O Amazonas tem historicamente um dos mais tradicionais polos de construção naval do país. Com características específicas em relação a parques construtores de outras regiões do Brasil, o estado tem estaleiros de diferentes portes e um grande potencial de geração de renda e empregos. Nos últimos anos, a cadeia de suprimentos no país vem buscando vencer os desafios de deslocamento na região Norte e entender melhor as demandas e particularidades do mercado local, que atende embarcações de carga, de passageiros e de serviços.
O faturamento anual do polo naval do Amazonas atualmente está abaixo dos mais de R$ 2,5 bilhões registrados em anos recentes, considerando todo o setor de construção e de reparos nos segmentos do aço/alumínio e compósitos. Segundo dados econômicos extraídos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Fundo da Marinha Mercante (FMM) e da Secretaria de Fazenda do Amazonas (AM), este valor flutua em torno de R$ 1,02 bilhão, oriundos do setor do aço e do alumínio no estado.
Militante da indústria naval do estado, Mateus de Oliveira Araújo observa que todos os estaleiros grandes estão com obras para 2023 e para 2024, construindo para o ‘Arco Norte do Grão’. O estaleiro Beconal se destaca por construir para a Bertolini Logística, empresa do mesmo grupo, principalmente rebocadores e balsas para transporte de soja.
Além do Beconal, o DMN, Eram, Hermasa e Juruá constituem as principais instalações de grande porte. Os estaleiros Bibi, RNA, Mady, Monteiro e Moisés situam-se como de médio porte. Os demais, de pequeno porte, totalizam em torno de 45 unidades, espalhados pela orla da cidade de Manaus, gerando em torno 8,3 mil postos de trabalho direto e outros 10 mil indiretos, com salário médio de R$ 3.850,00 para soldadores. Araújo acredita que, devido às particularidades regionais, a pandemia não prejudicou a produção dos estaleiros locais nos últimos anos. Segundo ele, todas as atividades de trabalho seguiram protocolos de segurança da saúde laboral para mitigar os efeitos do vírus.
Araújo é ex-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Naval, Náutica, Offshore e Reparos do Amazonas (Sindnaval). Para ele, a indústria naval mundial não foi tão drasticamente afetada, por ser muito dinâmica e por viver sob uma forte vigilância sanitária instalada dentro das unidades fabris. “Aqui no Amazonas não foi diferente, onde nem se percebeu a mínima redução do quadro laboral dos estaleiros por conta do vírus, setor este onde não houve registro de morte. E continua funcionando bem nos seus quase 8,3 mil postos de trabalho, só em Manaus”, destaca.
As encomendas são voltadas para embarcações para transportes de passageiros (ferry-boats) e de carga, segmentos que transportam até 1,7 mil passageiros e 15 mil toneladas de carga/dia. Outro nicho é o de balsas para o transporte de derivados claros para toda Amazônia ocidental, com novas tecnologias de serpentina circular térmica movidas por uma caldeira a diesel, que recebe a emulsão a 120 graus, e entrega na mesma temperatura no destino. Além de balsas de transporte de combustível e empurradores.
Araújo conta que a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), juntamente com o governo do estado, estão tratando da retomada da implantação do primeiro polo naval com regulamentação de normas regulamentares e ambientais do Brasil. Nesse escopo, está sendo criada uma agência de regulamentação, nos moldes da Suframa, para o setor da indústria naval do estado, com expectativa de ser iniciada ainda em 2023. “Já demos os primeiros passos com a criação pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), do curso de Engenharia Naval, que já colocou no mercado de trabalho regional, mais de 25 novos profissionais e outros 60 tecnólogos da área naval formados pela universidade”, ressalta.
Ele diz que o governo federal incentiva os sindicatos patronais a serem agentes de desenvolvimento regional, com o associativismo criado para os profissionais dos sindicatos patronais, com cursos, aperfeiçoamento de gestão patronal e seus recursos de forma mais profissional. Segundo Araújo, isso tem reflexo na economia produtiva, que estimula o sindicato a ir em busca de feiras setoriais, oportunidades oferecidas pela Apex e por outros agentes de desenvolvimento, bem como a busca pelas encomendas no mercado nacional e, até mesmo, internacional.
Araújo acrescenta que representantes do Sindnaval participam de feiras no exterior desde 2014. “Essa visão empreendedora do Sindnaval foi decisiva e serviu para outros sindicatos tomarem as mesmas atitudes empreendedoras no mercado local de Manaus, que é uma das mais importantes indústrias navais do Brasil”, afirma.
Ele destaca que a malha hidroviária no Amazonas beira os 26 mil quilômetros de rios navegáveis e possui um enorme potencial de desenvolvimento. Araújo vê o Sindnaval e seus parceiros institucionais preparando o Amazonas para ter uma indústria naval fortalecida e diversificada, ofertando produtos de qualidade para o mercado nacional com os incentivos da zona franca, que permitirá, pelo sistema de drawback de mercadoria exportar produtos partindo de Manaus para o mundo.
Araújo considera que a primeira edição da Navalshore no Amazonas será importante para lembrar que ainda existe muito a se desenvolver e a aprender com experiências compartilhadas pelas feiras. “Certamente que a presença da Navalshore-AM proporcionará uma visibilidade positiva à nossa indústria naval, trazendo para os olhos do mundo a nossa vantagem de termos águas abrigadas, incentivos fiscais e a importação de produtos de navipeças e equipamentos satelital de comunicação para as embarcações brasileiras e internacionais acobertadas pelo regime do BR do Mar”, diz Araújo.
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti) do Amazonas apoia a edição local da Navalshore, em Manaus, por considerá-la extremamente importante para este segmento industrial tradicional da região, dada as suas características hidrográficas. A afirmação é do secretário da pasta, Pauderney Avelino, que destaca o potencial do setor, que é fundamental à logística amazônica, onde diversas localidades somente são acessadas por meio da bacia hidrográfica.
Para o secretário, a feira auxilia na atração de fornecedores da cadeia de suprimentos para se instalem e produzirem em Manaus, reduzindo seus custos e interagindo com o mercado regional. “A feira contribuirá fortemente para a criação de um cluster da indústria naval, especialmente por conta dos incentivos fiscais aqui existentes, disponíveis para serem usufruídos pelos novos investidores”, diz Avelino. Ele considera que o polo naval é muito consolidado na região e tem um enorme potencial de crescimento para os próximos anos.
Muitos fornecedores de equipamentos navais — como motores, sistemas de propulsão e de comunicação, serviços especializados para a indústria naval, logística e navegação — que estarão presentes na feira já possuem instalações ou estrutura de suporte na região Norte. A Navalshore Amazônia tem o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de negócios e potencialidades da indústria naval fluvial amazônica, além de propor sinergia com o segmento marítimo.
A feira terá fornecedores da indústria naval direcionada ao transporte fluvial e à cadeia logística do Amazonas e dos demais estados do Norte, reunindo navipeças, estaleiros, armadores e terminais portuários. A Navalshore Amazônia é organizada pela Navalshore Organização de Eventos e tem como principal parceira a revista Portos e Navios.
Para o diretor da Ghenova Brasil, Frederico Cupello, o momento é positivo para a feira, visto que a perspectiva de crescimento da área naval na região amazônica é a melhor possível. Ele salienta que esse é o modal mais viável para a região, seja para transporte, seja para escoamento da produção agrícola, seja para a movimentação logística de novos setores que vêm sendo explorados na região, como o caso do mercado de gás. “Sabemos que um dos gargalos do Brasil para o crescimento é a questão logística e de infraestrutura, e o fomento do transporte fluvial na região é crucial para construção de uma saída para este problema”, destaca o diretor.
De acordo com Cupello, ainda há a perspectiva de exploração de óleo e gás na Bacia do Amazonas, o que cria um mercado novo na região e faz com que a cadeia de fornecedores, prestadores de serviço e estaleiros precise estar preparada para absorver a demanda que será gerada. A região da margem Equatorial é vista como nova fronteira para projetos de exploração e produção dos combustíveis fósseis, o que esbarra em desafios ambientais.
Entre seus serviços e projetos no mercado naval, a Ghenova dará destaque às experiências em projetos conceituais, básicos e de detalhamento para barcaças, empurradores, ATBs (empurradores oceânicos articulados), lanchas, terminais, estudos portuários e soluções logísticas.
Cupello informa que a Ghenova ocupa um estande em conjunto com o Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro (CTN-RJ), iniciativa do setor para fomentar as atividades do mercado naval e a interação entre empresas, academia e poder público. “Há alguns anos, a companhia participou do Cluster e ele tem aportado um grande valor na retomada dos negócios para o setor. E com a Navalshore-AM este ano, não poderíamos estar de fora, já que o mercado naval na região é pujante e de suma importância para diferentes setores econômicos do país”, ressalta o diretor da Ghenova.
Fornecedores da indústria naval que atuam na região Norte observam que, apesar dos reflexos da conjuntura econômica sobre a atividade nos últimos anos, os principais estaleiros locais em operação possuem demandas e potencial de aumento de encomendas para construção de novos empurradores, balsas ou terminais. No Amazonas, Eram e Juruá se mantêm com demandas do segmento de transporte de combustível. Já o Beconal acompanha o aumento da frota do próprio grupo (Bertolini) para transporte de grãos.
A diretora administrativa do estaleiro Juruá, Déborah Camely, considera fundamental que a Navalshore aconteça no norte do país para aquecer o setor da indústria naval na região amazônica, viabilizando discussões de novos rumos com foco na apresentação de alternativas e soluções para o escoamento da produção através dos rios. “Acreditamos e apoiamos iniciativas como a Navalshore que fomentam o setor e a economia como um todo. Pretendemos criar um ambiente de negócios, permitindo networking e apresentando nossa capacidade de projeto e produção”, destaca.
O estaleiro Juruá pretende apresentar soluções inovadoras para a construção de grandes terminais de granéis, desenvolvimento logístico fluvial de distribuição do gás natural e liquefeito na região Norte. O estaleiro vem viabilizando a logística na região Norte do Brasil por meio da produção e entrega de artefatos customizados em aço, com uma capacidade de produção de mais de 20 mil toneladas de aço por ano, em um parque fabril coberto de 100 mil metros quadrados e investimentos contínuos em tecnologia e no corpo técnico.
Déborah destaca que o Juruá é especializado em projetar e construir terminais portuários, cais para transbordo de contêineres, catamarãs para transbordo de granéis sólidos e líquidos, balsas de transportes de granéis líquidos e sólidos, balsas de carga geral, empurradores, rebocadores entre outros projetos exclusivos. Além de serviços de manutenção com docagem, vistorias e reparos em geral.
Para Heron Alfaia, CEO da Importadora Alfaia, o mercado naval tem uma importante perspectiva de crescimento em 2023 e, com a feira, a expectativa é grande para atrair novos clientes e debater mais sobre o setor. “Essa é a primeira vez que acontece esse evento em Manaus e isso é muito importante. Temos diversos estaleiros, milhares de embarcações e o principal meio de transporte na região é o fluvial, ou seja, esse segmento na região é muito grande”, comenta. A Alfaia vai expor motor de popa, equipamentos de navegação como holofotes, direção hidráulica, radares, GPS, entre outros itens.
A AkzoNobel também tem expectativas positivas para negócios direcionados ao transporte fluvial e à cadeia logística. O gerente regional de vendas da AkzoNobel, Hudson Martins, acredita que a região amazônica reúne ótimas perspectivas de crescimento para os próximos três anos, principalmente com a modernização da frota local de embarcações fluviais.
Mesmo com a presença de grandes estaleiros e de uma frota expressiva de embarcações fluviais, Martins vê a região Norte ainda muito carente de feiras e exposições. “A Navalshore é uma oportunidade para expandir os negócios na região e divulgar as marcas que estarão expostas, respeitando as características locais devido ao tipo de clima e à navegação específica em rios que se diferem das navegações em mar”, destaca Martins.
Para o futuro, a empresa pretende expandir por toda a região Norte por meio de novos representantes e novas revendas, incluindo os estados Acre, Amapá e Tocantins. “A AkzoNobel, por meio de sua marca International, estará presente na Navalshore expondo seus produtos sustentáveis de alta tecnologia para pinturas marítimas”, comenta Martins.
A Cummins Brasil e seu parceiro, o distribuidor Noroeste Máquinas, responsável pela distribuição de produtos e serviços nos estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre, marcarão presença na edição de estreia da Navalshore Amazônia. Para Carlos Silame, gerente de desenvolvimento de negócios marítimo, ferroviário e óleo e gás da Cummins Brasil, e Tercio Santos, gerente de negócios do distribuidor Cummins Noroeste Máquinas, a iniciativa é importante para reunir a indústria naval fluvial, tendo em vista o potencial de crescimento.
“Para esta primeira edição, com bastante otimismo, o objetivo da Cummins e do distribuidor Cummins Noroeste Máquinas é mostrar que estamos preparados para atender com excelência este mercado. Iremos expor os motores consolidados neste mercado por sua robustez, durabilidade e confiabilidade, para que outros potenciais clientes vejam de perto essas obras de arte da engenharia”, destacam em nota.
Para os gerentes, a feira oferece oportunidades de negócios e atualização com os principais e mais importantes players deste setor. A Cummins e o Distribuidor Noroeste visualizam oportunidade para reforçar suas marcas, a qualidade em atendimento e disponibilidade de peças para o setor naval, além da possibilidade de reunir em um só lugar os principais fornecedores do mesmo segmento, como estaleiros e fornecedores de sistemas de propulsão, compartilhando conhecimento e expectativas.
A Reintjes, fabricante alemã de reversores e redutores marítimos, está otimista com sua participação na maior feira de indústria naval da América Latina. De acordo com Lucas Sass, coordenador da filial de Manaus da companhia, a Navalshore traz uma visibilidade importante e ajuda no desenvolvimento do mercado local, capacitando e aproximando mais ainda os fornecedores, clientes e parceiros. “Esperamos que a feira seja uma oportunidade para fortalecermos nossa marca e ampliarmos nossos negócios na região Norte, mostrando ao público também a estrutura que a Reintjes do Brasil dispõe na filial Manaus, com estoque próprio de peças sobressalentes e reversores, técnicos próprios e especializados, além da equipe comercial altamente capacitada para agregar aos projetos de forma personalizada”, destaca Sass.
Ele destaca que a região Norte é muito rica em recursos naturais e possui uma grande quantidade de rios e hidrovias navegáveis, tornando-se atrativa e com potencial estratégico de desenvolvimento em todas as áreas, principalmente, a naval. “Entendemos que a região está em desenvolvimento e por isso precisa ter bons prestadores de serviço, que correspondam à altura a necessidade local, prestando um atendimento técnico e personalizado aos clientes”, analisa.
A ICM Metais apresentará em seu estande soluções de proteção catódica para embarcações e estruturas submersas. Entre os destaques estão o equipamento “Anti-Fouling System” (um sistema de proteção anti-incrustante) e o sistema de proteção por corrente impressa, que proporciona maior eficiência e menor consumo de energia, além de reduzir o impacto ambiental. “Estamos animados para participar do evento e mostrar como nossas soluções contra a corrosão podem ajudar a aumentar a vida útil e a eficiência das embarcações e das estruturas submersas”, afirma o gerente de produção da ICM Metais, Luiz Freire.
A indústria naval fluvial na região Norte do Brasil oferece uma grande oportunidade para empresas como a ICM, que fornece anodos de sacrifício. Essa região possui uma extensa malha de rios navegáveis, onde o transporte fluvial é amplamente utilizado para o transporte de cargas e pessoas. Com o aumento da produção e exportação de commodities na região Norte, a demanda por transporte fluvial tem crescido, aumentando a necessidade de proteção contra a corrosão em embarcações — é um mercado em alta expansão na região.
A Mitsubishi Marine estará na feira com seu novo distribuidor, Riomor Naval. Para Rodrigo Teixeira, líder da divisão marítima da Mitsubishi, o evento chega em um momento oportuno devido ao potencial de crescimento dos negócios marítimos. “Nesta área de negócios é fundamental a proximidade com o cliente para mostrar a importância de um pós-venda de excelência. Ele requer nosso olhar atento, uma vez que a logística de exportação também tem migrado para a região Norte”, avalia Teixeira.
Para ele, a navegação fluvial na região Norte tem grande potencial de crescimento de motores a diesel da marca e, também por esse motivo, concentra grande parte dos negócios da Mitsubishi Marine. O diretor avalia que o estilo de navegação de grandes deslocamentos do Rio Amazonas é semelhante ao do Rio Mississippi (EUA), onde a companhia se estruturou. Teremos excelentes oportunidades de negócios e contato presencial com os principais clientes do setor”, projeta Teixeira. A fabricante vai aproveitar a feira para mostrar a sua linha de motores marítimos comerciais pesados.
“Acreditamos no sucesso desta motorização para atender nossos clientes na região Norte do país. Temos motores em conformidade com a EPA e com a IMO, sendo todos motores mecânicos. Normalmente, oferecemos 20% ou mais de cilindrada do que a maioria dos nossos concorrentes. São recursos que tornam os motores de propulsão Mitsubishi adequados para muitas aplicações pesadas, como rebocadores, empurradores, embarcações de pesca e balsas de passageiros, entre outros”, destaca Teixeira.
A Thortech, distribuidora exclusiva de multinacionais como Thordon Bearings, Namjet e Teignbridge, aposta em equipamentos e produtos de demonstração como mancais para eixos propulsores, selos mecânicos e vedações. O diretor-executivo da Thortech, José Fábio Camocardi, diz que as expectativas para o evento se dão, principalmente porque a empresa enxerga um grande potencial de crescimento na navegação fluvial. “Atualmente, nosso maior potencial de negócios está na navegação fluvial, sendo essa região o maior polo consumidor. Entendemos que essa feira tem grande importância para a navegação regional em toda a Amazônia”, afirma Camocardi.