A implantação de novos empreendimentos traz perspectivas de incremento na geração de emprego e renda para o estado
A economia paraense costuma ser caracterizada pela predominância de atividades ligadas ao extrativismo, à agropecuária e ao comércio e serviços. Ainda que o estado conte com 7.964 industrias e empresas correlatas ativas, segundo cálculos da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), a produção local abrange sobretudo a demanda por commodities, ou seja, matérias-primas ou itens em pequeno estado de industrialização direcionados ao mercado exterior. Os anseios por projetos de verticalização dos insumos minerais e recursos naturais são antigos e a previsão é que esses planos ganhem forma com as perspectivas de que R$ 55,7 bilhões serão investidos ao longo de cinco anos.
As projeções são da plataforma Redes/Fiepa, que elenca projetos nos segmentos de infraestrutura, logística, mineração e óleo, gás e energia, com fábricas, terminais de transporte, ferrovias e áreas de exploração de recursos naturais. Entre eles, o investimento de maior porte deve ocorrer por meio da Petrobrás, que avança na estratégia de exploração de petróleo em águas profundas na Margem Equatorial. Somente a estatal deve destinar US$ 2,9 bilhões – equivalente a cerca de R$ 16 bilhões – para as ações nas bacias sedimentares da costa brasileira desde o Amapá até o Rio Grande do Norte, o que inclui o estado do Pará.
Recentemente, foi concedida licença para o Centro de Recuperação e Despetrolização da Fauna, localizado em Icoaraci, e que dará apoio às operações de perfuração simuladas que ocorrerão no estado do Amapá. A Petrobrás trabalha com a expectativa de perfurar o chamado Poço Morpho ainda no primeiro trimestre de 2023.
Porém, a estrutura produtiva do estado já está em transformação, conforme analisa Lutfala Bitar, presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (Codec). “Nos atuais Distritos Industriais, nos últimos quatro anos, foram implantados 24 empreendimentos, representando cerca de R$ 2,7 bilhões de investimentos e gerando cerca de 1.920 empregos diretos e cerca de 5.760 indiretos”, pontua Bitar, que destaca que esses são resultados de políticas públicas que atendem ao setor em aspectos como infraestrutura e oferta de incentivos fiscais.
Além disso, o presidente da Codec enfatiza a importância da iniciativa de retomada da implantação de distritos industriais (DI’s) após 40 anos. Nos DI’s, os empreendedores contam com infraestrutura adequada para instalação de empresas dos diversos setores em acordo com a vocação econômica de cada localidade. Atualmente, são quatro pontos estratégicos desse nos municípios de Ananindeua, Barcarena, Belém (Icoaraci) e Marabá. Outros quatro estão em fase de implantação nos municípios de Castanhal, Santarém, Breves, São João de Pirabas, além da Zona de Processamento de Exportações de Barcarena. Dentre eles, o primeiro a sair do papel será o da cidade modelo.
“O DI de Castanhal está previsto para ser implantado em 2 fases, sendo que a primeira está com o projeto executivo concluído, devendo entrar em licitação em breve para a contratação de empresa para a sua construção. A implantação do DI de Castanhal deverá gerar em torno de 7.200 empregos, entre diretos e indiretos, em 35 empreendimentos, em uma área de 143 hectares, localizada no km 4,5 da PA que liga Castanhal a Inhangapi. A estimativa é que o DI gere um impacto de até 19% no PIB do município”, adianta Lutfala.
Diante disso, o governo atua ainda junto às gestões locais em trabalhos de avaliação das cadeias produtivas existentes a fim de fomentar as vantagens competitivas e a atração de investidores. “Isso demonstra que a oferta de áreas em distritos industriais é uma política importante que efetivamente favorece a atração de investimentos, pois colabora de forma decisiva para a concretização do empreendimento”, frisa Bitar.
Superação de entraves pode ampliar desenvolvimento do setor industrial
Com a efetivação dos investimentos previstos, a expectativa é que as indústrias aumentem sua participação na economia local. De acordo com a Fiepa, atualmente o setor é responsável por 34,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado e por cerca de 180 mil postos de trabalhos diretos.
Dentro da estratégia de fomento a industrialização, o estado já possui destaque em segmentos ligados à mineração. Outro setor em evidência é o da construção naval, aproveitando o potencial dos rios navegáveis e da expertise amazônida na área. No distrito industrial de Icoaraci, por exemplo, encontra-se o estaleiro líder na fabricação de embarcações fluviais em todo o país.
O projeto recebeu incentivos fiscais de R$ 10 milhões da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) em 1999, além de que outros R$ 150 milhões de recursos próprios foram aplicados para ampliar a capacidade produtiva. O reflexo disso se deu na maior absorção de mão de obra com geração de 500 empregos diretos e cerca de 2.500 indiretos, bem como no incremento do atendimento das demandas do setor produtivo.
“O estaleiro tem capacidade de processamento de cerca de 24 mil toneladas por ano, na construção de barcaças e empurradores fluviais e oceânicos, portos flutuantes, rebocadores portuários, guindastes flutuantes, atendendo principalmente os segmentos do agronegócio, indústria mineral, transporte de combustíveis, apoio portuário e navegação de cabotagem, com ampla carteira de clientes regionais, nacionais e internacionais”, comenta Fábio Vasconcellos, diretor comercial do empreendimento e presidente do Sindicato da Indústria da Construção Naval do Estado do Pará (Sinconapa).
Avanços no setor são constantes
Apesar de já possui uma posição de referência no mercado, Fábio Vasconcellos afirma que os planos de expansão e os consequentes avanços no setor são constantes. “Nosso carro chefe, sem dúvida, são os comboios fluviais que operam em nossa região, mas cada vez estamos executando projetos de estruturas metálicas pesadas para a indústria mineral, embarcações oceânicas e rebocadores portuários. Recentemente, investimos na implantação de mais uma linha de lançamento de embarcações através de um dique flutuante e no aumento da capacidade de movimentação interna de blocos e peças”, complementa o empresário.
As perspectivas são positivas, contudo medidas estruturantes e de apoio ainda são apontadas como necessárias para que haja um cenário de pleno desenvolvimento das indústrias no Pará. “O nosso setor produtivo enfrenta cotidianamente diversos desafios que comprometem o seu desenvolvimento, e podemos citar alguns, como a falta de investimentos em infraestrutura, o confuso e burocrático sistema tributário brasileiro, a demora na concessão de licenciamentos ambientais, a competição com produtos de fora e a dificuldade de acesso a crédito para novos investimentos”, elenca José Conrado Santos, presidente da Fiepa.
Da mesma forma, Vasconcellos analisa que é preciso atenção do Estado brasileiro para o potencial do Pará e, por isso, ele defende que iniciativas como as operações na Margem Equatorial, o derrocamento do Pedral do Lourenço, a consolidação dos corredores do Arco Norte e a implantação da Ferrogrão saiam efetivamente do papel.
“Estes projetos ligados à indústria de óleo e gás e ao agronegócio, já tem atraído bilhões de reais em investimentos e ainda tem potencial incalculável de atração de bilhões em investimentos, com a geração de centenas de milhares de empregos locais, geração de renda e tributos inéditos na história paraense. Toda a sociedade paraense deve unir esforços com o governo estadual para a efetivação destes empreendimentos que mudarão a história do Pará”, destaca.
“A verticalização das principais matérias primas e cadeias produtivas é o nosso principal objetivo, pois assim multiplicamos e internalizamos emprego e renda. O Pará, como sabemos, tem destacada produção de minérios, frutos, proteínas animais e vegetais e tem o desafio de gerar cada vez mais condições de atrair investimentos privados, para desenvolver projetos que proporcionem mais desenvolvimento e riqueza localmente. O Pará dispõe de água em abundância, energia de fácil acesso, áreas incentivadas, vias de escoamento rodoviário, fluvial, aeroviário e marítimo, além de projeto ferroviário. Certamente, há muito potencial para esse crescimento”, completa Lutfala Bitar.