Para gerente do banco de fomento, setor naval brasileiro passa por fase de transição e ajustes em que precisa buscar novos modelos de negócio para deixar de viver ciclos de alta e baixa
O gerente de gás, petróleo e cadeia produtiva do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), André Pompeo Mendes, disse, nesta terça-feira (25), que o Brasil tem cada vez mais como desafio trazer novos nortes para a indústria naval e buscar nichos que deem sustentabilidade e atividades perenes ao longo das próximas décadas. Ele acredita que, se o país souber escolher nichos e fazer um programa de Estado que seja perene, a construção naval deixará de ser cíclica. Na visão do banco de fomento, a solução também passa por aumentar o escopo de apoio dos recursos do Fundo da Marinha Mercante (FMM).
A leitura do BNDES é que o FMM hoje apresenta um excesso de caixa e baixa demanda de novos projetos de investimentos, o que permitiria ampliar esse escopo sem prejudicar o apoio tradicional. Mendes mencionou que o fundo setorial hoje tem em torno de R$ 7 bilhões parados. Em 2019 eram aproximadamente R$ 20 bilhões, porém parte dos recursos parados foi destinada ao Tesouro Nacional.
Mendes destacou que, de 1999 a 2020, o BNDES apoiou a construção de 20 de petroleiros e de 135 embarcações de apoio offshore, segmento este em que os estaleiros nacionais alcançaram produtividade e competitividade, com lastro de contratos operacionais de longo prazo. Ele ressaltou que os contextos mudaram e que a indústria naval vem buscando alternativas para reativar as atividades, principalmente os estaleiros de grande porte.
“Talvez 2025 comece a ter demandas para construção de novas embarcações, porém feitas em cima de estruturas diferentes do passado. Uma possível retomada será feita em contextos diferentes. Desafios para o empreendedor e para o financiador”, afirmou Mendes durante painel do 29º Congresso Internacional de Transporte Aquaviário, Construção naval e Offshore, promovido pela Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena), no Rio de Janeiro (RJ).
Na ocasião, ele acrescentou que, apesar da curva de aprendizado e da redução de custos na construção de embarcações de grande porte e de plataformas naquele período, o setor ainda enfrentava dificuldades para competir com os baixos custos oferecidos pelos concorrentes asiáticos. O cenário atual é de queda no número de empregos na construção naval e de baixa perspectiva de novas encomendas no curto prazo.
Para o gerente do BNDES, o setor naval brasileiro está passando por uma fase de transição e ajustes em que precisa encontrar novos modelos de negócio sustentáveis. Segundo Mendes, existem novas oportunidades de negócios relacionados ao setor naval ou setores afins, além de práticas socioambientais e de governança (ESG) para atividades que o FMM poderia apoiar.
Entre as propostas de apoio com recursos do FMM listadas pelo BNDES está o financiamento aos gastos locais para aquisição, construção e integração de módulos de plataformas de petróleo. As expectativas são de entrada de operação de cerca de 30 unidades de exploração e produção entre 2021 e 2021, com investimentos domésticos entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões por ano a partir de 2021, além do incremento do número de embarcações de apoio.
O financiamento para desmantelamento de navios e de plataformas também está no radar do BNDES. Mendes disse que o banco de fomento identificou as demandas para financiar a retirada de embarcações e unidades de produção do mercado de forma ambientalmente adequada. Ele acredita que grandes consumidores de sucata, como Gerdau, Belgo Mineira e ArcelorMittal, poderiam ter acesso à linha de incentivo ao sucateamento.
Já para plataformas, existe um universo da ordem de 60 unidades em hibernação (lay up), das quais muitas não devem voltar a operar e são potenciais demandas para serviços de desmantelamento em estaleiros que atualmente estão ociosos. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) estima um mercado superior a R$ 25 bilhões para descomissionar em cinco anos.
O BNDES também estuda o financiamento para fabricação de navipeças, o que contribuiria para a desverticalização do setor e especialização da indústria fornecedora, com diversificação industrial de forma a mitigar riscos de descontinuidade em tempos de crise. O tempo de reparo e reposição de um equipamento nacional e assistência técnica tendem a ser menores. Outra frente avaliada, segundo Mendes, é o incentivo à construção ou modernização de embarcações mais eficientes e menos poluentes, como forma de fomentar o desenvolvimento tecnológico.