vai usar um oitavo da quantidade de aço que se usaria para construir convencionalmente. Sem oxidação, impactos e reparo de penetração. A assinatura de carbono cai porque não produzirá mais aço e não fará reparo de solda”, elencou. O case será apresentado em outubro, no 12º seminário internacional de transporte e desenvolvimento hidroviário interior da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena).